Reportagem Maré de Agosto
23 de agosto
A duas edições de celebrar o 30º aniversário do Festival Maré de Agosto realizado há precisamente 28 anos consecutivos, este ano na pequena cerimónia de abertura pretendeu-se destacar principalmente os vários apoios a nível local, regional e nacional como por exemplo através da PT e do projecto "Moche" da TMN, patrocinador oficial desta edição.
Com o palco a cerca de 20 metros do mar e do principal areal da Praia Formosa, este ano os esforços para montar o espaço foram redobrados devido à passagem do Furacão Gordon. Já dizia João Pimentel, presidente da Associação Cultural Maré de Agosto que "Gordon é com muito gelo" num tom descontraído. Com gelo não foi, mas sim com algumas consequências reflectidas em estragos na marginal e na zona do festival mas que mesmo assim não coincidiram com a não possibilidade de por de pé um dos, senão o mais emblemático e maior festival de música açoriano.
E foi com música nacional mais uma vez que se iniciou o primeiro dia com os Supernada que apresentaram temas do seu primeiro álbum "Nada é possível". Como normal, o recinto devagarinho ia ganhando forma com a população que entrava e com as bilheteiras ainda com filas para os recém-chegados à ilha nas habituais viagens de barco...Depressa a energia de Manel Cruz em palco e a fusão de sonoridades através de sintetizadores do rock característico fundiu-se com a plateia já disposta ao habitual "espírito de Maré".
Seguiu-se Nneka, a cantora nigeriana/alemã cativou logo a maioria dos festivaleiros aquando da sua presença no cartaz deste ano, não só pelo seu single "Heartbeat" conhecido pelos portugueses em varias peças televisivas portuguesas mas também pela sua fusão de hip-hop com raízes musicais diferentes cantadas em inglês e no peculiar "Igbo".
A energia dos espanhóis que terminaram a noite a nível de bandas, permitiu entrar na melhor forma no espírito do festival. "Mentira politica" dos Che Sudaka foi por exemplo um ponto alto dos vizinhos ibéricos que não pararam em palco.
A finalizar, depois de algum tempo na preparação do som, terminou em grande potência a noite com os Bulldogs, a conjugar a forte presença da percussão da bateria e as produções de estúdio deste duo alemão em Dubstep.
24 de agosto
Seguiu-se mais uma noite de Maré. O início desta manteve-se estrelado e tranquilo. Da mesma forma tranquila, começaram Hamilton de Holanda e Edmar Castaneda cujo som do bandolim de 10 cordas e da fabulosa harpa do colombiano radicado em Nova Iorque transmitiram como de habitual um início de noite tranquilo e com uma fusão de sonoridades que captam a atenção de um público mais reservado mas muito atento.
Directamente da Grã-Bretanha, Charlie Winston. O cantor da nova geração de música que está a colocar-se no topo europeu e com muito sucesso por exemplo em França, trouxe ao público da Maré um ritmo contagiante, característico pelos teclados e pela harmónica ligada a um pedal de efeitos, bem como uma presença bem viva e "teatral" de certa forma, que foi o suficiente para formar um excelente espectáculo, do início ao fim.
Já de madrugada, seguiram-se mais uma vez os sons de Espanha com Judith Mateo, trazendo um estilo musical já favorito dos festivaleiros, o Folk-Rock. Judith com o poderoso som do violino conseguiu adaptar desde os clássicos, aos sons Irlandeses sempre com as raízes das Astúrias e da Galicia acompanhada pelos ritmos do rock, funk ou até ska.
Não tão "violento" num sentido positivo, segundo os que permaneciam até o fecho de portas, mas batidas suficientemente influenciáveis trouxe-nos o DJ MPS Pilot da Holanda. Misturando suavemente e com brilhante execução rítmica, os sons da Ásia, África, Oriente Médio e América do Sul chegaram para um bom pé de dança até perto das 6h00.
25 de agosto
As bilheteiras não pararam durante o dia, sempre com novos festivaleiros a chegar e o barco chegava com mais uma multidão disposta a ouvir a música do mundo na baía da Praia Formosa.
Mais uma vez, com um público mais reservado mas muito atento, e mesmo com algumas pessoas que por curiosidade "infiltravam-se" no espaço do recinto e tranquilamente sentadas na zona de relva ouviam atentamente Rabih Abou-Khalil no seu alaúde e Ricardo Ribeiro, um mestre do canto português que criavam ambos uma sinfonia perfeita com a voz adequada ao tempo do alaúde e dos ritmos do quarteto. Ricardo Ribeiro, mostrou-se muito contente por tocar em Santa Maria, adequando-se à ansiedade que sentiu previamente pelo que já sabia da diversidade cultural do festival.
Seguiu-se Lyricson, o cantor da Guiné que vive actualmente em Paris trouxe de novo o reggae à Maré de Agosto. Lyricson foi uma alteração de última hora a Bushman no cartaz da Maré por razões alheias à organização. O cantor da Guiné trabalha paralelamente em muitos concertos de Manu Chao.
De Inglaterra chegam os Crystal Fighters que mostraram possuir uma energia cativante que espalham pelos seus concertos por todo o mundo desde o Japão até à America. Techno dance e uma abrangência de variados estilos musicais tornam a música dos Crystal Fighters única e característica por exemplo em "Plage" ou "Swallow". Foi definitivamente um dos favoritos de quem se deslocou à "Ilha do Sol" no fim-de-semana de 23 a 26 de Agosto.
A noite terminou com uma tripla de dj's portugueses que enalteceu o entusiasmo do público pela diversidade de gostos musicais adaptados aos vários escalões etários no recinto. Desde rock dos anos 50, ao disco dos anos 90. A tripla "Bailarico Sofisticado" tornou o encerramento de portas possível com muito ânimo da parte de quem saía para descansar de mais uma madrugada e noite de folia e muita música.
26 de agosto
Terminou em 3º lugar o programa "Ídolos" em 2003 e desde então não faltou destaques nos Estados Unidos e reconhecimento internacional. Luísa Sobral começou a noite de domingo, no último dia do Festival Maré de Agosto. Com um disco editado e um single, esta cantora portuguesa encheu os corações dos festivaleiros com a inspiração musical transmitida pelo seu quarteto e nos instrumentos que a própria Luísa tocou tais como harpa, xilofone, violão ou contra-baixo. Um "concerto calmo mas muito bom", de uma forma simples, era assim que algumas pessoas descreviam o início da noite de Domingo.
A noite prosseguiu mais uma vez com portugueses. Desta vez os Melech Mechaya, inspirados pela música dos Balcãs, cigana, árabe, tango e claro pelo fado, foi uma surpresa especial para quem ouvia com mais pacatez o início do concerto e rapidamente se difundiu no meio da plateia que dava o seu pé de dança. "Chapéu Preto" ou alguns "covers" adaptados ao seu estilo "Klezmer", os Melech Mechaya até uma grande roda criaram no meio do público que não renunciou a energia de Miguel Veríssimo no clarinete que conseguiu terminar o concerto com os outros membros a esboçar grandes sorrisos.
Talvez os "cabeça-de-cartaz" desta edição e com pouco tempo de existência mas já numa tour mundial de sucesso, os Suecos Royal Republic terminaram esta edição da Maré a nível de concertos. Talvez iniciando com algumas dúvidas em relação à aderência de quem lhes ouviria para a hora e meia seguinte, certamente que os "rockalheiros" da Tommy Gun ou da energética "Full Steam Space Machine" sentiram o poder do público que gritou, saltou e sentiu o rock dos suecos. A dar uma pré-visualização do mais recente álbum a ser lançado em breve, os Royal Republic tocaram e cantaram para um público que mostrou conhecer esta banda que já esteve no top #1 do MTV Rockcharts. Através de Adam Grahn no final do concerto, a banda mostrou-se muito contente por tocar num sítio à partida "isolado" (comparativamente aos habituais festivais onde tocam) mas onde a energia é excelente e o público esteve mais que à medida!
A noite terminou com um português da cidade invicta. Rui Maia, mentor do projecto "Mirror People" colocou ao rubro os que ainda permaneciam no recinto para terminar a noite com as batidas deste dj que participa noutro projecto a nível da electrónica e sintetizadores na banda X-Wife. A energia sentiu-se, e o público queria que o sol nascesse ao som das batidas deste projecto Mirror People.
Tal como a Associação Cultural Maré de Agosto criou há uns anos, pela presença de um francês Antoine Laborde na organização inicial do festival a ideia de "Spirrit" com dois "r" não é nada mais do que o verdadeiro "Espírito" que só quem presencia de perto estes 4 dias num sítio único, com música de todo o mundo consegue sentir. Este ano, nem as condições climatéricas do Gordon nos dias antes conseguiram afastar a base do festival. Os marienses, açorianos e quem habitualmente desloca-se à ilha de Santa Maria no último fim-de-semana de Agosto já esperam pela edição de 2013.
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Organização:Música no Coração
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sexta-feira, 02 agosto 2013