Reportagem Festival Optimus Alive!11
Foi nos dias 6, 7, 8 e 9 de Julho que a 5ª edição do festival Optimus Alive! decorreu. O festival, considerado este ano pela revista britânica NME como um dos 12 festivais de Verão a não perder, contava com novidades: um dia a mais que as versões anteriores e os palcos Super Bock e Optimus Clubbing maiores que nunca. Os nomes atraíram milhares de pessoas e nem o vento que se fez sentir durante todos os dias do festival conseguiu demover os espectadores.
6 de Julho de 2011
O primeiro dia, o único a esgotar, juntava fãs e curiosos na fila da frente, alguns mais emotivos que outros. O recinto, este ano aumentado de capacidade, permitiu uma circulação tranquila, ao contrário do que podíamos experienciar no ano anterior, no dia esgotado. Também o percurso entre palcos foi melhorado, tentando minimizar a poeira no ar com carpetes pelo chão na zona de restauração.
A dar início a esta edição, estiveram os neo-zelandeses The Naked and Famous, a abrir o Palco Super Bock. O recinto estava meio cheio e o som revelou problemas de equalização. “All of This” fez as honras e a banda mostrou energia em palco. Os espectadores juntavam-se e contavam-se bastantes fãs entre a multidão. A banda agradeceu a presença de todos e garantiu que nunca se iria esquecer do seu primeiro concerto em Portugal. “Young Blood” fechou o alinhamento, que contou com outros temas como “No Way” e “Girls Like You”.
Seguiu-se a banda californiana Avi Buffalo. O vocalista Avigdor Zahner-Isenberg dirigiu-se logo ao público, apresentou a banda e durante todo o concerto foi falando. O repertório contou com temas novos e antigos. O som continuava longe de bom, com o público a dispor-se no recinto de forma estranha, com vazios enormes em frente de ambas as colunas. “How Come” e a já conhecida “What’s in it for?” foram algumas das músicas que entretiveram o público enquanto o palco Optimus não abria.
Os Twilight Singers inauguraram o palco principal e mostraram ser uma boa ainda que deslocada aposta. Greg Dulli, nome maior do rock, com uma carreira com mais de vinte anos em bandas como os The Afghan Whigs ou estes seus Twilight Singers, deu no ano passado um belíssimo e íntimo concerto no Santiago Alquimista, onde reviveu em arranjos calmos os temas de toda a sua carreira. Foi curioso vê-lo agora num palco grande como aquele, em modo rock de estádio feito sempre com bom gosto, que nunca surpreende mas também nunca desilude. Os Twilight Singers sempre foram uma bela banda e mostraram isso mesmo à multidão curiosa que os esperava ao fim da tarde. Concerto energético, com um Dulli a quem a idade não pesa, de um rock clássico onde as guitarras imperam com alguns belíssimos toques de violino. Quem não conhecia (todo o público, aparentemente), certamente deverá ter ficado com vontade de ouvir mais; quem já conhecia, dificilmente terá apanhado uma desilusão. Um concerto dado com energia por um frontman exemplar, que faz rock de veia clássica como poucos conseguem. Se deviam estar ou não num palco principal onde mais tarde tocariam nomes sonantes como os Coldplay ou os Blondie, isso já é outra história.
Quando os norte-americanos Mona entraram em palco, mais de metade do recinto do palco Super Bock estava sentado. Antes de iniciar o espectáculo, o vocalista Nick Brown gritou “get up, this is a rock and roll festival!”, que resultou. O público foi aumentando e aproximando-se da frente do palco durante o concerto e a banda conseguiu um bom espectáculo. Contavam-se alguns fãs que entoaram as letras de temas como “Listen to Your Love”, um dos singles da banda.
Os Grouplove, banda indie rock que se viu ali à frente de uma multidão no palco principal daquele que é, para todos os efeitos, o maior festival do país. Soaram durante todo o concerto a algo que ouviríamos no palco Super Bock ou até mesmo no Clubbing, e mostraram em palco a inexperiência de uma banda demasiado jovem para conseguir convencer um público como aquele. Soam iguais a tantos outros, em palco tocam de forma igual a tantos outros, e deram um concerto que dificilmente terá ficado na memória dos presentes, onde as vozes dos vocalistas e os riffs de guitarra soam a algo que já foi ouvido milhares de vezes antes. A isso se junte problemas de som que minaram o início do espectáculo e o resultado não pode ser positivo. Uma aposta sem sentido.
No palco Super Bock, James Blake confirmou um triste facto: há concertos de determinados géneros que não funcionam em tendas ao fim da tarde, com um som que podia ser melhor. Não lhe podemos apontar falhas: a voz é tão bela quanto em disco, e a nível técnico Blake (apoiado por mais dois músicos, incluindo um dos dois membros dos Mount Kimbie, magnífica banda do mesmo género) sabe o que faz, mas tudo soou frio e desconexo, mesmo com o público a mostrar-se conhecedor e muito receptivo ao som do jovem. Ali, naquele local e com um som francamente mau para um dubstep complexo e que vive à base de camadas, a música de Blake perde sentido. Resta esperar que alguém o traga agora a um Lux ou um Musicbox.
Debbie Harry tem 66 anos e, ao contrário de Greg Dulli, Nick Cave, Iggy Pop ou Perry Farrell, a idade pesa, e não é pouco. A voz falha, a presença não é a mesma, e ao início o concerto dos Blondie (que, com a cor de cabelo da vocalista, deviam passar a ser os Whitey) mostrou-se triste e decadente. Felizmente, ter uma boa banda por trás ajuda, e eventualmente as coisas encaminharam-se na direcção certa. Debbie usa os truques do costume para disfarçar as falhas (pede várias vezes ao público para cantar por ela, ou então simplesmente deixa de cantar do nada a meio de um refrão), e apoia-se num bom baterista e um excelente guitarrista para dar ao público o que ele quer: os clássicos de antigamente. O resultado acaba por ser positivo, ou pelo menos divertido, e como não o poderia ser com canções como “Maria” (que, surpreendentemente, não era tocada há imenso tempo, segundo a vocalista) ou “Call Me?”. Torna-se bom ver Debbie saltar, pedir ao público que cante, mostrando que, aos 66 anos, ainda se diverte com o que faz; e nós, claro, acabamos por gostar também. Teve as suas falhas, e não foram poucas (assassinaram a “Heart of Glass”, com aquele riff de guitarra que apagava os teclados quase por completo), mas foi difícil não gostar. Os clássicos são intemporais, Debbie depois de aquecer ainda está ali para as curvas, e é sempre bom estar no meio de uma multidão a cantar aqueles refrões orelhudos que gerações conhecem. No início temeu-se o pior, mas acabou por valer muito a pena.
O público não era muito, mas contavam-se bastantes fãs que aguardavam a entrada de Anna Calvi no palco Super Bock. A londrina, cujo primeiro álbum data deste ano, reuniu rapidamente admiradores com o seu som original e músicas ricas em arranjos com os mais variados instrumentos. “Rider To The Sea” deu início ao que seria um dos espectáculos mais bem conseguidos do Optimus Alive!. O som apresentou-se consideravelmente melhor durante esta actuação. Temas como “Suzanne and I” e “I’ll Be Your Man” deixaram todos boquiabertos perante aquela voz tão potente. Apesar disso, Anna revelou-se algo timída quando se dirigia ao público, de voz muito baixinha, quase a sussurrar. Houve tempo para uma cover de “Surrender” de Elvis Presley, antes do conhecido single “Desire”. “Love Won’t Be Leaving” encerrou o que, provavelmente, foi O concerto do palco Super Bock do dia 6. Enquanto o palco Optimus enchia a olhos vistos, o palco Super Bock perdia público.
These New Puritans começaram a tocar para poucas pessoas, mas rapidamente ganharam mais espectadores. Detentores de “Hidden”, considerado por muitas revistas de música como o melhor álbum de 2010, há que ter em conta que a vertente conceptual do álbum é bastante pesada e não é das coisas mais fáceis de digerir. Ainda assim, temas como “We Want War” “Three Thousand” ou “Attack Music” fizeram as delícias dos poucos fãs presentes. O vocalista Jack Barnett agradeceu após todos os temas e apresentou uma novidade, “Vibes”.
Os Coldplay foram, indiscutivelmente, o grande nome desta quinta edição do Alive, e isso viu-se nem que fosse pela gigantesca multidão de milhares e milhares que desde o fim da tarde os esperava em frente ao palco. Nos últimos anos ganharam uma dimensão que os meteu a tocar em estádios e a ser cabeças-de-cartaz de alguns dos maiores festivais do mundo e, infelizmente, ao vivo não justificam tal tamanho. Num concerto que foi bom mas que raramente ascendeu acima disso, os Coldplay mostram que ao vivo soam… bem, a Coldplay. As canções, mesmo com balões gigantes e confettis, não crescem particularmente, e se os clássicos conseguem proporcionar sem dúvida alguns belíssimos momentos (“Clocks”, já em encore, surge logo à cabeça), as canções mais recentes fazem com que o concerto perca fulgor, algo que se viu por um público que apenas se ouviu mais nos singles. Falta a Chris Martin carisma, e as suas intervenções (muitos “Está tudo bem aí em baixo?”) soaram a pura rotina. Não há-de ter sido por nada que o músico disse não se lembrar qual tinha sido a última cidade em que tocaram da última vez que cá estiveram (exactamente a mesma onde estava a tocar enquanto admitia isso). O espectáculo, por si só, também não impressiona particularmente: um bom jogo de luz com lasers à mistura, balões, confettis e, ao fundo do palco, ecrãs gigantes. Nada que consiga disfarçar um simples facto: os Coldplay, ao vivo, não são nada de mais. Se estas são as grandes bandas da actualidade, estamos com problemas. Concerto agradável e sempre competente, com alguns óptimos momentos (“Yellow”, cantada por milhares em uníssono, e a épica “Viva La Vida”, por exemplo), mas nada mais que isso. E, pelo que se ouvia dizer o público à saída, hora-e-meia acabou por saber a pouco.
A noite acaba com Example, não sem antes de Patrick Wolf piscar o olho ao oalco principal ao começar o concerto com uma bela cover de “Yellow”. O lobo está mais calmo e surge em palco menos extravagante do que se esperava (bem, parece que agora usa mais roupa…), mas mais controlado e talentoso enquanto músico. Parece honesto em todas as vezes que fala com o público, e ainda mais quando vai até ele e beija uma das mãos que o agarra; se há músicos que gostam verdadeiramente de cá vir tocar, ele é um deles. Num alinhamento que tanto contemplou temas de antes (grande, grande The Magic Position, que encerrou o concerto) como os do novo disco, foi notável a qualidade consistente de todo o espectáculo; se é verdade que em disco as canções novas não convencem particularmente, ao vivo crescem e transformam-se em explosões pop, graças a um quinteto que apoia Wolf na perfeição e ao próprio vocalista, que é cada vez melhor no que faz. Quem diria que The City, por exemplo, resultaria assim tão bem ao vivo? O público reagiu de forma efusiva do início ao fim, numa tenda muito bem composta (os Coldplay já tinham acabado), e foi curioso ver fãs do cantor de todas as idades: desde casais nos seus quarenta a jovens nos seus doze (literalmente). Um concerto triunfante e exemplar, que proporcionou um excelente fim para um primeiro dia que não o foi.
7 de Julho de 2011
No segundo dia, tudo começou bem. Os Crocodiles, banda de rock com toques de psicadelismo, tiveram à sua espera uma tenda composta para o início dos concertos do dia no palco Super Bock. Energéticos, com carisma, e com um guitarrista que só não partiu nenhuma corda porque não calhou, a banda justificou as boas críticas que o seu segundo disco, Sleep Forever, recebeu aquando o seu lançamento. Guitarras em modo noise, vocalista dançante e que dedicou uma música a um membro do público (e o rapaz bem merecia, cantou e saltou em todas as músicas), e um concerto onde tudo assentou bem e que proporcionou um auspicioso início para o dia de concertos, com o público sempre convencido com o que ouvia. Agora é esperar um regresso a solo. Momentos mais altos? Provavelmente a faixa que dá o título ao disco, e a bela “Mirrors”.
Reunia-se uma multidão considerável quando os britânicos Everything Everything subiram ao palco de fato-macaco e “Qwerty Finger” deu início ao concerto. O público gostou e muitos dançavam. Os espectadores eram cada vez mais mas a banda não conseguiu dar continuidade à energia do primeiro tema. Foi apenas com os últimos dois temas “MY KZ, UR BF” e “Schoolin’” que o público foi reconquistado e o espectáculo teve, assim, um final melhor que a totalidade do concerto.
A abrir o palco Optimus no dia 7, estiveram os norte-americanos Jimmy Eat World. Embora o recinto estivesse cheio de gente, eram poucos os entusiastas. O tema escolhido para começar foi “Bleed American”, seguido de um repertório curto que incluiu temas como “Big Casino” e “Blister”. “My Best Theory” foi o único tema do mais recente trabalho da banda, “Invented”, sendo também o single de estreia do álbum. Para o fim ficou a favorita “The Middle”, entoada a plenos pulmões pela multidão.
O recinto do palco Super Bock estava cheio quando a banda Bombay Bicycle Club entrou em palco. Os fãs eram muitos e cantaram “Magnet”, que abriu o concerto com fervor. “Dust on the Ground” e “Evening/Morning” foram outras das favoritas. A banda rendeu-se ao afecto dos fãs e revelou ter gostado tanto de Portugal que talvez tirassem as próximas férias no país. Bastante novos ainda, os londrinos são, sem dúvida, uma banda a manter debaixo de olho. Com dois álbuns já editados e tendo formado a banda por volta dos 15 anos, é inegável que estes “miúdos” fazem música de qualidade, com arranjos que não deixam ninguém indiferente. Para o fim ficou “The Hill”, tema cheio de energia e óptima banda sonora para o Verão que ainda agora começou.
Seasick Steve é um senhor de setenta anos que toca em guitarras de três cordas (ou menos), feitas a partir de paus ou caixas de coisas que colecciona. Tem uma barba longa, a energia de quem nem aos cinquenta chegou, uma história de vida como poucos (viveu na rua, teve o Kurt Cobain como amigo, tocou no metro, e não precisou de contar porque sabemos, foi pescado por Jack White, etc. etc.), e um talento como ainda menos possuem. Naquele que foi um dos melhores concertos do dia e talvez um dos melhores de todo o festival, Steven Wold e o seu baterista deram um verdadeiro espectáculo onde o que interessou foi a música e quem a tocava. A tenda, surpreendentemente cheia, recebeu-o de braços abertos, reagindo a cada palavra, cada acorde, saltando sem fim perante aqueles blues que parecem saídos da alma. “Esta guitarra é uma trampa, nem sei porque é que a toco. Mas alguém tem que o fazer”, diz a certa altura, mostrando a sua guitarra eléctrica que parece tão velha quanto quem a toca. Agradece frequentemente, com palavras honestas mas ditas sempre com a presença de quem viveu mais que qualquer outro na plateia, e chama até uma rapariga ao palco para um momento romântico. Na última canção vai contando a sua história (fugiu de casa porque o padrasto lhe batia), e alonga o refrão e consecutiva explosão até ao infinito. É uma presença única, um músico enormemente talentoso, e deu um concerto que tão cedo não sairá da memória dos presentes.
Os My Chemical Romance ainda estão vivos, mas diferentes. Ou antes, talvez não estejam diferentes, o mundo é que entretanto mudou e eles não. Gerard Way continua espalhafatoso (cabelo vermelho, ui), berra ao microfone como se não houvesse amanhã (se o som do palco estava mau, ainda pior ficou…), e as canções novas não convencem. O público estava, surpreendentemente, apático, face a uma banda que há anos atrás tinha uma geração inteira aos seus pés. Tocaram muito do novo álbum, guardando mais para o fim os clássicos do costume que o público mais à frente recebeu com gritos e saltos (“Helena”, claro, e “Famous Last Words” no topo da lista). Way salta pelo palco, chama pelo público, com uma energia à qual falta voz e algo a dizer (a sério Gerard, será que tens de gritar tanto?). O seu tempo já passou e vivem apenas das glórias do passado. Glórias essas que, feliz ou infelizmente, começam a desaparecer.
Não eram muitos aqueles que aguardavam a entrada de Kele em cena. Maioritariamente fãs e alguns curiosos que aproveitavam enquanto Foo Fighters não começavam no palco Optimus. No entanto, alguns problemas técnicos atrasaram a entrada do músico, o que provocou o abandono de algum público. Quando Kele finalmente entrou em palco, desejou as boas-vindas aos presentes e apresentou-se, bem-disposto, como sempre. “Walk Tall” fez as honras, seguida de “On the Lam” e “Everything You Wanted”. Os fãs deliciavam-se com os passos de dança do cantor e a energia de sempre. Como já tinha acontecido no Super Bock em Stock, em Dezembro, o britânico trouxe também na bagagem um medley de Bloc Party, que incluiu “Blue Light” e “The Prayer”.
Com Zé Pedro novamente em palco, o concerto de Xutos & Pontapés foi o que se esperava. Os clássicos de sempre, com alguns repescados de antigamento (golpe inspirado, abrir com Sémen), e um público que conhece as letras das canções mais conhecidas, como seria de esperar. As mais recentes, do último disco, não pareceram resultar tão bem, mas no geral foi o que se esperava: mais um momento entre família.
Não há meio termo: Iggy Pop é incrível, deu um concerto magnífico, e foi triste e irritante ver um público que não soube apreciar aquela actuação histórica e sem falhas que lhe era dada de bandeja. Iggy entra em palco com os Stooges já em tronco nu, a saltar e a dançar como se um jovem fosse, e atira-se logo a “Raw Power”, como que a dizer “Adoro-vos, e é isto que vocês querem”. Chama público ao palco, vai várias vezes até ele, acena gritando “Olá! Eu vejo-vos a todos!”, e faz o máximo dos máximos para quebrar aquela barreira que há sempre entre um público tão numeroso e uma banda em concertos de festival (não foi por nada que mandou merecidamente o festival à m****). Velhos são os trapos, e isto é tão válido para Iggy quanto para toda a banda, que toca com uma energia e um carisma que nos envergonha a nós e a toda a nossa geração. Foi rock como já não se faz, dado por um frontman como já não se fazem (e houve muitos destes, nesta edição do Alive), num alinhamento magnífico (ai ai, aquela “I Wanna be Your Dog” no encore…). A única falha foi, portanto, o público. Parado, sem reagir àquela onda de energia pura, provavelmente a pensar na banda que viria a seguir. Um público provavelmente jovem, com uma educação bastante fraca (não só musicalmente – estamos a falar com vocês, pessoas que apontavam lasers aos músicos) que não soube reconhecer a grandiosidade quando a viu. Iggy Pop foi, é e sempre será grande. E, como tal, deu um grande concerto. Tão simples quanto isso.
A seguir, viria outro ícone (quer se goste quer não): Dave Grohl e os seus Foo Fighters. Multidão enorme, naquele que viria a ser o segundo dia mais cheio do festival, e aquele que viu o público mais devoto… e com razões para isso. Duas horas e meia em que se viu um grandioso espectáculo de rock, daquele épico, que enche estádios e põe multidões a saltar, mas feito sempre com gosto, sem nunca cair no facilitismo, e sempre tocado com a maior da dedicação. Dave Grohl é, provavelmente, um dos grandes frontmans da actualidade: transpira carisma e confiança, emana energia e experiência, e o concerto foi o reflexo disso mesmo. Dificilmente não se terá gostado de um espectáculo assim, consistente e impressionante ao longo das suas duas horas e meia, com uma banda exemplar em tudo o que fez e tocou. Os singles estiveram lá todos ao longo de um longo alinhamento de mais de vinte músicas, e o público cantou e saltou em todos eles; foi, tal como já aqui se disse, o público mais devoto que o festival viu, o que só ajudou a tornar o concerto a ser ainda melhor. Tudo tocado sem falhas, com pausas a meio de canções para criar expectativa, e interlúdios com Grohl a mostrar que é tão bom na guitarra quanto foi uma vez na bateria, numa certa banda que infelizmente já desapareceu. “Estão aqui para ouvir muitas canções, não é? É isso que esperam, certo? Temos muitos discos, afinal de contas”, disse a certa altura. Era, e foi o que o público recebeu. Concertos assim em festivais são raros. Dave Grohl defendeu bem toda a legião de fãs que o acompanha (mal tinha uma pinga de suor, no final do concerto), correndo pelo palco, chamando pelo público, e entregando, tal como toda a banda, uma actuação sem falhas. Um concerto da vida de muita gente, sem dúvidas. E um grande concerto para grande parte dos restantes. Digo eu, que nem gostava muito deles mas que saí de lá mais que conquistado, sem uma pinga de aborrecimento ao longo de duas horas e meia…
Pelo Palco Clubbing, passavam até altas horas nomes da editora Enchufada, que o ano passado deixou a sua marca no mesmo local. Desta vez, foram nomes como Buraka Som Sistema e Da Chick e que compensavam a falha redonda do dia anterior.
A encerrar o dia, Teratron no Palco Super Bock exibia um grande balcão auto-publicitário e entretinha os fãs do que se seguia. Os ex-Da Weasel João Nobre e Pedro Quaresma encheram o palco Super Bock com os seus temas, retirados do álbum conceptual “As Cobaias”, que conta a história de várias personagens, criada por Adolfo Luxúria Canibal.
Os The Bloody Beetroots, já repetentes deste palco, chegaram de surpresa na bagagem. Em vez de Steve Aoki (que se iria mostrar no dia a seguir), trouxeram consigo alguém que passa demasiado despercebido para o impacto que já teve noutros tempos. Apesar de Roborama predominar no set, os italianos trouxeram Dennis Lyxzén, vocalista dos Refused, para três temas de entre os quais “New Noise”, da sua defunta banda. A energia do quase quarentão não deixou ninguém indiferente, entre cambalhotas e danças bem ensaiadas ao longo dos três temas em que entrou, a idade não passa por ele. Poucos o saberiam, mas aquela figura já havia pisado aquele mesmo palco, na altura com outro nome, com The (International) Noise Conspiracy. Uma personagem fundamental para o óptimo concerto que os Bloody Betroots reservaram para o final de dia. “Warp 1.9” evidentemente, tratou do delírio de centenas de pessoas que não quiseram deixar de fora um pé de dança.
O terceiro dia adivinhava-se cansativo para os detentores de passe geral. Nós comprovámos.
8 de Julho de 2011
Á chegada do terceiro dia, tudo parecia normal. A corrida clássica dos 100 metros das miúdas que se plantaram na porta do recinto desde cedo, as filas, o fazer tempo para “aquele” concerto.
O concerto dos brasileiros Massay no palco Super Bock decorria sem problemas. A banda não continha em si o entusiasmo que tocar em Portugal – e pela primeira vez fora do Brasil – lhes causava e puxaram pelo público até ao fim. Apesar dos seus temas, tais como “Vagalume”, não terem convencido os espectadores, a cover da “Killing In The Name Of” dos Rage Against the Machine agitou as hostes e reuniu um grupo considerável de pessoas durante o tema.
A aguardar os ingleses Friendly Fires estava um recinto cada vez mais cheio. Os ingleses subiram ao palco e logo se ouviram as primeiras batidas de “Lovesick”. Os movimentos de dança de Ed Macfarlane são ainda mais espectaculares ao vivo e as músicas ganham uma força e uma riqueza de sons admiráveis. O vocalista, de energia invejável, saltou para o meio do público, e rapidamente contagiou todos os presentes com a sua dança. O repertório reuniu temas de ambos os álbuns: “Friendly Fires” de 2008 e “Pala” de 2011. “Live Those Days Tonight”, “Skeleton Boy” e “Hawaiian Air” foram os momentos favoritos, num concerto que deixou todos a querer mais. Para o fim ficaram “Paris” e “Kiss of Life”, ambas magníficas. Ed, incansável, juntou-se aos fãs por diversas vezes e, no final do concerto, ficou claro que o público português surpreendeu pela positiva. A banda agradeceu e terminava assim um dos grandes concertos do festival e um dos melhores do palco Super Bock.
Neste palco, se alguém sabia do que se passava fora daquelas paredes, era porque alguém de fora os teria informado e o rumor se espalhou. Muitos chegaram ao fim do festival sem saber que o palco Optimus teve dificuldades técnicas durante quase todo o dia, que foram cancelados os concertos de Klepht, You and Me at Six e The Pretty Reckless. O público dos palcos era absolutamente distinto, e poucos foram os que se importaram com tais cancelamentos. Enquanto o palco dito principal resolvia os seus problemas, o resto do festival somava e seguia, levando muitos a alargar os seus horizontes, a deixarem de lado a espera pelo menino bonito e irem ver alguma música “suja”.
Os irmãos Angus & Julia Stone seguiram-se e tocaram perante um mar de gente, que rapidamente se rendeu à sua música folk. Havia também muitos fãs da banda que agradeceu a presença de todos na sua estreia em território luso. Foi com “Hold On” que o concerto teve início. Julia tocou vários instrumentos e Angus encantou com a sua voz. A música ligeira agradou aos presentes, enquanto vários arranjos com lâmpadas incandescentes em palco atrás da banda contribuíram para um ambiente relaxante e íntimo. Foram temas como “Big Jet Plane” e “Just a Boy” que permitiram à banda ver o número de fãs presentes e como estes conheciam bem as suas músicas.
Os Fleet Foxes chegaram (finalmente) e confirmaram não ser apenas um hype do momento: ao vivo, revelam-se magníficos, conseguindo fazer com que canções já magníficas em disco cresçam e se transformem, por vezes, em momentos de apoteose ou até de catarse. Veja-se “White Winter Hymnal”, um dos exemplos mais óbvios, que ao vivo ganha ainda maior força. O som estava surpreendentemente bom, e isso ajudou a ver bem cada arranjo, cada pequeno pormenor de uma banda que faz folk-rock (ou seja lá o que for) como poucos. As vozes funcionam na perfeição, a banda tem toda aquele aspecto de gente simpática com barba que só ajuda a que tudo resulte bem (e parecem tão, tão contentes por cá terem chegado finalmente), e no final dão até uma baqueta e uma setlist a um dos membros do público. Passaram tanto pelo primeiro como pelo segundo disco, mostrando bem o quão consistentes são ambos. “Blue Ridge Mountains” foi algo que dificilmente se explica, tal como a grande “Helplessness Blues”. Em disco encantam, e ao vivo não desiludem.
E logo a seguir, chegou um dos mais fortes candidatos a melhor concerto desta edição do Alive. Nick Cave explodiu em palco com os seus Grinderman, numa onda de rock das entranhas como só ele consegue. Com já mais de cinquenta anos, Cave chegou (sem bigode), pegou na guitarra, e mostrou o porquê de ser uma autêntica lenda viva. Atirou-se várias vezes ao público, fê-lo saltar e cantar o refrão de cada música, e soltou cada palavra como se de uma bíblia do rock viessem. Com a classe de sempre, num fato que lhe assenta que nem uma luva, e com o testosterona que faz homens másculos tremer das pernas e fazer juras de amor eterno. Nick Cave é Nick Cave, foi uma honra e uma experiência por si só vê-lo em palco, e não há ninguém como ele. Quem esperava uma postura mais diva, mais fria, certamente apanhou uma grande surpresa. Cave não pára, vai ao público e canta para ele, e em palco vocifera sempre com os olhos no público, exigindo dele aquilo que dá em palco. E consegue-o. A banda é toda ela espectacular, com destaque, claro, para Warren Ellis, que uiva, atira-se ao chão (quando não o próprio Cave a fazê-lo), e esperneia com uma energia rara (quem diria que é este o homem que faz ocasionalmente arranjos para a PJ Harvey?). Canções como “Heathen Child” ao vivo transformam-se em chapadas de energia, e o final com “Love Bomb”, já em encore, ficará sem dúvida na memória dos presentes por muito, muito tempo. Criminoso, que este tenha sido o seu primeiro concerto por cá.
No palco Clubbing, passava-se então Atari Teenage Riot. Hoje, o palco “do meio” tinha mais uma editora forte, Dim Mak de Steve Aoki que entrou em palco ainda antes da sua actuação, para rebentar com os seus enteados. Foi talvez o momento mais difícil do dia, tentar dividir atenção entre os dois palcos onde actuavam duas bandas de excelências, energéticas de modo distinto e que certamente fizeram com que muitos não ligassem aos problemas do palco principal.
Os Thievery Corporation deram um concerto que fez falta ao Alive. Calmo, relaxante, com aquela mistura toda entre dub, bossa nova e sabe-se lá mais o quê, e uma banda mais que competente. A troca de vocalistas resulta sempre bem, e vê-se uma tenda bem composta, constituída por uma massa que dança de forma uniforme. Lá fora, os 30 Seconds to Mars tinham finalmente começado a tocar. Mas ali, naquele palco, ninguém sabia de nada, e vivia-se uma festa enquanto no outro lado do recinto se tinham vivido lágrimas (e alguns desmaios, parece). Um concerto de cerca de uma hora onde se dançou do início ao fim, sem falhas, quase em transe. Depois do folk dos Fleet Foxes, e da energia do rock puro de Nick Cave, fez falta este momento de relaxamento.
Ao fim de horas de espera e muita lágrima corrida pelas caras dos fãs devotos, foi anunciado que a banda de Jared Leto ainda tocaria. Os Thievery Corporation tiveram aí algum abandono, pelo público da periferia que se apercebia do início do concerto no palco grande. Hora e meia depois do horário previsto, os 30 Seconds to Mars entraram em palco, perante um recinto a abarrotar. O concerto foi curto, mas serviu para satisfazer os fãs que aguardavam desde o início da tarde (alguns desde o início da manhã, nas grades do recinto do festival).
Enquanto “Kings and Queens” decorria, mais e mais gente se juntava para ver a banda norte-americana. Jared Leto, como sempre, desfez-se em elogios ao país e aos fãs portugueses, para delírio da multidão. Com gritos repetidos de ordem para que todos saltassem, o cantor fez questão de anunciar que a banda estava ali para proporcionar um bom bocado a todos os que os tinham ido ver, apesar de todos os “acidentes” com o palco Optimus. “This is War”, “Hurricane” e “The Kill” foram alguns dos pontos altos do concerto, que não deixou de saber a algo muito apressado. Para o fim ficou “Closer to the Edge”, que contou com a presença de três fãs do sexo masculino que tiveram direito a uma foto com o vocalista e o recinto como pano de fundo.
Para receber o músico portuense Slimmy, não havia muita gente, mas isso rapidamente foi mudando. Com o mais recente álbum “Be Someone Else” na mala, a banda tocou também temas do antecessor “Beatsound Loverboy”, tais como “You Should Never Leave Me (Before I Die)”, “Show Girl” e ainda “Set Me on Fire”, durante a qual o músico foi até às grades da plateia. “Beatsound Loverboy” também fez parte do repertório que garantiu festa e dança até a actuação de Digitalism.
Pouco depois, voltava-se à festa no palco Optimus, com os The Chemical Brothers a dar um concerto que foi, em todos os aspectos, um verdadeiro espectáculo. Visualmente bem pensado e executado, com um ecrã gigante a cobrir o fundo, e um apurado jogo de luzes, a dupla transformou o Alive numa gigantesca discoteca ao ar livre, um espectáculo tanto sonoro como visual, onde êxitos como Hey Boy, Hey Girl puseram todo o público (surpreendentemente numeroso, mesmo depois de todos os adiamentos e do concerto da banda de Jared Leto) a dançar. Um concerto exemplar que os confirma como um dos maiores dentro do género (Duck Sauce, vejam e aprendam), a todos os níveis. Se a nível técnico conseguem impressionar, a nível de espectáculo também o conseguem. Uma rave de pura celebração.
E, para terminar, mais electrónica. Três da manhã, muito cansaço. “Irra, as vossas caras, já todas cansadas”, comenta um fotógrafo, quando nos vê na grade pouco antes do início de Digitalism. Alguns coxeiam, outros queixam-se do frio, e mesmo assim é uma tenda muito bem composta que está ali para os receber. E foi, claro, mais uma festa. Canções como a obrigatória “Pogo” ou “2 Hearts” fazem saltar e dançar um público que, mesmo mostrando sinais evidentes de cansaço, está ali para a festa. Ao vivo, é de salientar o baterista, que ajuda a dar a cada canção uma cobertura mais forte. O vocalista, loiro e franzino, canta frequentemente perto do público, e a banda mostra toda ela uma energia que acaba por passar para um público que por esta altura já tem cinco ou seis concertos em cima. Um belo final para o dia, dado por uma das mais conceituadas do género actualmente.
9 de Julho de 2011
A abrir o palco Super Bock no último dia do festival estiveram os brasileiros Stereopack. Tal como os Massay, aos quais enviaram um grande abraço, também eles estavam muito entusiasmados por tocar pela primeira vez ao vivo fora do Brasil. O público não era muito mas isso não invalidou que a banda se divertisse. O vocalista Antonio Avelar revelou que o primeiro single da banda, “I Don't Wanna Say Goodbye Anymore” foi filmado em Lisboa, que lhes valeu uma valente salva de palmas por parte dos presentes.
Foi-se reunindo mais gente para receber os britânicos WU LYF, cujo vocalista trazia ao pescoço, como lenço, uma pequena bandeira de Portugal. Conhecidos por criarem muito mistério à sua volta e não revelarem muita informação à imprensa, os WU LYF deram a conhecer a sua música aos espectadores curiosos que se iam juntando. A banda mostrou-se bem-disposta e brincalhona, bem como à vontade em palco. Temas como “Heavy Pop” e “Dirt” intrigaram mais do que fascinaram a maior parte dos presentes. Ainda assim, uma boa surpresa para esta edição do palco Super Bock.
Para dar início aos concertos no palco Optimus, foram chamados os vencedores do Optimus Live Act, Lululemon. Oriundos de Vale de Cambra, debitaram temas estritamente instrumentais que agradaram ao público e mostraram que continua a ser feita boa música em solo nacional e que se deve apostar nestas novas bandas. Passaram tanto pelo primeiro EP - Thee Ol’ Reliables como por temas novos que contam com a presença de um membro extra ao – agora-ex-duo. Luís junta-se à guitarra de Pedro Ledo e à bateria de Tiago Sales para um longa duração a sair no final do mês. As fãs femininas pareciam agradadas com os nortenhos e valeu-lhes uma boa recepção.
Os Linda Martini vão estar este ano nuns quantos festivais, e o Alive teve a sorte de ser um deles. Num bom concerto, como dão sempre, faltou um alinhamento mais bem pensado (onde esteve a Dá-me a Tua Melhor Faca?), um som melhor (o baixo em O Amor é Não Haver Polícia mal se ouvia… um crime), e um público que… bem, se mexesse. Faltou empenho da plateia, que tem, como bem disse Hélio, responsabilidade no concerto. Canções como Juventude Sónica pedem que se salte, que se grite, e infelizmente o público, que encheu a tenda e parecia ser conhecedor, não fez nem uma coisa nem outra. Fica a competência do costume, minada pelo local e por quem nele estava.
Quase um ano depois da estreia dos londrinos White Lies por terras lusas, a banda regressou, desta feita já com um novo álbum na bagagem. “Ritual” sucedeu a “To Lose My Life” e conta com vários temas já conhecidos do público. Os fãs eram mais e a banda revelou mais maturidade em palco. O vocalista Harry McVeigh cumprimentou os espectadores com um efusivo “Hello” e rapidamente se começou a ouvir “Fairwell to the Fairground”. As pessoas iam juntando-se e os fãs cantavam com a banda, de braços no ar. O vocalista puxou pelo público inúmeras vezes, enquanto apresentava as músicas novas, como foi o caso de “Strangers”, um dos singles do último álbum. “Price of Love” foi dedicada aos fãs portugueses, que aplaudiram e entoaram a letra em conjunto com a banda. O concerto perdeu força a meio, mas “Death” conseguiu retomar a energia, como sempre acontece nos concertos dos White Lies. Para o fim ficou a conhecida “Unfinished Business” e o single “Bigger Than Us”.
A estreia dos britânicos Foals em Portugal ficou reservada para o último dia do festival. Criadores de “Antidotes”, um álbum original que chamou à atenção desde o início, produziram também “Total Life Forever”, que se revelou mais como uma surpresa pelo distanciamento do som que lhes tinha garantido um lugar na ribalta. O concerto no Optimus Alive! também seguiu esse caminho. “Blue Blood” foi a primeira, tocada para um recinto cheio e curioso. Não convenceu, mas rapidamente os ânimos mudaram aquando da chegada de “Cassius", retirada do primeiro álbum. Desse álbum, ouviram-se ainda “Red Socks Pugie” e “Electric Bloom”, que encerraram o espectáculo. Tocaram ainda “Spanish Sahara”, primeiro single do último álbum, e outras como “After Glow”.
Os Kaiser Chiefs, depois de uma pausa e de um disco anterior que foi um fracasso, voltaram ao activo e estão, felizmente, ainda em boa forma. Num concerto energético, onde dificilmente se esteve parado, Ricky Wilson saltou, correu, gritou, e fez tudo aquilo a que estamos habituados, perante um público que parecia conhecedor os hinos da banda e que respondeu como se esperava: saltou e gritou de volta. É, acima de tudo, de elogiar o alinhamento bem pensado: singles novos intercalados na perfeição com antigos. As mais conhecidas estiveram lá todas (Ruby, I Predict a Riot), mas houve também tempo para mostrar algumas das novas canções (Little Shocks resulta muito melhor ao vivo). Dificilmente teria havido outra banda melhor para aquecer desta forma o público. São, efectivamente, uma daquelas bandas que, em festivais, fazem todo o sentido. E é bom ver que continuam na boa forma de sempre.
Os TV on the Radio são uma das melhores bandas da actualidade. Não há volta a dar. Num concerto incrível, como já tinha sido o que deram há dois anos atrás no mesmo palco neste mesmo festival, a banda americana voltou a trazer ao palco descargas de energia em forma de um rock com inspirações no soul e sabe-se lá que mais, entregues por uma banda única, com um carisma muito próprio (o facto de terem um ar meio marrão meio geek só ajuda à festa). Tunde Adebimpe é imparável, vagueando pelo palco de microfone na mão enquanto faz com os braços aqueles gestos que só ele sabe, e Kyp Malone é a presença de sempre, com aquela belíssima voz, aquela barba e aqueles olhos que se reviram enquanto canta. A tragédia atingiu-os quando o seu excelente baixista, Gerard Smith, faleceu de cancro há alguns meses, e isso tornou ainda mais especial vê-los assim em palco, cada vez melhores naquilo que fazem. Arranjaram um baterista novo, ficando o antigo encarregue do baixo e teclas, e tudo resulta melhor que nunca. Se há dois anos foram espantosos, este ano foram-nos ainda mais… e com um álbum menor. A melhoria é simples: estão ainda melhores ao vivo. As canções que em disco soam inferiores ao vivo surpreendem, crescem, e ficam lado a lado com as grandes que antes tinham feito. E o alinhamento parece, por si só, pensado ao pormenor. Começar com Halfway Home, a melhor faixa de Dear Science e que nem tinham tocado há dois anos atrás? De génio. E tocar logo de seguida Dancing Choose, com Adebimpe a gritar pelo palco e o público a bater palmas naquele segundos que o pedem ao longo da música? De génio, mais uma vez. Sem falhas, iguais a si mesmos, os TV on the Radio deram aquele que para muitos terá sido, e com razão, o melhor concerto de todo o festival (e, diga-se, um dos melhores do ano até agora). As últimas três canções foram absolutamente incríveis, de ficar com o queixo no chão: Staring at the Sun (ainda mais transformada ao vivo nesta digressão, ainda mais apoteótica), Repetition (surpreendente) e, claro, a obrigatória e incrível (sei que já usei muito esta palavra, mas eles bem o merecem) Wolf Like Me, que deu ao concerto um final absolutamente memorável, com o público a cantar a altos berros enquanto saltava, acção partilhada por Malone, que saltava de guitarra em riste perto do microfone. Das melhores canções de sempre ao vivo, tal como Staring at the Sun? É possível. Quem não os conhecia (ao início do concerto a tenda estava apenas bem composta, mas a meio já estava cheia) terá saído de boca aberta; quem já os conhecia, terá saído com lágrimas nos olhos e um sorriso do tamanho do mundo, ainda com uma certeza maior daquilo que se assume como um puro facto: não há ninguém como eles e, actualmente, são dos melhores. E aquele sorriso de Adebimpe, enquanto saía do palco, vale por mil palavras. Agora, pelo amor de Deus, alguém que os traga cá a solo! E foram, felizmente, talvez a banda que teve o melhor som naquele palco.
Outra estreia em solo nacional, os norte-americanos Paramore traziam na bagagem seis anos de vida quando por fim aterraram em Lisboa. Os fãs eram inúmeros e conheciam bem o trabalho da banda. Hayley Williams entrou em palco sem saber bem o que a esperava mas rapidamente percebeu: um mar de fãs devotos e entusiastas. Foi com “Ignorance” que a banda abriu, seguida de temas que fizeram as delícias dos presentes, tais como “That’s What You Get” ou “Crushcrushcrush”. Hayley partilhava lições de canto com os fãs e em troca pedia lições de dança. Puxou pelo público, mas nem era preciso muito. A energia e alegria por finalmente verem os Paramore ao vivo sentiam-se por todo o recinto recheado de fãs. Viam-se bandeiras de vários países, como Brasil e Espanha, por entre o público. “Monster”, o mais recente single, que faz parte da banda sonora do filme “Transformers 3”, já estava bem decorado por todos, tal como o single “The Only Exception”. Para o fim, ficou reservada uma surpresa: uma fã foi convidada a subir ao palco, onde lhe emprestaram uma guitarra para que se divertisse com a banda. “Misery Business” entrou em cena enquanto os Paramore saíram de cena sob uma chuva de confetti de todas as cores que o cabelo de Hayley já teve.
Com o cancelamento dos Dizzee Rascal, por problemas no voo do vocalista, foram substituídos pelos portugueses Diabo na Cruz, contratação de última hora, mas bem recebida pelo público do palco Super Bock.
Os Jane’s Addiction são uma banda como já não se faz. Intemporais, iguais a mais ninguém, deram um concerto histórico e inesquecível, de uma potência impressionante com canções que, provavelmente, marcaram as vidas de alguns dos presentes. Perry Farrell está incrível (igual a si mesmo, portanto), com o carisma, a presença, o estilo e a voz (a voz! Meu Deus, parece que não envelheceu!) de sempre, e Dave Navarro é mesmo aquilo que muitos dizem por aí: um grande guitarrista. Num alinhamento curto de apenas doze canções, e em pouco mais de uma hora de concerto, desfilaram clássicos como a grande Just Because (cantada e altos berros) e a tão conhecida Been Caught Stealing. Hinos intemporais, que soam hoje em dia tão únicos quanto há tantos anos atrás, sinal apenas da genialidade da banda que, em palco, se mostrou em excelente forma. Perry está igual a si mesmo: salta, anda pelo palco sempre próximo do público, pisca o olho a rapazes e a raparigas, e tem na face sempre o sorriso de quem adora o que faz. Bastou aquele magnífico início com Mountain Song para saber o que esperar: um grande concerto. Possivelmente o melhor que passou pelo palco Optimus em todo o festival, e (repito o que disse em TV on the Radio), talvez um dos melhores do ano. Sem falhas, com o estilo que só eles têm (Dave Navarro e aquele seu chapéu…), foi provavelmente o concerto da vida de muito boa gente, naquela que foi a estreia da banda em solos lusitanos (chocante, dada a carreira do grupo). Impressionaram, nunca desiludiram, e deram um concerto memorável e do qual foi difícil sair (apesar de o encore, com Jane Says, ter sido um momento de perfeição absoluta). E Perry Blake é, simplesmente, um frontman como já não se fazem. Aliás, já não se fazem bandas assim, ponto. Velhos, como se costuma dizer, são os trapos. Histórico, simplesmente.
Para terminar, os Duck Sauce. Pato gigante insuflável em palco, e um concerto irritante, repetitivo e que nem muita vontade de bater o pé deu. Ao que parece, só têm mesmo Barbra Streisand como canção que mereça ser ouvida ao vivo. O potencial parecia estar lá, mas afinal… não. Um final infeliz para o palco principal, numa aposta que parecia ganha mas que, afinal, esteve longe de o estar.
A encerrar o festival, até para o ano, as opções variavam entre esteve Fake Blood, supostamente em formato live que não o foi e A-Trak, ou o palco Clubbing, desta feita representado pela Boys Noize Records, onde ao longo de todo o dia o próprio, Gold Panda ou Spank Rock davam corda aos sapatos. Saltos e dança um pouco por todo o recinto, encerrou a edição deste ano daquele que é talvez o festival mas reconhecido de Portugal.
O balanço geral foi positivo, tendo em conta a crise, os números foram animadores para a organização. O recinto aguentou – apesar dos percalços do terceiro dia – milhares de pés e promete prolongar-se durante os próximos 5 anos, no Passeio Marítimo de Algés.
O próximo ano conta novamente com três dias de festival – de 12 a 14 de Julho.