Reportagem Maré de Agosto 2013
29 anos de diversas culturas musicais, centenas de grupos e artistas de todos os géneros musicais que se possa pensar, num festival conhecido por trazer várias gerações à Praia Formosa. Hoje, vemos netos de pessoas que nas primeiras edições, em que o festival ainda não tinha toda a dinâmica de hoje em dia, já passavam as noites de Maré numa manta do famoso “pasto” que
abriga as multidões ansiosas por viver anualmente todo o “Spirrit”, como dizia Antoine Laborde, referindo-se ao espírito de amizade, união e diversão que se vive.
Num total de 5 dias, este ano, a ACMA optou por iniciar o festival a uma quarta-feira com uma “Welcome Party” sob a alçada de dois Dj’s: Sérgio Fig e os Club447 Djs. Começando pela prata da casa, Sérgio Fig (Figueiredo) era dos mais carismáticos DJs dos anos 90 em Santa Maria, em que ainda rodava aquele clássico vinil desde os finais dos anos 80. Numa onda multi-musical, chamava às pistas de dança pessoas de várias idades. Em 2013, traz à Maré um rewind de temas dos anos 90 e 80 com um toque moderno dos temas actuais à mistura.
A fechar esta primeira noite, Fulano47 e Sininho remontam mais uma vez aos anos 90 num toque mais pessoal e aliado à eletrónica, colocando o espiríto da Maré em alta para quem
estava disposto a dançar e a fazer o derradeiro “aquecimento” para as 4 noites seguintes!
Dia 1 – 22 de Agosto
Para as restantes noites, seguindo a disposição habitual de 3 bandas e um DJ, a Maré contou com uma presença nacional por noite, e no primeiro dia de Festival, a voz de Marta Ren abriu a noite.
Acompanhada pelos The Groovevelvets, a cantora que já integrou vários projectos musicais como os Sloppy Joe ou mais recentemente os Movimento, é uma fiel mulher do soul, com covers de Aretha Franklin ou James Brown. Apresenta o seu novo single, “Summer’s gone” que já era
conhecido pelos festivaleiros. Para Marta, a “tarefa” de abrir um festival - e mesmo um dia de festival - é complicada e traz algum nervosismo que rapidamente desvaneceu com um público fiel à primeira presença portuguesa do festival.
De seguida e directamente da Alemanha, o Roots Reggae de Jahcoustix cativa sempre um público que já espera anualmente por este estilo musical que marca a Maré, não só para as gerações mais jovens, mas também para alguns mais maturos que gostam de rever velhos tempos da geração Bob Marley.
Acompanhado pelos Yardvibe Crew, Jahcoustix apresenta o seu novo álbum de estúdio que comemora 10 anos de carreira.
Também da Alemanha, e para encerrar esta primeira noite, no que diz respeito às bandas, Corvus Corax, transmitiu um conjunto de sonoridades cujas raízes estão na Irlanda e em outros temas populares europeus. Gaitas de fole, cítaras, entre outros, transmitiram uma energia peculiar que na voz de Castus captaram a atenção de uma multidão mais versátil a diversos géneros musicais. Castus mostrou o seu interesse em saber mais sobre a cultura local, ao gritar várias vezes o típico grito das festas do Espírito Santo “Vivó Espirito Santo”, criando uma ligação especial com o público e, também , dedicando “uma canção para todas as mulheres bonitas”, ao ler as suas notas em palco do que havia aprendido da língua portuguesa ao longo da sua estadia.
A encerrar a noite, do Reino Unido, o duo Smoove & Turrell, com um DJ set conhecido por transmitir sonoridades do northern Soul, puxando pelas raízes do Jazz e Funk inclusive.
Dia 2 – 23 de Agosto
Na presença nacional de Sexta-Feira, Joel Xavier inicia a noite, com este seu regresso à Maré de Agosto, 19 anos depois.
Na sua primeira vinda, Joel trazia um trabalho ligado ao Blues, desta vez volta admitindo as saudades e as grandes amizades que havia feito, mostrando a sua ligação à ilha e ao festival, mas trazendo um trio composto por um baterista cubano e um baixista brasileiro. Joel Xavier apresenta assim o seu novo álbum de ritmos latinos, desde o Samba a sonoridades de Angola.
Da Alemanha, e depois de na noite anterior os Corvus anunciarem o seu regresso na noite seguinte, alguns membros comuns regressam então, integrando os Berlinksi Beat. Este grupo, traz à Maré um conjunto de artistas de várias nações que contam histórias de Berlim e outras cidades europeias, bem como as suas loucas noites, através da sua música.
Uns ritmos que permitiram um pé de dança à multidão, foram uma agradável surpresa, captando ainda mais atenção de vez em quando com covers muito próprios como “Long Way to the Top” dos AC/DC.
Um pouco ao estilo dos Che Sudaka, que pisaram o palco da Maré em 2012, desta vez, mesmo ao nosso lado na Península Ibérica, a presença espanhola foi de Huecco, que nos trouxe uns ritmos poderosos capazes de transmitir uma versatilidade do metal até ao samba, acompanhados por uma boa percussão latina e uma guitarra poderosa do membro da República Dominicana. “Dame Vida”, trouxe o extâse ao anfiteatro natural da Maré!
A encerrar a noite, e aliado ao género musical muito habitual na juventude actual do Drum & bass, o trio Animal Music, do Reino Unido, misturava uma série de sonoridades conhecidas por todos que rapidamente explodiam em formato Bass Music Punk, mostrando a capacidade deste trio em bateria, voz e DJ e a sua experiência em várias rádios ou mesmo no Ministry of Sound.
Dia 3 – 24 de Agosto
Angolana, a viver na capital portuguesa, Aline Frazão foi das melhores vozes a passar por esta edição. Com a tranquilidade imensa que transmite, admitindo que se sentiu em casa, não só pelo espaço físico que é Santa Maria, mas também pelo acolhimento que recebeu e o qual vários artistas referem todos os anos.
Aline mostra as suas raízes angolanas, com temas que ligam os problemas actuais políticos e sociais. “Tanto” foi um dos temas especiais que permitiu que após abandonarem o palco Moche, os gritos do público para mais uma, fizeram Aline voltar e cantar para quem atentamente apreciava a sua maravilhosa voz.
Do Mali, e merecedora de um Grammy Award, Oumou Sangare acompanhada por um conjunto de artistas de qualidade, como um guitarrista do Senegal que a acompanha maravilhosamente, uma dançarina que cativa qualquer entusiasta dos ritmos africanos e as suas formas de dançar, traz-nos histórias de Wassolou, sua terra natal, com um conjunto musical incrivelmente poderoso,
uma voz estrondosa que surpreendeu tudo e todos neste sábado de Maré de Agosto, sendo uma das maiores e já habituais grandes surpresas do festival.
Da Holanda, Anneke Van Giersbergen, ex-vocalista dos “The Gathering”, agora com a sua carreira a solo, já cantou com Sharon den Adel, dos Within Temptation e mostra um timbre muito semelhante. Anneke, com o seu trabalho multifacetado, mostrou-nos temas próprios, da ex-banda, e também alguns covers que trouxeram um coro poderoso pela multidão ao acompanhar a vocalista em covers como “Jolene” de Dolly Parton.
A encerrar a noite, desta vez por detrás da mesa de mistura, a presença portuguesa de Sábado com os Glam Slam Dance, cumpriu o dever de mais uma noite quente e recheada de variedade musical. "Vale tudo, quando a alma não é pequena e o corpo não a acompanha", é o lema que estes DJs apoiam, em que para os festivaleiros que ainda conseguem mais uns saltos e rondas de
dança, um pouco de tudo sabe bem ao corpo e à alma.
Dia 4 – 25 de Agosto
No último dia de Maré, em que se nota algum decréscimo na quantidade de festivaleiros, e em que alguns já haviam partido no barco do Domingo, David Philips inicia a noite no palco Moche, num concerto que gradualmente vai crescendo e dando mais confiança e entusiasmo ao carismático guitarrista “Do It yourself” ou “One Man Show” do Reino Unido.
Com um sentido de humor único e uma singularidade na sua forma de tocar e mesmo num dos
instrumentos utilizados característico por ter sido fabricado pelo próprio a partir de uma caixa de charutos, que em tom de gozo David admite que “não são cubanos, pois ainda não tinha a fama suficiente para tal dispêndio”, mostrou-se muito entusiasmado com o público e a sua interação.
Num registo Blues, e directamente da Irlanda, Simon Mcbride traz à Maré de Agosto, com o seu trio, o seu talento que o torna num dos melhores guitarristas irlandeses, e o “Jovem Guitarrista do Ano”. Inspirado por Gary Moore e tendo iniciado a sua carreira profissional aos 16 anos. Há 3
anos, a Maré recebeu Walter Trout, em 2013, os festivaleiros demonstram mais uma vez o seu interesse na onda Blues, e neste caso um fantástico Blues-Rock, característico em temas como “One More Try”.
A finalizar a noite e esta 29ª edição da Maré de Agosto, numa noite em que não foi a chuva que afuguentou os festivaleiros (pois, diz-se que "Maré sem chuva, não é Maré"), estiveram os Crash Nomada. Ao estilo de Gogol Bordello, por exemplo, o punk folk com toda a pujança e electricidade do punk rock deste grupo instalado em Estocolmo, transformou o recinto com
a energia necessária para abrir portas ao último DJ set deste ano. Os Crash Nomada foram considerados várias vezes como a melhor live performance da Suécia.
Mais uma vez aos comandos dos decks e mesa de mistura, a presença portuguesa fez-se sentir com os Dj Malditus, uma dupla açoriana que nos traz um electro, breakbeat e drum & bass que fechou com chave de ouro esta edição da Maré, já mesmo antes de o Sol nascer.
Este ano, contou também com workshops de Fitness com o convidado Rui Barros, Zumba, passeios pedestres e uma exposição de fotografia pelo conceituado fotógrafo Pedro Almeida.
A apresentação da imagem da próxima edição foi feita na cerimónia de abertura, bem como a promessa de que o próximo ano, que comemorará 30 anos consecutivos de festival, será único e merecedor, tanto para os festivaleiros que insistem em marcar presença todos os anos, como para aqueles que o farão pela primeira vez e com certeza encontrarão a singularidade do espaço e ambiente localizado a escassos metros da Praia Formosa, na ilha de Santa Maria, Açores.
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segunda-feira, 02 setembro 2013