Reportagem Festival Barreiro Rocks 2009
Volvidos 9 anos desde o seminal Pachuco Fest, eis que o Barreiro recebe nova edição do festival mais aguardado por roqueiros de todas as estirpes.
Cidadãos pacatos, amantes da ordem e dos bons costumes abstenham-se de ler as próximas linhas. Falamos do fim-de-semana de concertos que já reuniu à beira-rio nomes tão sortidos como Billy Childish, Gallon Drunk, Black Lips, Speedball Baby, Andre Williams e os magníficos Goldstars ou mesmo as participações portuguesas de Vicious 5, Legendary Tigerman e Parkinsons. Posto tudo isto, senhoras e senhores, 11 e 12 de Dezembro foram as noites do irredutível Barreiro Rocks, versão 2009.
Dia 11
O "estágio" tivera já início com a exposição de pintura psicadélica de Bruno Contreira, e também no bar Alburrica com o habitual DJ Shimmy, directamente de New Jersey para a alfândega da Portela, onde não lhe confiscaram as malas cheias de apetitosos 7 polegadas.
Mas coube aos Singing Dears, também na qualidade de anfitriões, a honra de partir o champanhe inaugural nos Ferroviários do Barreiro. Rock bem "garageiro", sempre a piscar o olho a Detroit, com o maestro Nick Nicotine na bateria a transmitir toda a fúria de Thor aos seus comparsas. Com "Come along with me" já a rodar em algumas rádios, é de ficar atento à "banda que há um ano não existia".
Competia agora aos Destination Lonely a dupla tarefa de não deixar arrefecer os ânimos e de refutar aqueles que ainda pensam que os franceses não nasceram para o rock. Talvez com um toque mais bluesy do que o apresentado três anos antes, ainda com os Fatals, agitaram as hostes com o seu ataque duplo de guitarras. Pausa para o eterno cicerone do festival, o melífluo crooner Vieira, apresentar ao som de "Delilah" uma das bandas mais esperadas da noite.
Tokyo Sex Destruction é um nome que já dispensa apresentações, passados cinco anos, quatro discos e um impressionante número de concertos desde a primeira passagem por Portugal. Os ânimos começam, sem dúvida, a aquecer com este quarteto, exímio no revisitar do espírito garage e da soul dos anos 60. JC Sinclair é mais um vocalista que não resiste à tentação de se pendurar nos espaldares do pavilhão dos Ferroviários, embrenhando-se na plateia que prontamente se fez ouvir através do seu microfone. Sem dúvida, um dos momentos da noite.
Hora dos cabeças de cartaz. Longe vão os tempos dos Gun Club, Cramps e Bad Seeds, mas não foi isso que impediu Kid Congo Powers e os seus Pink Monkey Birds de recuperarem clássicos como "Sex Beat" ou "Goo Goo Muck", enquanto faziam desfilar temas do mais recente trabalho "Dracula Boots". Tudo envolto num clima de rumba e com Kid Congo a espicaçar a festa, com requintes de toreador. A rever num ambiente mais luminoso.
Fôlego ainda para a after-party onde D-66, homem-orquestra londrino, e os míticos Los Santeros fizeram de tudo para não embalar no sono os últimos resistentes. Amanhã há mais.
Dia 12
E começa bem, a acelerar desde Alcobaça, com os Shake Shake and Show me Your Pussy. Boas malhas à la Black Rebel Motorcycle Club e refrões electrizantes, sem se deixarem intimidar com esta passagem para um palco maior. Os Gift já têm concorrência no mapa. Os barreirenses Sullens continuam o rodeo com o seu country-punk bem regado a Jack Daniels, brindando ainda o público com uma versão frenética de "T.V. Eye" dos Stooges.De Espanha, chegam-nos Jon Ulecia & Cantina Bizarro, reduzidos a trio por "lesão" do guitarrista Dani Ulecia. Dignos representantes do ecletismo australiano dos Birthday Party ou Kim Salmon, nada os impediu de embarcar numa viagem mais íntima, mantendo um pouco o ambiente country e baladeiro, que interrompiam sempre que possível com descargas imprevisíveis e sempre bem-vindas de fúria.
Ambiente perfeito para a entrada de Tav Falco, o renegado do psychobilly, e a mais recente encarnação dos Panther Burns, que seduziram os presentes com a sua reciclagem de standards do rock n' roll. Com direito a dançar o tango com uma das coristas, Falco transformou durante cerca de uma hora o velho pavilhão num cenário de baile de liceu, daqueles que se vêem no "Enchantment Under The Sea Dance" do "Regresso ao Futuro".
Quem não esteve para melodias açucaradas foram os barcelenses ALTO!, que não "pararam o baile" na after-party, com a táctica bem definida para pôr pescoços mais frios a mexer e pulverizar os tímpanos incautos. Uma das melhores actuações de todo o festival.
São 5 da manhã... Os Los Chicos ainda vão tocar. Mas há dúvidas? Festa rija até de manhã, com nuestros hermanos de Madrid, já batidos nestas andanças, a premiarem os bravos que ficaram até ao fim.Prémio também para a longevidade deste festival, que tem vindo assiduamente a trazer para o "deserto da Margem Sul" nomes que dificilmente se veriam em qualquer outro ponto do país.