Reportagem Jameson Urban Routes - 22 de Outubro
Mais uma noite do festival Jameson Urban Routes, que já conta com cinco edições, na qual fomos presenteados com uma noite promissora: os portugueses Throes + The Shine abriram o palco do Musicbox, seguidos pelos muito esperados HEALTH, numa noite explosiva de qualidade musical. No entanto, se o cartaz era apetecível, não foi total a comparecência dos portugueses na sala da baixa lisboeta. Sinais da crise, possivelmente.
Comecemos com os grande entertainers da noite: os The Throes + The Shine, com a sua ultra fórmula especial, transformaram o Musicbox numa sala de dança, durante pouco mais de meia hora. Uma combinação e aliança algo improváveis, se podemos afirmar: por um lado, os The Throes, atiram-se de cabeça num rock puro e duro electrificante, por outro, os The Shine trazem os ritmos e versos do kuduro de Angola aos lisboetas. Se em papel certamente soa estranho, ao vivo a conversa é outra, pois os dois géneros musicais funcionam de forma excelente, sempre em harmonia. O público também foi facilmente convencido, guiado por Diron Romão e André do Poster, os dois vocalistas que nunca paravam, nem deixavam parar. Um público bem entusiasmado que dançou bué e até "cuiou" é sempre bom sinal e, depois da actuação bem conseguida no festival Milhões de Festa, estes audazes rapazes bem podem dizer que a missão, no Musicbox, foi cumprida.
Uma boa primeira parte geralmente antecede uma excelente segunda parte, e nesta noite, não houve excepção. Ora, os HEALTH de Los Angeles são tudo menos entertainers, mas o que lhes falta em interacção com o público, compensam com a sua música: é uma descarga destrutiva de noise rock bem intercalado com o electrónico que gerou o caos no público. "Nice Girls" é o primeiro tema escolhido e a distorção barulhenta é tanta que se sente no estremecer do peito e dos ouvidos, apenas suavizadas pela voz etérea de Jupiter Keyes. Assim, lança-se a euforia dos portugueses.
Não são estranhos a Portugal, já tendo passado pelo Santiago Alquimista no passado ano, no entanto, a qualidade das suas performances nunca é diminuta. A experiência e a técnica no manuseamento dos seus instrumentos, especialmente a bateria infecciosa de BJ “SexFace” Miller, impressiona e é certamente a base dos concertos dos HEALTH. São estóicos, mas balanceiam-se ao som das músicas: o baixista John Famiglietti parece impenetrável ao bambolear os seus longos cabelos, e é, definitivamente, uma enorme presença em palco, tanto literal como figurativamente. Numa noite recheada de momentos memoráveis, o primeiro foi certamente a versão de "Crimewave", mas "Die Slow", "Death+" e "Triceratops" não desiludiram, sendo catalisadores de uma turbulência crescente no público. Sim, porque euforia nunca lhes faltou, recorrendo ao crowd-surfing e mosh controlado para fazer do concerto dos americanos uma autêntica festa – juntou-se até Famiglietti, já em "USA Boys", que se lançou para os portugueses como adorado entre os adoradores.
"Courtship" marcou o final de um concerto explosivo, mas marcou também a impressão de uma crescente qualidade musical na banda de Los Angeles. Com ::Disco2 e até com Get Color, os HEALTH encontram-se mais definidos, mais concentrados na melodia e na estrutura dos temas, e arriscamos mesmo a dizer mais calmos qb – é certamente uma mudança que se aplaude entusiasticamente.
Espera-se, então, um rápido retorno para uma repetição do noise rock no seu real expoente máximo.
Texto: Teresa Silva