Reportagem Festival NÁICE!
Festival NÁICE! - Fotos
19 de Novembro, dia de início da cimeira da NATO em Lisboa. Nada melhor que pôr-me de lá para fora assim que possível - eram isto cinco e meia da tarde, num comboio, sem exagero, com 20 carruagens, para compensar a deficiência no resto dos transportes. Assim, com um tempo de meter medo e que fazia esquecer o calor de Verão que hoje à noite esperávamos voltar a sentir, pés ao caminho do Porto, em direcção ao NÁICE!.
O propósito do festival é simples, não deixar esquecer aqueles três dias [ainda] inexplicáveis que se viveram em Barcelos em Julho que passou. À entrada, para os mais sortudos (acho que fomos todos), as sobras das t-shirts do Milhões de Festa eram distribuídas gratuitamente assim que éramos carimbados com o bonito logótipo da nova iniciativa da Lovers & Lollypops, para minutos depois se transformar num borrão azul.
O Plano B, local escolhido para o evento, ia-se compondo, nunca ficando totalmente lotado. Se os Fucked Up em Lisboa tiveram uma sala aconchegada, o Porto deu-lhes espaço, mas um companheirismo característico do norte. Áqueles que se atreveram a apontar simplesmente o aspecto de “Pink Eyes”, ponham os olhos no resto da banda – moços bem-apessoados e uma baixista a dar toques de português. Deu-se início à música com algum atraso e small talk pelo meio. Son the Father deu o tiro de partida para uma noite de punk simpático, de pessoas a voar e – surpreendam-se – cowdsurfs do robusto vocalista. Na setlist não ficou esquecida Black Albino Bones, Twice Born, nem Crooked Head. Os acontecimentos em Lisboa trouxeram também problemas aos canadianos: ao aterrar em Lisboa, foram encaminhados para a sala de segurança do aeroporto por terem um ar “diferente”. Nem os seguranças perceberam porque é que os Arcade Fire os tinham escolhido para a abertura do concerto que, para mal ou para bem dos nossos pecados, acabou por ser cancelado. Justifica-se tão simplesmente com bom gosto.
Três guitarras em palco – de aparência pacata e muito sossegados por comparação -, uma máquina atrás da bateria, um baixo desenrascado e um vocalista carismático foram a receita para uma noite de festa, enquanto Damian se passeava pelo meio do público, gritando na nossa cara e carregando uns quantos inocentes ao ombro. As roupas foram ficando pelo caminho, para desnudarem a tatuagem de Down que ostenta ao peito.
Num teste de escolha múltipla, os nortenhos decidiram não optar entre Nirvana ou Ramones, e escolher livremente Black Flag para um quase fecho daquilo a que realmente se pode chamar de punk nos dias de hoje. “Nervous Breakdown” foi a música que a banda escolheu.
A terminar um concerto “f*dido” poesia declamada pelo peso pesado do Canadá, “peace or anihilation” em resumo. Dão então início à tour com os Arcade Fire, que ainda não conhecem nem sabem como abordar.
Depois disto, as cortinas da Sala 1 fecharam-se para a montagem do cenário dos Throes. Duo que se julgava em coma desde Julho e que reapareceu para um revival, de pés no chão e rodeados de um público, agora, tímido. Além do singular EP Dirty Glitter ter sido tocado na integra com algumas alterações na extra Killing Tomatoes, deu-se ainda espaço a dois temas novos, “We Die in Texas” a abrir e uma africanísse chamada “Pink Dracula”, possível causadora de surpresas que viriam a surgir ao longo da noite.
Na Sala Cubo, tocam agora os The Shine, também ex-hóspedes do palco da piscina no Milhões. Hardcore e Kuduro numa noite, não é para quem pode (já dizia Damian dos Fucked Up), é para quem vê as duas faces da moeda. Dançou-se, com Diron e André do Poster que também se misturavam com o público. Breakdance antes de haver vidros partidos no chão, deixaram o terreno do Cubo bem apalpado para o francês exótico que se lhes seguiria.
Ao mesmo tempo, Lovers & Lollypops Soundsystem, agora estilizados L&L SS, faziam a sua cena na sala ao lado, havendo uma divisão equilibrada no que diz respeito a mancha gráfica de público. Durante boa parte da noite, até ao fim, na verdade, Nuno Dias e André, com aparições ocasionais de Joaquim Durães (o patrão de todas estas coisas que acontecem) foram dizendo adeus a quem já mal aguentava esta noitada depois de uma semana de trabalho.
Myd, francês cujo bigode encaixa perfeitamente nas descrições de Conan O’Brien, assumiu o topo dos televisores e o ritmo manteve-se. Uma tropicália de sons que gradualmente foi perdendo ouvintes, mesmo depois de Train to Bamako ter sido tão publicitada.
Não sabemos ao certo o que aconteceu aos Sun-Explosion. Já não estávamos lá para ver, porque também a nós nos dá o cansaço (parecendo que não), mas conclui-se que a noite foi das boas.
Ainda não se desvendou nada sobre o próximo Milhões de Festa (sabemos que há, no entanto), ou sobre o próximo NÁICE!.
Sabemos que queremos estar lá outra vez.