Reportagem ID_NOLIMITS 2019
No dia 29 de março, o Centro de Congressos do Estoril abriu as portas para receber dois dias de ID, um festival cuja estética e sonoridades alternativas e futuristas fundiram surpreendentemente bem com um local que chegou a parecer um pouco improvável.
O primeiro dia arrancou longe das luzes mais claras e fortes, quando convidaram a plateia a viajar até aos confins do rap português, acompanhados pelos sons mais arrojados e versos fortes da Colónia Calúnia. Um concerto apresentado em atos, com os distintos membros do coletivo português a tomarem o palco para se apresentarem.
Entretanto já se ouviam as primeiras faixas tocadas por Madlib, o músico norte-americano que viajou até Cascais no papel de DJ, que, num palco maior, percorreu a sua discografia e colaborações dentro do universo Hip Hop, onde ocupa uma posição importante devido ao mérito que tem vindo a acumular.
O público foi acompanhando com movimentos adequados esta odisseia pelas ruas dos bairros americanos, por entre batidas boom bap e as clássicas rimas ditas em inglês. É de se acreditar que Madlib cumpriu bem a sua função aqui.
O palco Auditorium iria de seguida acolher a atuação de um talento emergente da música nacional: Pedro Mafama. O músico fez vibrar a sala onde atuou, ao interpretar algumas das faixas em que se mostra um artista de fusão, ao unir, por exemplo, o fado à música eletrónica.
Acompanhado por alguns fãs atentos, o artista lisboeta percorreu o palco com dedicação e deu mais que motivos para obter maior destaque em breve.
Quando chegou a vez da artista lusodescendente IAMDDB ocupar o microfone da sala maior, já esta estava a encher de admiradores da cantora. Diana de Brito foi muito bem recebida, e fez de tudo para manter o calor por entre a audiência.
Entre frases em português e interações com o público, a artista britânica manteve a energia que lhe carateriza e até desceu para o meio do recinto para cantar e dançar junto de quem a apoia, deixando claras as emoções na expressão dessas mesmas pessoas.
A noite ficava assim ao cargo dos DJs que iriam ocupar as várias salas no Centro de Congressos do Estoril: Pearson Sound, que trouxe um sabor britânico para a pista de dança, mexendo-se por entre vários géneros, desde House até Garage; Jacquees Greene, produtor canadiano que deixou a sua marca experimental nesta parte da festa dedicada à música eletrónica; e Shaka Lion, que transporta sempre consigo as suas raízes brasileiras, que o marcam entre remisturas de Hip Hop e funk, passando por outros tipos de música para deixar o sangue de quem dança em ponto de fervura.
Foi no Auditorium que a assistência viu a chegada de Kamaal Williams, que arrancou a segunda noite num festejo em torno do improviso tão caraterístico do Jazz.
Sentado perante o teclado, acompanhado por baixo e bateria, liderou uma celebração que não passou indiferente a nenhum dos presentes. Iniciou-se assim mais um dia de festival, marcado por animação e ótimas sensações.
Na sala principal, já se ouviam as primeiras reações a Arca, artista venezuelana que atualmente habita em Londres. Conhecida pela sua irreverência e por influências experimentais e pesadas, fez tudo para dar a perceber que estávamos perante algo que era mais que uma atuação musical.
Houve poesia, dança e até algum canto, houve ritmos arrojados e melodias dissonantes, e houve espanto definido nos rostos de quem assistia. Não era de se esperar aquela representação, que fluiu tão genuinamente.
A certa altura, Arca desceu do palco com toda a naturalidade, percorreu o átrio por entre toda a gente e ocupou uma base que a elevou e fez dar ainda mais nas vistas. De seguida, retornou à mesa, onde prometeu suor e muito movimento nos 15 minutos que restavam de concerto. Houve estranheza mas houve imenso contentamento por parte da base de fãs bem representada em Cascais.
Seguia-se Dino D’Santiago, que trouxe consigo na bagagem o álbum Mundu Nôbu, repleto de musicalidade e boa disposição cabo-verdianas. O cantor e a sua banda interpretaram o disco lançado em 2018, apelando muito à ginga de cintura e ao acompanhamento das vozes lusoafricanas que tão bem soaram durante todo o concerto.
Uma voz conhecida para o público português, enxergando uma atitude carismática e muita alegria, que providenciou assim um excelente momento para os adeptos de todas as canções e sensações que estas carregam.
Continuando a festividade, estavam os DJs convidados pela Park Beat para trazer os sons do Hip Hop, que cada vez mais têm saído das ruas para todos os ambientes, e Progressivu e DJ Respeito, que, tocando cada um da sua forma, partilhavam cabine na Cascais Silent Disco, onde todos os que entravam, entravam munidos de auriculares, e escolhiam qual dos dois queriam ouvir, desenvolvendo assim uma experiência única.
Quem contribuiu mais para o aumento de presenças foram os suecos Little Dragon. A banda, que conta com a ajuda de quatro membros, exibiu a sua discografia para uma plateia que se ia mostrando satisfeita e conhecedora da mesma.
Foi numa atmosfera de grande acolhimento que atuaram, enquanto chegava a hora de encerrar o festival ID, festival este que não impôs limites à criatividade e à estética artística.
Houve, durante estas duas noites estorilenses, espaço e música para todos que estivessem dispostos a acolhê-los e a deixar ser acolhidos. Criando uma experiência alternativa, com amostras e previsões de um futuro que não está assim tão distante, esta festa uniu todos em torno do talento e da dedicação de quem faz a arte para a união.
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quinta-feira, 04 abril 2019