Reportagem NOS Primavera Sound 2014
Gonçalo Trindade
A chuvosa cidade do Porto recebeu na passada semana a terceira edição do festival internacionalmente reconhecido Primavera Sound, que todos os anos nos oferece um cartaz com um bocadinho de tudo do que a indústria musical banhada em glamour Pitchfork e artistas independentes têm para oferecer.
Desde a importação da marca Primavera Sound para Portugal e umas ligeiras alterações de nome de patrocinador principal que este projecto não tem parado de crescer e, de ano para ano, aumenta a fasquia e continua a dar razões para a sua perpetuidade no Parque da Cidade.
Entre regressos, reuniões e estreias, passaram pelos palcos do recinto, ao longo de três dias, nomes como Kendrick Lamar, uma das maiores referências do hip hop actual, a reunião dos shoegazers Slowdive e dos míticos Neutral Milk Hotel, bem como o regresso dos The National, John Grant e a estreia absoluta no nosso país das norte-americanas HAIM, do grungy-pop da Sky Ferreira ou as electrónicas escandinavas de Todd Terje, entre muitas outras variadas ofertas que o Primavera prima em apresentar, fazendo dele um dos eventos mais proeminentes na Europa e no Mundo.
5 de Junho
O primeiro dia do NOS Primavera Sound, porém curto, mostrou-se multifacetado, apesar de comparativamente a outros anos parecer um pouco mais disperso, tanto a nível de público como a nível de bandas. Foram nomes como Caetano Veloso, HAIM ou Kendrick Lamar que encherem o recinto e deram início as festividades de 2014.
Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos e membro dos Little Joy ao lado de Fabrizzio Moretti dos The Strokes, teve o prazer de inaugurar o palco Super Bock, após Os da Cidade encerrarem as hostes no palco paralelo. Com um sol a ameaçar desaparecer, foram melodias de embalar que fizeram o público prestar atenção. Com uma paz de espírito, sentia-se grato por estar num país que tanto o acarinha. Terceiro concerto em Portugal no espaço de uma semana, tendo estado um deles esgotado (ZDB em Lisboa), Amarante, percorreu o seu catálogo, onde “Maná”, “Irene” e “Tardei”, bem como “Mon Nom” em francês e “I’m Ready” demonstraram a versatilidade linguística e musical do cantor.
Pouco depois entraram os Spoon em palco para um concerto que foi tudo menos memorável e/ou interessante. Neste momento apenas importava o burburinho causado à volta de Sky Ferreira, a luso-americana e a sua estreia em Portugal.
O sol gradualmente esconde-se e pouco depois das 20h40, Sky Ferreira e companhia entram em palco. Ela, apática, apresenta-se e ecoam os primeiros sintetizadores a introduzir “24 Hours”.
Um concerto que poderia ter beneficiado de um melhor trabalho de som não deixou de ser interessante mas que pecou pela apatia de Ferreira. Foi verbalizando com o público mas não se compreendia o que dizia. Misturando Night Time, My Time, editado o ano passado, onde se ouviu “I Blame Myself” ou “Boys”, com os muito coesos EP’s. “Everything Is Embarrasing" que um fã sistematicamente gritava e uma das canções mais valorizadas do expólio de Sky Ferreira, fez as maravilhas dos presentes que em uníssono acompanharam a cantora de 21 anos.
O público, nomeadamente jovem das primeiras filas, mostrava-se entusiasmado por estar ver esta jovem popstar pouco convencional que tem um altar construído em comunidades online mas que ao vivo pouco impressiona.
Caetano Veloso, um dos mais icónicos cantores da cultura brasileira actuou em Portugal em meados de Abril. Passou pelo Primavera Sound de Barcelona e regressou a Portugal para encabeçar o Palco NOS ao lado de Kendrick Lamar nesta primeira noite que já se fazia chuvosa.
Apesar de atrair um público maioritariamente adulto, sentiu-se uma notável falta de interesse dos presentes, que nas primeiras filas já criavam um forte núcleo para ver Kendrick Lamar, prejudicando de certa forma a prestação do filho de Dona Canô.
Alana, Este e Danielle Haim pertencem também à lista de estreias absolutas em território português. Com Days Are Gone foram catapultadas para a ribalta e são singles como “Falling” ou “Days Are Gone” que as fizeram quem são hoje.
No entanto, ao vivo perdem toda a componente pop e direcionam-se para o rock grosseiro. Apesar de mais fluído e natural, a sua performance, ao se despegarem do álbum de estreia na sua íntegra, preferindo optar por jams sem fim, torna-as apenas mais uma bandas com mais atitude que conteúdo.
Se Kendrick Lamar têm a projeção que tem na indústria é porque a merece. Colaborações múltiplas e good kid, m.A.A.d city (2012) são suficientes para fazer um concerto que enche as vistas apesar de pouca duração para um cabeça-de-cartaz. Rimas fluentes intercaladas com sentimentos ou visceralidade vindas atreladas à sua voz, Lamar consegue dominar um público que está rendido as seus pés, comprovado com o aglomerado de jovens nas primeiras filas dispostos a tudo para ver King Kendrick de perto.
Não precisa de muito espalhafato em palco, apenas uma banda competente, samples de música clássica e alternar o seu reportório mais agressivo com o mais leve, nunca deixando de parte a comunicação com o público.
Estrearam-se em 2013, em Paredes de Coura, ainda muito no começo de uma carreira que tende a ascender. Vêm de Sydney, Austrália com Howlin, o álbum de estreia repleto de synthpop psicadélico. Delays de voz e sonoridades que não nos deixam indiferentes ou parados, os Jagwar Ma provam-se eficientes mas ainda numa fase inicial e com muito para amadurecer e isso comprovou-se, tanto no primeiro concerto que nos fez arquear a sobrancelha com curiosidade, bem como com o concerto que encerrou o primeiro dia do Primavera Sound no Porto.
6 de Junho
Macumba foi a primeira palavra que nos veio à cabeça quando entramos no recinto e vimos o aparato no palco Super Bock. HHY & The Macumbas fazem jus ao seu nome, onde o experimentalismo é a chave do seu sucesso mas apenas transpiram inovação estética porque de novo não têm nada. Concertos de um só álbum ou resultam muito bem ou muito mal. Este dos Television, em que tocaram Marquee Moon do início ao fim, ficou algures no meio. Sempre competentes, mas sem a garra de outrora, a banda dos anos 70 teve à sua frente um público mais curioso que conhecedor, e um som que podia ter estado melhor. Tom Verlaine continua um virtuoso, mas o tempo não perdoa, e isso notou-se na energia e na entrega. “Venus” ainda é uma grande música, tal como todas as outras, mas o concerto em si acabou por não fazer completo jus ao disco e à banda de outrora. Não foi mau, mas ficou longe do memorável.
Seguiam-se as Warpaint, que nos visitaram no já distante mês de Março e claro que não se iam ficar por aí. Num set que durou pouco mais de uma hora, não tiveram muito mais a acrescentar do que aquilo que já se viu antes. No entanto, houve tempo para “Ashes to Ashes” de David Bowie e revisitar os grandes êxitos de The Fool, como “Undertow” ou “Bees”, mas o núcleo forte centrou-se essencialmente no álbum homónimo, onde “Love is To Die” deixou os presentes em êxtase. Seguia-se o momento do dia: Slowdive.
21 de Maio de 1994 marcou o concerto final dos ingleses Slowdive. Vinte anos passaram e em 2014 anunciam ao mundo o regresso e o Primavera Sound foi dos palcos que recebeu de braços abertos o shoegaze melancólico de uma das bandas mais carismáticas dos 90’s alternativo.
Souvlaki, umas das bíblias do shoegaze inglês continua a ser um álbum de referência musical e a possibilidade de ser escutado ao vivo outra vez criou expectativa. Esgotaram duas salas londrinas e vão percorrer o mundo este Verão. Visivelmente felizes por estarem de volta aos palcos, a homónima canção “Slowdive” cria ambiente para “Crazy for You” de Pygmalion e “Catch The Breeze”, a primeira e única visita a Just for One Day,
“Souvlaki Space Station”, a mais envolvente criação de shoegaze, esperava-se um pouco mais intensa mas foi rapidamente compensada com “When The Sun Hits” e “Alison”, terminando o concerto com “Golden Hair”de Syd Barrett.
Rachel Goswell e Neil Halstead partilham a voz que se perde na distorção mas que hipnotiza qualquer um dos presentes. O concerto ficará certamente na memória dos fãs e dos muitos curiosos que se aproximavam. Com uma prestação simples, directa e humilde, os Slowdive mostraram-se eficientes, envolventes, coesos e melhores do que nunca e provaram que as vezes as reuniões só trazem benefícios
Era enorme, a plateia que ansiava o regresso dos Pixies ao nosso país, depois de um concerto esgotado no ano passado no Coliseu de Lisboa. E dificilmente essa plateia terá saído desiludida, depois de um concerto de 29 músicas debitadas com garra (Frank Black, sempre em grande forma) em menos de hora-e-meia. O problema dos Pixies actuais (e nem falamos da baixista actual, uma excelente substituta de Kim Deal) é simples: as canções recentes são fracas. Muito fracas.
São-no em disco, e são-no ao vivo, o que faz com que por cada dois ou três momentos de epifania absoluta haja um ou outro de ritmo morto. Se isso matou o concerto? Claro que não; apenas não o tornou perfeito, como nenhum concerto é. Os Pixies que temos agora não são os Pixies da melhor altura – mas são, ainda, os Pixies, e continuam incríveis. Canções como “Hey, Here Comes Your Man” (claro), “Gouge Away” (momento incrível, para contar aos netos) ou “La La Love You” (que sorte que tivemos nós em ouvi-la esta noite) acabam por valer por si só um concerto inteiro; e, no Primavera, foram muitas as canções tocadas que teriam tornado por si só o concerto num triunfo.
A postura da banda continua a mesma: não se dirigem ao público, tocam as (curtas) canções quase sem pausas entre si, e tudo isso acaba por ajudar ao ambiente de endeusamento que se sente ao ver o grupo em palco; porque eles são deuses, afinal de contas. Eles sabem-no, os fãs sabem-no, e o público do Primavera sabia-o. O público pareceu até mais respeitoso que entusiasmado, efusivo apenas nas mais óbvias (“Where is My Mind”, a terminar), mas sempre de sorriso na cara e sem arredar pé. Tocaram com energia, tocaram com garra, tocaram depressa e com difelidade cada música, e tocaram como só eles sabem; os Pixies continuam os Pixies, e os Pixies (pelo menos ao vivo) continuam incríveis. Dessa forma não nos foi possível espreitar Godspeed You! Black Emperor.
Andreas Trentemøller já passou por solo português. A sua direcção musical já sofreu alterações significativas. Do IDM (intellgent dance music) optou por seguir sonoridades mais sujas ao incluir guitarras. No entanto, em Lost, o mais recente álbum pode contar com a voz de Marie Fisker, que visualmente se assemelha a Jehnny Beth dos Savages. A electrónica em palco, como se pode ver após a saída dos Pixies do Palco NOS, ganhou proporções dançáveis mas que desvirtuaram toda o passado do produtor dinamarquês.
Dois deuses do post-rock numa mesma noite: Mogwai e Godspeed You! Black Emperor. Com um novo (e ligeiramente fraco) disco, Rave Tapes, na bagageira, os Mogwai fizeram no Primavera o que se esperava: deram epifanias a quem aguentou para os ver. Num alinhamento inspirado, logo a abrir com a fenomenal “White Noise” e onde nem faltou uma lindíssima “Auto- Rock” (primeira vez que a tocam no nosso país, cremos nós), não há falhas a apontar tirando uma: o som do palco NOS devia ter estado mais alto. Num festival onde o som dos palcos deixa, no geral, algo a desejar, o jogo de camadas dos Mogwai merecia um PA mais límpido, mais forte, e mais intenso.
Verdade que conseguimos distinguir todos os pequenos pormenores de canções como “I'm Jim Morrisson, I'm Dead” (logo a segunda) ou da clássica e de ir às lágrimas “Hunted by a Freak”, mas por vezes uns pormenores abafavam outros; gostávamos de ter ouvido mais guitarras na Remurdered (a melhor música do último disco), gostávamos de ter ouvido o violino na “Hunted by a Freak” (totalmente inaudível), e gostávamos que as guitarras na explosão da “Mogwai Fear Satan” (que tantos enfartes deve ter dado a tanta gente) estivessem ainda mais altas. Perante o concerto que deram, sem falhas e onde até as músicas novas nos soaram muito inspiradas (grande, grande “Mastercard”), isto acaba por ser um pormenor – mas é, ainda assim, uma falha a assinalar.
Tivesse estado o som melhor, e diríamos que superou o incrível concerto que deram em Paredes em 2011. Com o som que tiveram, no entanto, esteve um pouco (e só um pouco) abaixo. Mas acabam por ser pormenores, perante as lágrimas que sentimos nos olhos e alma cheia com que ficámos no final. Os Mogwai voltaram e, como seria de esperar, foram mais uma vez incríveis. Ficamos a rezar, no entanto, para que o próximo concerto seja a solo.
Há colaborações e colaborações mas poucas resultam tão bem como o exemplo dos Darkside. Nicolas Jaar presentou-nos com Space is Only Noise em 2011. Dois anos depois Psychic vê a luz do dia enquanto Darkside, que confina Jaar e Dave Harrington num dos projectos mais interessantes da electrónica actual.
Ao vivo, a componente visual sombria conjuga-se com a habilidade electrónica de Nicolas a elementos rock fúnebres, onde as guitarras têm um papel fulcral na construção do ambiente e na performance.
Coube ao produtor norueguês Todd Terje continuar o ritmo de festa que se criava na tenda Pitchfork. Apelidado de “Rei dos hinos de Verão”, Terje lançou recentemente It’s Album Time, que certamente inclina para toques de verão aliado ao melhor que a electrónica escandinava tem para oferecer. Colaborador dos Franz Ferdinand e de Lindstrølm, em palco, o produtor não precisa de muito para criar um ambiente de festa frenético e intenso que ninguém consegue ficar indiferente. Basta apenas um órgão e um computador e as primeiras batidas de Delorean Dynamite, Inspector Norse ou Svensk Sås e a plateia rende-se. Assim o fez e assim aconteceu, antecipando da melhor forma o encerramento do primeiro dia forte do festival.
7 de Junho
Eram oito da noite, ainda era de dia, e não era pouca a massa humana que ocupava o espaço em frente ao palco principal para ver os regressados Neutral Milk Hotel, depois do concerto a solo que Jeff Mangum deu neste mesmo festival há dois anos atrás.
Foram recebidos de braços abertos, e fizeram falta: bastou aquele início com o vocalista sozinho em palco a tocar a “Two Headed Boy” ("Não deviam abrir logo com esta, é a melhor!", disseram-nos) e a pedir que pousassem os telemóveis para se perceber o que aí vinha. Alternando entre momentos muito, muito bonitos (“In The Aeroplane Over the Sea”, incrível) ou momentos muito, muito intensos (a rockalhada que foi “Ghost”, por exemplo), o grupo de culto mereceu a legião de fãs ali à sua espera.
Houve moche (!!), houve lágrimas, e houve toda uma geração de sorriso na cara por estar, finalmente, a ver os Neutral Milk Hotel ao vivo. Mais um para contar aos netos.
Pouco se passou desde a última vinda de John Grant a Portugal, no passado mês de Dezembro. Entretanto, participou no delicioso novo álbum dos Hercules and Love Affair, mas ainda anda com o aclamado Pale Green Ghosts às costas.
Com um conjunto de músicos oriundos da sua terra adoptiva, a Islândia, Grant estava particularmente feliz por actuar em Portugal, tudo isto porque não conseguiu desmanchar o seu sorriso ao longo de uma hora, logo após a banda de Jeff Mangum sair de palco.
Logo a abrir surgiram os primeiros problemas técnicos que teve que inverter “Vietnam” para segundo lugar e colocar “I Wanna Go To Marz” como abertura. Alternando entre Queen of Denmark e Pale Green Ghosts, a voz de Grant e a sua composição estão num nível de tal forma elevado que a conjugação de ambos pode levar uma pessoa para lugares sombrios da consciência.
Cultiva uma boa relação com os fãs e partilha ,nas suas canções, episódios da sua vida, contanto louvores e dissabores da suas relações, que pelo que podemos escutar, não são propriamente as mais felizes.
Com a transição para a electrónica, em canções como “Pale Green Ghosts” ou “Black Belt”, a sua veia de composição clássica permanece em “Glacier” e na destruidora “Where Dreams Go To Die”, que rapidamente disse que o Porto não é esse lugar.
“Queen of Denmark” foi a escolha certa para encerrar de um concerto que correu em frente aos nossos olhos, colocando John Grant na lista de concertos que deixaram marca nesta terceira edição dos NOS Primavera Sound.
Já perdemos a conta às vezes que os The National vieram ao nosso país, mas só nos lembramos de duas em que vieram ao Porto: o concerto no coliseu em 2011, e agora este. E isso reflectiu-se num terceiro dia com um público maior que nos restantes, com uma plateia de milhares a transmitir uma onda de calor humano à banda de Berninger e companhia.
Os The National não vinham à Invicta há três anos, e as saudades eram mais que muitas. Isso acabou por ajudar a banda a dar aquele que, não sendo o melhor que já vimos deles, foi um concerto com um gosto especial. Berninger estava em particular boa forma, energético e de voz forte, a transmitir mais emoção e empenho que o que o vimos a fazer em Novembro do último ano, naquele que tinha sido um concerto bom mas talvez não digno daquilo que a banda é capaz; este, por seu lado, foi The National em estado puro, minado apenas por algumas escolhas de alinhamento inevitáveis (não somos dos maiores fãs do último disco).
Canções como “I Need My Girl” ou “Hard to Find” quebram o ritmo, ainda que estejamos a ser picuinhas – do início ao fim, a competência do grupo foi de louvar (ainda que, diga-se, estão cada vez menos comunicativos... consequência do estatuto cada vez maior, e dos concertos cada vez em maior quantidade). “Don't Swallow The Cap” abriu as hostes, e a partir daí foi um crescendo de emoção que culminou num Berninger a ir ao público (como sempre) nas incríveis “Terrible Love” e “Mr. November” (sempre, sempre cantada a altos berros), e com uma pérola de nome “Ada” retirada de Boxer (a nosso ver o melhor álbum da banda – obra-prima absoluta) que não era tocada nos nossos palcos desde um já longínquo concerto em Guimarães, quando a banda estava ainda longe de ter o público que agora tem; um momento especial, num concerto especial, como os deles costumam ser.
A autêntica massa humana que os recebeu tinha todas as letras na ponta da língua, e até o já regular final acústico com “Vanderlyle Crybaby Geeks” resultou em alguns olhos humedecidos à nossa volta (verdadeira prova de amor da parte deles, atreverem-se a fazer isto em festival). Foi o melhor que os vimos a fazer? Não, não foi. Mas foi como a banda é: especial, de levar o coração à boca, e memorável. Já perdemos a conta às vezes que cá vieram, e esperemos que assim continue.
Subiu ao palco para um dueto com Matt Berninger em “Sorrow” e seguiu para o Palco Super Bock logo depois para apresentar o mais recente trabalho homónimo St. Vincent. Annie Clark já não é nenhuma novata nestas andanças, tendo actuado em Portugal já por diversas vezes, porém nunca em nome próprio (já está na altura).
Mudanças de visuais e projectos com artistas de renome só provam que Clark é uma mulher de armas e de múltiplas vertentes, só é de lamentar que o novo álbum soe como uma continuação e inclusão de lados B do álbum com o mentor dos Talking Heads, David Byrne. No entanto, não é isso que faz dele um mau álbum e são canções como “Prince Johnny” ou “Digital Witness” que destacam ainda mais o nome de St. Vincent no panorama musical alternativo.
Com o progressivo sucesso, Annie Clark permanece a mesma humana desde que lançou Marry Me em 2007. “Rattlesnake” a faixa de abertura do seu mais recente trabalho prova a sua mestria com a guitarra, mas a sua presença em palco continua a ser o seu melhor trunfo.
A sempre bem-vinda “Cruel” leva-nos a Strange Mercy de 2011, mais tarde revisitado com “Cheerleader” e “Surgeon”. Infelizmente, ainda fomos espreitar Slint no Palco ATP mas conseguíamos ouvir “Birth In Reverse” a soar incrivelmente bem e a destruidora “Krokodil”, single do Record Store Day, a terminar em beleza mais um grande concerto desta pequena grande senhora que é Annie Clark.
Outro regresso aos palcos, em geral, foram os americanos Slint. Dois álbum foram o suficiente para colocar a banda de Brian Mcmahan num patamar de culto, que fez questão de cantar de lado ao longo de todo o concerto. Com um alinhamento centrado em Spiderland, o pós-rock doomificado e deprimente dos Slint deixou-nos qb desconfortáveis, no entanto satisfeitos com uma belíssima prestação.
E quando !!! (Chk Chk Chk) estão em palco já se espera um ambiente de festa. Na verdade, o que se recebeu foi uma festa que nada mais tem para oferecer porque a fórmula repete-se vezes sem conta. Nic Offer, simpático e energético e sempre de calções, continua optimista e sem problemas em se relacionar com o público mas nada de novo acontece para além disso.
Com um álbum novo nas mãos, THR!!!ER, os ritmos disco, sintetizadores sedutores e a voz rouca de Offer, como se pode escutar com o single “One Girl/One Boy”, entretêm esta última noite. No palco Pitchfork, Cloud Nothings preparavam-se para entrar em palco.
Oriundos de Cleveland e prontos a tocar no Porto, os Cloud Nothings mostraram-se energéticos e dispostos a dar uma das melhores performance do festival. Muito preoucupados com o seu público, apelavam a mais confusão de forma a castigar os seguranças, que aparentavam estar a tratar os presentes muito abaixo do que é suposto. Confirma-se.
Crus, directos e prontos a apresentar o mais recente trabalho Here and Nowhere Else, intercalando com Attack on The Memory, de 2012, Dylan Baldi e TJ Duke mostraram-se a escolha certa para encerrar a edição de 2014 do NOS Primavera Sound, antecedendo o dj Pional.
Contabilizados os números, foram cerca de 70.000 pessoas que atravessaram o Parque da Cidade ao longo de três dias, oriundas de mais de quarenta países para ver e ouvir música. Com uma edição fortemente vincada pela variedade e eclectismo dos músicos que estiveram em quatro palcos, o Primavera Sound novamente prova ser um marco na história dos festivais em Portugal.
As datas da edição de 2015 já estão asseguradas e serão brevemente divulgadas. Até lá, resta especular e esperar por mais novidades e para o ano há mais
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Organização:Pic-Nic
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sábado, 20 dezembro 2014