Reportagem Optimus Alive! 2013 - Dia 12 de Julho
Alexandre Lopes
Ao longo de sete anos, os portugueses viram um festival que se esperava limitado aos residentes evoluir para algo maior, valioso e de preservação obrigatória. O Optimus Alive! completou no passado fim-de-semana sete anos de existência, viu as suas fronteiras chegar em força a terras de sua majestade, deixado sempre claro o ideal: “O melhor cartaz. Sempre.”
Nomes fortes, nomes em ascenção, uns já repetentes e outros nem por isso que fizeram desta edição, por onde passaram certa de cento e cinquenta mil pessoas, mais um grande sucesso.
Esperava-se um sol radiante e um calor abrasador, mas este primeiro dia de festival abriu as portas aos milhares de festivaleiros com uma nuance friorenta e um céu cinzento.
Miguel Abelaira e Pedro Ferreira são os Quelle Dead Gazelle, os vencedores da edição deste ano do Festival Termómetro, e tiveram o previlégio de inaugurar o Palco Heineken, que aguardava nomes como Vampire Weekend, Crystal Castles ou Alt-J ao longo dos três dias de festival, apresentado o recém editado EP homónimo.
Pouco depois toca Jamie N’ Commons a dar continuidade ao alinhamento do palco secundário, mas no Palco Clubbing, já com tudo a postos, entra Gold Panda, oriundo de Essex e repetente do festival, para apresentar Half of Where You Live, o novo álbum, enquanto no palco principal, os Stereophonics iniciavam a sua actuação.
Kelly Jones e a sua banda já contam com oito álbuns e já visitaram Portugal por diversas vezes mas nunca foram recebidos com a euforia devida. Os presentes, na sua maioria de origem britânica, cantam e outros balbuciam numa tentativa de acompanhar mas sem grande sucesso.
Depois dos Stereophonics terem iniciado oficialmente as actuações do Palco Optimus, era a vez dos escoceses Biffy Clyro subirem ao palco. E que concertão!
Depois de terem actuado no festival em 2010, a banda regressou a Portugal para apresentar o mais recente álbum, Opposites, lançado no início do ano. Ao vivo, o trio de rock escocês constituído pelo vocalista Simon Neil, o baixista James Johnston e o baterista Ben Johnston ganham a ajuda de mais dois elementos. Contudo, o que salta à vista assim que os Biffy Clyro entram em palco é precisamente o facto de o trio estar em tronco nu – as temperaturas do dia não convidavam a grandes aventuras - em oposição aos tais dois elementos extra.
O concerto começava com “Stingin’ Belle” do último álbum do estúdio que, além deste tema, contou ainda com versões ao vivo de “Biblical” e “Black Chandelier”. Bem recebidas, contudo, foram canções como “The Captain”, “Bubbles” e “Mountains” que se revelaram mais fortes entre o público, tendo sido entoadas por uma já agradável mancha de gente.
A música dos Biffy Clyro tem muita força: é um rock rebelde, com refrões gingões, produzido por homens de tronco nu que demonstram o quão clássicos são graças às suas poses e movimentos.
Esforçaram-se por falar em português e ainda tiveram uma bandeira portuguesa no palco, lá mais para o final do concerto. Esperamos vê-los em breve, quando iniciarem a sua digressão em Dezembro.
Entretanto no Palco Heineken, Sixtrionix é o nome do álbum de estreia com que as Deap Vally se apresentam. Depois de actuarem no Coliseu dos Recreios fazendo as honras a Marc Mumford, foi desta vez no Palco Heineken que Lindsay Troy, dedilhando a sua guitarra de forma impiedosa e Julie Edwards, escondida atrás da sua bateria e o seu cabelo ruivo pomposo, provaram que ainda se faz garage rock de qualidade e que não é só para homens de barba rija.
Aluna Francis e George Reid actuaram em Dezembro no Cais do Sodré para uma plateia muito longe de encher e sete meses depois o público quadriplicou. Esgotaram salas em todo o mundo e o lançamento do muito aguardado Body Music faz com que os AlunaGeorge sejam uma das muitas bandas a acompanhar, pois estão destinados ao sucesso. O Palco Clubbing já estava com falta de espaço para os muitos que queriam dançar ao som de "You Know You Like It” ou “Attracting Flies”. Houve, porém, espaço para canções novas: “Montell” ou “Be Your Boo” também integraram o alinhamento. Aluna, apesar de estar contente por regressar, mostrou-se dispersa e pouco entusiasmada, prejudicando de certo modo assim uma actuação que não teve a sua melhor prestação e que terminou com a colaboração da banda cabeça-de-cartaz do palco desse dia: os Disclosure, finalizando com “Your Drums, Your Love”.
O regresso dos Japandroids era quase inevitável depois do infeliz dia de chuva que se fez notar na edição do ano passado do festival Paredes de Coura. Brian King, na guitarra, e David Prowse, na bateria, já têm dois álbuns editados desde que começaram a sua carreira em 2006. Post-Nothing e Celebration Rock estiveram presentes num alinhamento não muito extenso mas intenso, com muito pouco tempo para conversas e apreciações.
Os Two Door Cinema Club eram os senhores que se seguiam no palco Optimus. Com concerto marcado para as 20h25, já tiveram uma bem maior mancha de público a ver a sua actuação, em relação aos Biffy Clyro. Temos a sensação que os norte irlandeses têm vindo a conquistar cada vez mais público em Portugal. Esta foi a quarta presença da banda no nosso país - liderados por um impecavelmente vestido Alex Trimble, que chegou a beber um copo de vinho em palco, a banda tem vindo a acentuar cada vez mais e melhor as suas actuações, tendo dado um concerto bastante eficaz. Cada vez mais maduros, apresentam uma música que, embora nos pareça muito igual, acaba por funcionar muito bem para momentos dançáveis e imediatos.
Com dois álbuns lançados até à data, Tourist History (2010) e Beacon (2012), a banda levou até ao Passeio Marítimo de Algés a sua pop indie-dance e muito festejada, através de temas como os muitos cantados e aplaudidos “Do You Wanti It All?”, “I Can Talk” e “What You Know” do primeiro registo, aos mais recentes “Handshake” e “Someday”.
Não é preciso pensar muito: canções rápidas, limpas, com refrões dançáveis. Eles sabem o que fazem, e o público gostou.
Para quem achar que Edward Sharpe existe mesmo então está enganado, pois não passa de uma história inventada por Alex Ebert, o vocalista (a sério) deste colectivo. Edward Sharpe veio à terra para salvar e curar a humanidade mas essa tarefa foi-lhe dificultada devido à tentação e pecado provocada por jovens raparigas. Musicalmente é um cliché americano, onde se ouvem canções country e o folk genérico em formato meio orquestral, unindo a voz de Alex Ebert e Jade Castrinos a uma parafernália de instrumentos de modo a criar canções modestas.
Ao longo de 10 canções os Edward Sharpe & The Magnetic Zeros tiveram a sua estreia em solo português e “Home”, o aclamado single (tornado ainda mais conhecido ao ser usado num anúncio de televisão), foi celebrado com sorrisos, lágrimas e louvores, fazendo justiça a toda a humildade de Ebert ofereceu a um público que estava claramente presente para o ver a cantar.
Jessie Ware, um dos nomes mais sonantes deste primeiro dia, foi, sem dúvida, uma das melhores revelações e estreias que passaram pelos palcos do Optimus Alive! deste ano. Foi em Devotion que o mundo descobriu a voz que esta cantora do sul de Londres possui e desde então não parou. Colaborações, remisturas e Best New Music pela Pitchfork catapultaram-na de pequenos bares para grandes palcos. O Palco Clubbing estava cheio para ouvir “Running” e “Wildest Moments” onde Jessie Ware, com uma energia cativante e humor inesgotável perante os que recusaram abraçar o punk rock dos cabeça de cartaz do dia, tornou a noite mais acolhedora, dedicando “Valentine” a uma fã que lhe ofereceu pastéis de nata e pudim.
E finalmente, os Green Day - o famoso grupo norte-americano era a grande figura do dia inaugural do Optimus Alive!. Na bagagem traziam o seu mais recente trabalho, dividido numa trilogia de álbuns: ¡Uno!, ¡Dos! , ¡Tré!. Podiam ter sido os reis da noite – não o foram.
Vejamos: a trilogia não é, nem de perto nem de longe, o melhor trabalho da banda. E essa certeza foi algo que não abonou em nada a favor dos Green Day.
Antes da entrada do grupo em palco, já algum elemento da banda – não se sabe quem ao certo – entrava em cena em traje de coelho, para gáudio de todos os presentes. Depois destes minutos de puro entretenimento, o trio americano – que ao vivo deixa de ser um trio – entrava em palco ao som de “The Good, The Bad and the Ugly” para logo começar com “99 Revolutions”.
Este foi um concerto em formato best-of, ou seja, os novos temas pouco ou nada acrescentam de novo à sonoridade de sempre - soando a mais do mesmo, mas pior – tendo sido dado largo destaque a músicas de álbuns como “Dookie” ou “American Idiot” que fizeram a delícia dos presentes.
Quem esteve no concerto da banda no antigo Pavilhão Atlântico (agora Meo Arena) irá lembrar-se de alguns pormenores do concerto, certo? Pois. O espetáculo que os Green Day deram no Optimus Alive! não fugiu muito à regra.
Não foram temas como “99 Revolutions” “Stay The Night” ou “Oh Love” que fizeram o público delirar, mas sim clássicos como “Boulevard of Broken Dreams” (cantada a plenos pulmões), “Wake Me Up When September Ends” , “When I Come Around”, entre outros.
O grupo repete a fórmula até à exaustão: puxam pelo público mais do que deviam, pedindo várias e várias vezes para dizerem “say eeeehhhhh ohhhhh”; utilizam o “let’s go f**king crazy” demasiadas vezes e o “are you ready?” é recorrente.
Depois, temos o resto: o uso de mangueiras para refrescar o público, a pistola que dispara papel higiénico, outra pistola que dispara t-shirts… Onde é que já vimos isto? Ah sim, em 2009.
Nem tudo foi mau: o grupo funciona bem colectivamente e é uma máquina bem oleada ao vivo e que, apesar de tudo, funciona muito bem. Ouvimos várias músicas, reconhecemos logo “Know Your Enemy” ao segundo tema a ser tocado, “Let Yourself Go” teve Billie Joe Armstrong, o vocalista do grupo, envolto na bandeira portuguesa, e no tema “Longview”, do velhinho álbum Dookie, um rapaz conhecido como Manuel, é convidado a subir ao palco para tocar guitarra. Correu bem. No fim ainda levou uma guitarra de presente para casa – duvidamos que no resto da sua vida vá receber uma prenda com tanto sentimento.
Ainda ouvimos “Basket Case”, “King For a Day” – música-palhaça onde o trio americano normalmente se mascara – antes de ir para o encore.
Regressados ao palco, tocaram a muito aguardada “American Idiot”, a longa e bela “Jesus Of Suburbia” e, por fim, “Brutal Love”.
Foram 2h30 de regresso ao passado. Esteve muita gente a assistir ao concerto dos Green Day. Todo o aparato do espetáculo pode soar algo falso e demasiado rebuscado, mas uma coisa é certa: funciona.
Os Vampire Weekend tocaram num palco secundário (ou Heineken, como lhe queiram chamar) à pinha, sobrelotado com tanta gente a querer vê-los, o que nos deixou com dúvidas se não teria sido mais indicado colocar estes nova iorquinos a tocarem no Palco Optimus.
O mais recente (e fantástico) trabalho do coletivo, Modern Vampires of the City, já parece bem conhecido de quem os vê – temas como “Ya Hey”, “Unbelievers” – o videoclip foi gravado em Portugal - ou claro, o single “Diane Young” foram bastante celebrados. Ainda assim, foram temas como “Cousins” ou “Walcott” que provocaram uma estrondeira de berros no Palco Heineken.
Têm muita qualidade, os Vampire Weekend: aprumados, o seu som com sabor a África misturado com a alegria tropical torna-los numa banda única do mundo. Mas são muito tímidos.
Ao vivo tudo funciona bem, a voz de Ezra Koenig, vocalista da banda, sai impecavelmente bem e todos os sons perfeitamente nítidos. Embora “Diane Young” seja o seu hit de verão, os Vampire Weekend deixam o público rendido com “Cape Cod Kwassa Kwassa”, “Horchata” e “A-Punk”.
Só lhes falta um pouco de improviso ao vivo, para não parecerem tão mecanizados. De resto, nada a apontar. Foi, possivelmente, o melhor concerto do primeiro dia, e esperemos que regressem, em nome próprio.
Podíamos resumir o concerto numa única palavra: brilhantes, estes rapazes de Nova Iorque.
Eis que assim que o relógio bate na uma e um quarto da manhã que os muito aguardados Disclosure subiram ao palco. Apesar de uma curta carreira, os irmãos Guy e Howard Lawrence já têm o seu nome gravado nas pistas de dança e na história da música House. Settle, o álbum de estreia é um sucesso mundial, onde até Azealia Banks já demonstrou o seu agrado, conta com colaborações de ilustres artistas, como London Grammar, Eliza Doolittle, bem como AlunaGeorge e Jessie Ware, que regressou ao palco para cantar “Confess To Me” e a sua própria canção “Running”, agora remisturada pelos irmãos Howard. A tendência para as bandas que vingam no house é sempre as remisturas constantes, crossfades em excesso e o dito “carregar nos botões” na experiência live. Os Disclosure juntam a esses clichés os instrumentos e a voz, invalidando todos os comuns defeitos apontados a artistas do género, dando-lhes a confirmação e credibilidade necessária de prodígios da música electrónica actual. A presença de Aluna Francisem “White Noise” ou de Eliza Doolittle em “You & Me” é dispensável quando os Disclosure dão um concerto onde ninguém pára quieto, seja numa dança introspectiva ou para perder a cabeça com a vocalista dos London Grammar em “Help Me Lose My Mind”, a dar lugar a “Latch”, que encerra uma das melhores e mais aguardadas actuações do dia.
Com o cancelamento dos Death From Above 1979, Marky Ramone’s Blitzkrieg foi destacado para preencher a (grande) vaga, depois de terem já actuado no Santiago Alquimista. Marky Ramone leva, nesta tour, aos quatro cantos do mundo a experiência “Ramones” que muitos se podem considerar privilegiados por presenciar, pois é o mais perto que estarão de uma perfomance ao vivo da lendária banda do punk rock. Para tal convidou Andrew W.K, o considerado deus da festa e recém recordista do Guiness para intrepretar clássicos como “Blitzkrieg Bop”, “Sheena is a Punk Rocker” ou “I Wanna Be Sedated”, encerrando assim o primeiro dia do Optimus Alive!
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Organização:Everything is New
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quarta-feira, 17 julho 2013