Reportagem MUSA Cascais 2018
A celebração do reggae na praia de Carcavelos
O festival MUSA Cascais celebrou a sua vigésima edição com 3 dias sendo o primeiro reservado apenas aos campistas titulares do passe camping. O espaço MUSA CAMPING situa-se dentro da área do evento a cerca de 20m da praia. Os titulares do passe tiveram direito a camping party com o DJ Nokin no primeiro dia do festival. Os restantes dois dias do festival foram de acesso geral com bilhete diário ou passe para os dois dias.
Boas vibrações, movimento e cultura rastafári, dreadlocks, músicas com letras repletas de consciência social e política, paz e amor, tudo abençoado por Jah e apresentado à beira mar.
O recinto abriu as portas ao público geral no dia 6 de Julho com um cartaz repleto de nomes conhecidos do raggae como sejam Luciano e Alpha Blondy.
Um público de alguns milhares de pessoas constituído essencialmente por pessoas da zona de Carcavelos e Oeiras, frequentadores assíduos do festival e alguns turistas, proporcionaram um ambiente muito zen e animado. Estes conceitos aparentemente antagónicos são de facto compatíveis, o público do MUSA, dança com entusiasmo, canta e acompanha as letras dos artistas com sorriso estampado no rosto enquanto enrola e partilha um cigarro mais ou menos natural. Tudo muito tranquilo, quase harmonioso, místico como o movimento rastafári o preconiza.
Alpha Blondy, cabeça de cartaz, acompanhado pela sua banda Solar System correspondeu às expectativas. Com os seus hinos à paz, ao amor e à consciência social deliciou o público. Sem grandes apresentações das músicas, sem lançar os comuns piropos ao público Blondy introduziu os seus clássicos sem deixar de lado os apelos à paz, as referências ao contexto politico e social. Clássicos como “Cocody Rock”, “Jerusalem” e “Peace in Liberia” desfilaram associados a palavras de ordem como “Nobody has the right to kill in the name of God” e “Alá is not a father for terrorism”, apelos à paz com referência não só à Libéria mas a outros países do continente africano como sejam Somália, Sudão, Iémen etc, não esquecendo o grito de guerra “Children of God are you ready”.
Blondy sempre foi um rebelde e um verdadeiro pan africano.
Lugar ainda para Luciano. O músico jamaicano esteve em palco antes de Alpha Blondy e cantou temas como “Sweep over my soul”, “This one is for the leaders”, “Your world & mine”. Um reggae mais tradicional e clássico e por isso menos interessante. A mesma cultua rastafári, as referências a Jah, ao imperador Selassie I, à paz ao amor e à consciência social e política com referências actuais como sejam King Jon-Un e ao receio da terceira guerra mundial. O artista de 53 anos provou estar em forma, cantou, dançou, interagiu com o público e até deu uma cambalhota em palco.
Referência para Bezegol que também se apresentou no palco Musa. É sempre uma prazer ver Bezegol ao vivo. O músico alterna entre o reggae e o hip-hop não descurando as sonoridades tipicamente portuguesas.
A sua genuinidade transparece, a sua gratidão ao público é emocionante. Possuidor de uma voz com timbre peculiar, não precisa de ser apelidado de rebelde ou qualquer outro termo romântico, é um homem de origens humildes, um poeta urbano que fala da vida, das suas experiências, dos seus afectos com honestidade. Temas como “Rude Sentido”, “Monstro” com o imponente trecho “ esforço-me por descobrir a forma de fugir à norma; de ser o monstro que a vida nos torna” provocaram emoções e foram acompanhadas pelo público. Salientam-se também os temas como “Rainha sem Coroa” dedicada a todas as rainhas as que estavam e as que não estavam porque não puderam vir, as rainhas com e sem coroa, bem como “ Maria” tema que tem como artista convidado Rui Veloso. Rui Veloso não esteve em palco, mas também não era imprescindivel a sua presença, Bezegol trouxe toda a intensidade do tema sozinho. Bezegol é bom e recomenda-se.
Despediu-se do público dizendo que foi uma prazer vir do Porto para actuar no festival, mas o prazer foi todo nosso em recebê-lo.
No último dia do festival Anthony B. proporcionou a Festa. Antes de entrar em palco já se ouviam comentários do público a dizer o “Anthony é um granda maluco”.
Anthony B. membro do movimento Bobo Ashanti, ramo do movimento Rastafári aparece com a sua longa túnica e turbante, vestes típicas dos membros do movimento também chamados de “Bobo Dreads”. Enérgico, cativante e espiritual, Anthony B. não deixa de ser o rei da festa. Dança, pula e interage com o público, um verdadeiro mestre no palco.
Desfilou temas como “Freedom fighter", de Reggae soul sister e “king of my castle”. Sempre acompanhado, na dança e nas letras, pelo público. Fortemente influenciado por Bob Marley não faltaram no alinhamento temas como “Time Alone”.
Antes do culminar da noite com Anthony B, tivemos Don Carlos, um senhor do reggae e já repetente no Festival MUSA. Com os seus sapatos de verniz e blazer acetinado entra em palco acompanhado de um sorriso tranquilo e zen. Vem cheio de “cool vibes”, diz que adora o público português e o país. Namora com o público com um jeito doce e sereno “Portugal is nice” é repetido várias vezes e chega mesmo a dizer que devia mudar-se de onde vive para Portugal.
Temas como “Movin (to the top)" repletos de alegria e “Laser beam” foram interpretados e geraram entusiasmo no público. Não faltaram também clássicos como “Harvest time” ou “Just a passing glance”. Tudo sempre acompanhado com o mote “Jah loves you”.
O festival MUSA contou, para além do palco principal (palco Musa), ainda com mais dois palcos reservados, à cultura sound system em todo o seu espectro, o palco Bass Station e o palco Dub Arena.
Longe dos holofotes e das grandes multidões é um festival catita, cheio de good vibes, paz e amor, com tónica na sustentabilidade, sem fins lucrativos e sem os preços imorais do costume.
Recomenda-se!
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quinta-feira, 12 julho 2018