Reportagem Festival Noites Ritual 2009
A comemorar o 18º aniversário do Noites Ritual, o Porto contou este ano com um dos melhores cartazes das últimas edições. Para palcos nacionais, nomes fortes como Mão Morta, Dead Combo, Deolinda e Foge Foge Bandido constam do cartaz e fazem fila à entrada do Palácio de Cristal, ainda antes da hora prevista para o início dos concertos. Seis bandas por dia, divididas por dois modestos palcos foi aquilo que por 18 vezes vimos nos Jardins.
28 de Agosto
A inauguração deste ano ficou a cargo de One Man Hand, a abrir o Palco Ritual para o ainda pouco e quieto público. O The Legendary Tiger Man vindo directamente de Esmoriz contou com algum rock e blues à mistura em temas como “We’re All In The Same Boat” e mais 20 minutos de outros, a contar com a participação de Xinas dos The Chargers no contrabaixo para finalizar.
Sobe-se a rampa até Manel Cruz. Depois do concerto em Paredes de Coura, os Foge Foge Bandido participam em mais um festival da terra natal. Distribuída entre “O Amor Dá-meTesão” e “Não Fui Eu Que Te Estraguei”, a setlist levou ao rubro os muitos fãs que ocupavam a primeira fila. "A Dor de Ter de Errar", "Fartos do Que Não Tens", "A Cisma" e "Tirem o Macaco da Prisão" foram alguns dos temas que o ex-Ornatos Violeta trouxe ao Palco Principal. De notar também o apelo à preservação do lado dos Jardins do Palácio de Cristal, atitude que se viria a repetir por outras bandas.
Num constante sobe e desce, o vasto público do Noitesdirigiu-se à “concha” para ver David Santos sob a forma de Noiserv. Um concerto demasiado curto mas bom, a ter a ajuda já assídua da amiga Diana Mascarenhas que montava o pano de fundo ao longo das músicas. Ao longo de “Tokio Girl”, “Melody Pop”s, “Bullets on Parade”, “Consolation Prize” e “Bontempi” (sendo esta a setlist completa do pequeno concerto), cresciam desenhos por trás de David que acompanhavam a calma das músicas que já caracterizam o projecto.
De volta ao palco principal, encontramos rosas, telefonias e os Dead Combo. O projecto conjuntode Tó Trips e Pedro Gonçalves, já são conhecidos dos nortenhos. Vestidos a rigor mostraram um pouco de todo o repertório com “Sopas de Cavalo Cansado”, “Cuba1970”, “A menina dança”, “Rodada”, “Eléctrica Cadente” e ainda tempo para covers de Queens of the Stone Age e Tom Waits, com “Like a Drug” – que consta do último álbum, Lusitânia Playboys – e “Temptation”. O sentimento nos concertos de Dead Combo não tende para a dança, ou para sequer um pequeno movimento. Apesar das músicas não serem propriamente paradas, o recinto encheu-se de espanto e muita atenção, sendo, ao fim ao cabo, considerado um dos concertos da noite.
De volta às traseiras pela última vez no primeiro dia, fomos ouvir o electro nortenho dos Peltzer.Ao som de Superstar, o Porto quase dançou ao som dos senhores, mas não se mostravam muito entusiasmados.
Os Deolinda, pelo contrário, foram a banda que trouxe mais gente ao Noites Ritual. Com apenas um disco lançado, a banda de Ana Bacalhau entreteve o Porto e arredores com um fado diferente do tradicional – mais animado e dançável. Com “O Teu Bem Faz-me Tão Mal” e “Fado Toninho” aqueceram o Palácio de Cristal e encheram-no de ternura com “Eu não sei falar de Amor” e “Lisboa”. Para um final explosivo, houve tempo para a repetição de “Fado Toninho” e “Fon Fon Fon”. Foi desta maneira, com a banda que fez renascer o gosto pelo fado, que se encerrou o primeiro dia.
29 de Agosto
Para a segunda noite, o recinto estava surpreendentemente mais vazio. Era de admirar uma vez que actuavam os grandes Mão Morta. O alinhamento anterior, provavelmente por ser pouco conhecido, fez com que os portuenses se atrasassem para a última noite da 18ª edição do Noites Ritual.
Para inaugurar a noite começou por se ouvir Hot Pink Abuse. Pela voz de Miss Tish,um electro pouco convincente ecoou pelo recinto, fazendo-se ouvir no palco principal onde a multidão se aglomerava.
É a vez d’Os Pontos Negros. Antónimos dos The White Stripes, em todos os sentidos, os sintrenses trouxeram ao norte o seu Magnífico Material Inútil. ”Doutor Preciso de Ajuda”, “Triunfo dos Porcos” e “Salomé” fizeram as delícias dos fãs da primeira fila e de mais alguns mais atrás. Verdade é que não lhes falta energia, mas não tiveram a suficiente para se destacarem no festival.
Mais abaixo, seguiu Paul da Silva a actuar pela primeira vez em Portugal. Apenas com um pequeno EP editado, por mais vontade que a banda tivesse que os portuenses se mexessem, não aconteceu.
Onze anos depois, os Blind Zero voltam a tocar no Noites Ritual, desta feita num palco maior. Demasiado tempo, para uma banda já senhora de si, com tantos anos de existência e responsável pela famosa “Shine On”. Por entre esta e outras do novo álbum como "Skull", sob um fundo de feira em que se lia “Luna Park” escrito em lâmpadas, Miguel Guedes tentou uma não tão bem sucedida cover de “Where is My Mind” dos Pixies. A animação em palco, que atirou o vocalista ao chão na primeira música, passou também para o público, mas o melhor ainda estaria para vir.
A encerrar o Palco Ritual até ao próximo ano, os Andrew Thorn mostraram o seu quase electro, a fazer concorrência aos que tinham estado ali, uma banda antes. O norte não se convencia muito com eles e a relva cobria-se de pessoas sentadas.
Chega, assim, o fim do festival. E que melhor fim, do que oque veio de 50 km ao lado? Os Mão Morta são indubitavelmente uma das maiores bandas portuguesas, desde sempre. Com Adolfo Luxúria Canibal a contribuir para outros projectos menos desejáveis, os Mão Morta nunca perderam a força e começam com "Aum" e "Budapeste (Sempre a Rock & Rollar)" que meteu o Palácio a gritar. Ele, melhor que ninguém, voltou a apelar à protecção dos jardins, enquanto contava a história do Palácio desde o séc. XIX, ouviu-se “As Tetas da Alienação” e “E Se Depois”. Entre um alinhamento quase perfeito, onde faltou “Vertigem”, ouviu-se “Tu Disseste”, “Bófia”, “Em Directo (Para a Televisão)” e, infalível “1º de Novembro”. A dar de romantismo - se é que é possível – “Quero Morder-te as Mãos” e “Vamos Fugir”. Àquilo que se pensava ser o fim, deram-nos “Cão da Morte” e um adeus, mas não tardou um encore. Para surpresa de muitos, “Chabala”e “Charles Manson”, a par de “Anarquista Duval”, fizeram um final brilhante, como é costume nos concertos dos bracarenses, tanto para o concerto como para o Noites Ritual.