Reportagem NOS em D'Bandada 2014
Não é todos os dias que se vê a Invicta tão cheia de vida, submergida num clima de cultura e boa disposição. Contudo, foi precisamente esse cenário alegre e vibrante que invadiu as ruas do Porto, a 13 de Setembro, em mais uma iniciativa do NOS Em D'Bandada.
O conceito é já conhecido: durante um dia, vários artistas nacionais promovem o seu trabalho em diversos pontos da cidade, transformando-a na Meca da música portuguesa.
A maratona de concertos iniciou-se com a actuação, no Maus Hábitos, de Old Jerusalem, alter-ego de Francisco Silva. Acompanhado somente de uma guitarra acústica, o músico recordou alguns capítulos do romance folk que tem vindo a escrever desde 2001, levando-nos, através das doces melodias da sua guitarra, para um mundo paradisíaco. Para além das composições originais foram interpretadas algumas covers, entre as quais “In Liverpool” de Suzanne Vega e “The Rollercoaster Ride” dos Belle and Sebastian.
No mesmo espaço, os leirienses Backwater & The Screaming Fantasy mostraram que um percurso ainda breve não se traduz em falta de talento e garra. O grupo tem muito que evoluir, mas foram vários os momentos onde nos apercebemos do seu enorme potencial, seja num registo pop melódico, seja nas explosões de energia que trazem à memória os Linda Martini. Uma banda a manter debaixo de olho.
E o que dizer dos Ermo – esse encantador duo bracarense? Ainda em fase de promoção do disco de estreia Vem por Aqui, aproveitaram a ocasião para provar que as suas composições adquirem outra dimensão ao vivo. Para isso muito contribui a memorável prestação teatral do vocalista António Costa, senhor de uma voz possante e arrepiante – a luz que ilumina um caminho instrumental marcadamente eletrónico e onde reina um espírito pop de cariz sedutor.
Já no Plano B, os barcelenses Solar Corona fizeram o que já é habitual sempre que sobem a um palco: proporcionar alucinantes viagens espaciais através do seu space rock instrumental verdadeiramente entusiasmante, que tanto incita ao headbang como nos leva a fechar os olhos e a criar paisagens sonoras com a nossa mente.
Na Praça dos Leões, um dos lugares mais emblemáticos da cidade, Ana Matos Fernandes, mais conhecida como Capicua, voltou a mostrar que é uma das melhores rappers do actual panorama nacional. Acompanhada por M7 e D-One (tendo como convidados especiais Aline Frazão e Miguel Ferreira), a artista portuense levou o público ao rubro, alimentando-se da energia do mesmo e protagonizando um concerto apaixonado, emotivo e inesquecível. Não faltaram as mensagens que ilustram as preocupações sociais da cantora – escute-se a letra de “A Mulher do Cacilheiro” que versa sobre o fardo de muitas mulheres, aquelas que vão todos os dias trabalhar (às vezes em mais do que um emprego) e que deixam os filhos em casa, tudo para sustentar a família. Capicua é, portanto, alguém que tem algo a dizer, fazendo-o de forma surpreendentemente genuína, utilizando as palavras como armas que disparam convicções.
De volta ao Plano B, os HHY & The Macumbas transformaram a sala num templo de estranhos rituais sonoros, tão tribais como experimentais. Das raízes eletrónicas de Jonathan Saldanha, nasce um ensemble minuciosamente caótico, que nos leva para atmosferas envoltas em mistério e marcadas por uma aura de magia negra.
Muitos outros concertos tiveram lugar – destaque-se igualmente as actuações de Holy Nothing e White Haus no Café au Lait – num evento que aglomera uma interessante montra de talentos nacionais. Para o ano há mais!
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sábado, 20 dezembro 2014