Reportagem Optimus Alive! 2013 - Dia 14 de Julho
Alexandre Lopes
Recorrer aos Linda Martini para abrir um palco de um festival do calibre do Optimus Alive! é uma solução fácil e segura. Donos e senhores de uma sonoridade que já lhes é característica, o que têm a acrescentar aquilo que já se viu pela milésima vez é pouco mais do que as mesmas guitarradas pesadas que nos fazem agarrar ao assento, e diga-se, já pouco ou nada impressionam. Turbo Lento é o nome do próximo álbum, sucessor de Casa Ocupada, mas sempre com espaço para a icónica “Dá-me A Tua Melhor Faca”, que abre o concerto de início do último dia do festival, e que é e sempre será louvada pela legião de devotos que estão sempre na frente a apoiar estes lisboetas com capacidades (aparententemente) messíonicas com que percorrem o país dia sim, dia sim.
Os portugueses Brass Wires Orchestra, logo após à estreia dos britânicos Tribes, foram os terceiros a tocar no palco Heineken. Com uma sonoridade que nos faz lembrar Beirut e Mumford and Sons – e este parece ser um estilo de música que está na moda – os oito elementos conseguiram contagiar a já agradável parcela de público que se encontrava a vê-los, com a sua alegria e boa folk, em temas como “Wash my Soul” e “Tears of Liberty”. Aliás, os BWO chegaram mesmo a passar do seu tempo de actuação previsto – conseguimos ver um membro da organização a dizer que tinham de acabar o seu set. Ainda sem álbum editado – só sai em Setembro – mas mal podemos esperar por ele. Têm futuro!
A New Musical Express, conhecida pelo comum mortal por NME, a revista bíblica de música do Reino Unido faz um trabalho satisfatório q.b. a divulgar novos nomes, mas por vezes os novos artistas são sobrevalorizados. Foi o caso de Jake Bugg. Com um contrato aos 17 anos com a Mercury Records logo após a sua actuação no Glastonbury, é agora aos 19 anos que Bugg começa a ganhar nome (sério) no panorama britânico. Lembra Bob Dylan, Donovan e Johnny Cash enquanto toca para a plateia do Optimus Alive! já conhecedora do seu trabalho. Conquista mas não surpreende.
Do outro lado do recinto previa-se uma enchente. Já antes do concerto era muito difícil circular pelos limites do palco Heineken, e vimos muitos cartazes referentes aos Of Monsters and Men. “Marry me Nanna” – uma das vocalistas do grupo – era um desses exemplos.
Depois de entrarem em palco, os islandeses ficaram bastante surpreendidos ao tocarem para tanto público, que era um conhecedor de letras de várias músicas do álbum de estreia My Head is An Animal editado em 2011.
Comandados por Nanna Bryndis Hilmarsdóttir e Ragnar Þórhallsson, notava-se – e bem – os sorrisos destes nórdicos ao se depararem com o público português. Músicas como “Dirty Paws”, “King and Lionheart”, “Mountain Sound” ou “Little Talks” – música mais esperada, mais conhecida e mais celebrada – bem interpretadas ao vivo, e demonstrando bem o folk-pop do grupo, fizeram deste um dos melhores concertos de todo o festival. Ainda houve tempo para, lá a meio do concerto, Ragnar atar uma bandeira portuguesa ao seu microfone, brincando com o público sobre qual seria a posição ideal para colocar a bandeira.
Kevin Parker torna-se com o avançar do tempo, para além de produtor, vocalista, guitarrista, um génio e uma figura incontornável da música. Produziu o álbum de Melody Prochet dos Melody’s Echo Chamber, também sua namorada, e percorre o mundo, actualmente, com Lonerism, o segundo álbum da sua banda – os Tame Impala.
Nada melhor do que aproveitar o fim de tarde sem grandes pressas para um momento de meditação graças ao leve rock psicadélico sonhador que uma guitarra nas mãos de Kevin Parker emite, neste que seria o último concerto da tour mundial dos australianos. “This is the last show of the tour. We are going home tomorrow” relata Parker enquanto dá continuidade à sessão de terapia sonora. “Elephant” é de agrado e conhecimento geral mas é certamente “Feels Like We Only Go Backwards” que o público desperta e canta efusivamente enquanto abana os braços e se foca nas projecções caleidoscópicas em substituição da imagem da banda nos ecrãs do palco.
Uma boa dose de boa disposição e um “Half Full Glass Of Wine” para terminar um concerto de excelente qualidade, foi o que os Tame Impala ofereceram de bom grado, fazendo desta aguardada actuação uma das mais celebradas e faladas.
Foi com a palavra “saudade” que George Lewis Jr. agradeceu no seu concerto em território português, segundo o próprio. Desde então, o cantor de “Castles in The Snow”, do seu álbum de estreia Forget lançou o sucessor Confess, já confessou aos português, por diversas vezes, o prazer que é tocar neste nosso pacato país. O tempo era escasso e os Phoenix preparavam-se para actuar no palco Optimus, dando só margem para tocar cerca de nove canções mas que, quem já viu Twin Shadow ao vivo, sabe que não iria perder grandes mudanças. A sonoridade romântica dos anos 80 e a facilidade com que George Lewis Jr. seduz os presentes com “Slow”, logo após “Panama” uma canção tornada célebre pelos Van Halen, não é muito diferente do que se passou no Coliseu do Porto ou no anfiteatro do Festival Paredes de Coura.
Antes dos Kings of Leon, cabeças de cartaz, actuaram os franceses Phoenix, que trouxeram consigo o fantástico Bankrupt, lançado em Abril deste ano.
Podemos dizer que este foi dos concertos mais aguardados do dia. A banda natural de Paris de França começou o concerto com a bombástica “Entertainment”, como tem vindo a ser habitual na sua tour. Foi com a mesma música que acabou o concerto, diga-se.
Os Phoenix, apesar de nunca terem sido uma banda muito popular em Portugal, conseguiram ter imensa gente a vê-los, pondo várias pessoas a dançar – era fácil ver vários grupos a dançar e pular até mais não – com o seu pop-rock dançável e alternativo.
As músicas são todas certas, não há muito espaço para improviso. Sucedem-se rapidamente, não deixando cair o concerto na monotonia e, ainda que as conversas com o público sejam poucas ou nenhumas, ainda tivemos direito a um crowdsurfing em “If I Ever Feel Better” por parte do vocalista Thomas Mars.
Ainda tivemos a oportunidade ouvir temas como “Lasso” ou “Lisztomania” do álbum Wolfgang Amadeus Phoenix, de 2009, que elevou os Phoenix ao pedestal.
Alt-J é uma das muitas banda-fenómeno que ganharam proporções astronómicas no panorama musical do nosso país. Passaram pelo Milhões de Festa, ainda sem terem ganho o Mercury Prize, que lhes valeu destaque mundial, e pelo Teatro Tivoli BBVA no Vodafone Mexefest, onde actuaram perante uma sala a rebentar pelas costuras e onde, infelizmente, nem todos tiveram a possibilidade de entrar. Para a terceira actuação no nosso país, o palco é o Heineken do Passeio Marítimo de Algés, novamente para uma plateia que vai contra os limites da área do local e se extende até metade da zona da restauração.
An Awesome Wave é, sem dúvida, um álbum incontornável da música actual e recriar algo tão trabalhoso ao vivo não é tarefa fácil, mas a voz bucólica de Joe Newman encarrega-se de envolver os presentes. Aos primeiros acordes de “Matilda” já se ouvia “THIS IS FOR, THIS IS FOR, THIS IS FOR MATILDA!” , ainda havendo tempo para “Buffalo”, uma canção desenvolvida para o filme Silver Linings Playbook protagonizado por Jennifer Lawrence, que lhe valeu um Óscar, e o mashup de “Slow” de Kylie Minogue com “Slow Dre” do Dr. Dre. Mas foi com o “Breezeblocks” que se instalou a festa e o uníssono de “Taro” declara como encerrada um dos concerto mais esperados do dia, que por mais enchentes e que dê pouca vontade de permanecer no palco, Alt-J merece ser visto pelo menos uma vez na vida.
Eis que chega o momento do último grande cabeça de cartaz do Optimus Alive! 13. Coube aos Kings of Leon encerrar as festividades de 3 dias no palco Optimus, com o seu rock talhado para estádios. Contudo, este não foi, nem de perto nem de longe, um dos concertos mais entusiasmantes de todo o festival.
Este espetáculo apresentava-se como sendo o último da tour dos Kings of Leon. O grupo tinha passado recentemente por alguns problemas. Em 2011 abandonavam concertos a meio, cancelavam digressões de 30 datas, devido aos supostos problemas de alcoolismo do vocalista Caleb Followill, tendo entretanto regressado aos concertos e à gravação de um novo álbum de estúdio.
Aqui, no Optimus Alive!, o concerto começou às 23h00. A banda estivera há alguns anos no Rock in Rio Lisboa de 2004, onde actuava como "enchimento" no cartaz. Mas bastou o lançamento do fenomenal Only By The Night para tudo mudar.
A banda, constituída pelos irmãos Caleb Followill na voz, Ivan Followill na bateria e Michael Followill no baixo, onde ainda se junta o primo Jared Followill na guitarra, começou por iniciar a sua actuação com “The Bucket”, para logo em seguida se ouvir “Radioactive” do último álbum lançado até agora, Come Around Sundown, que mais parece um Only By The Night versão 1.5.
Os nativos de Nashville depressa animaram a plateia com temas como “Notion” e “Closer” tocados logo de seguida mas, embora estes fossem dos seus temas mais conhecidos, nem assim o público reagia efusivamente. Seria do cansaço? Não parecia. À medida que as músicas iam passando, o público parecia algo adormecido. Estava distraído, haviam conversas paralelas, e só reparávamos que as filas das frente é que estavam, efectivamente, animadas.
O discurso de Caleb também não ajudou. Todo aquele ar trabalhado para parecer um homem que se dedica muito à família não funciona, e nem sequer o facto de dizer, mais do que uma vez, que este seria o último espetáculo da digressão, pareceu acordar o público do Alive!. Ainda assim, não foi propriamente expressivo com o público, e os seus “Obrigado” soavam demasiado forçados.
A terminar o set – antes do obrigatório encore, é claro – esteve a muito celebrada "Use Somebody", que todo o público cantou a plenos pulmões.
Regressados ao palco, tocaram mais três músicas e, como seria de esperar, deixaram o seu mega trunfo para o fim: “Sex on Fire”.”Estão preparados para cantar?” perguntava Caleb. E foi, em absoluto êxtase, que terminou o concerto dos Kings of Leon, que devem ter saído satisfeitos só devido a esta última parte do concerto.
Terminava assim o funcionamento do palco Optimus nesta edição do Alive!. Foi um concerto memorável? Nem de perto. Não foi mau, contudo.
Siga para Band of Horses.
“Já tocaram a “Is There a Ghost” e a “No One’s Gonna Love You””, diziam ao nosso lado. Ainda assim, do que conseguimos ver, o público ia aderindo ao som apresentado pela banda de Bridwell, que anda pelos lados do Southern rock e do country alternativo.
O mais recente Mirage Rock, lançado em 2012, é um álbum demasiado frio, e não chama muito a atenção. A prova disso? “The Funeral”, do primeiro álbum Everything All the Time – juntamente com "Cease to Begin", são os melhores registos do grupo – ter sido a canção mais festejada por uma tenda cheia. Percebe-se. A música é realmente um espanto.
Foi um bom aquecimento para a banda que se seguia, os Django Django.
Vimo-los na edição passada do Vodafone Mexefest, onde deram dos melhores – senão mesmo o melhor – dos concertos do festival de Inverno. Voltaram ao Alive! para tocar num palco Heineken cheio, com um concerto ainda melhor.
Estamos orgulhosos do caminho que esteres rapazes estão a trilhar: eles são espetaculares ao vivo. A noite já ia longa, com muitos concertos, mas os Django Django foram capazes de agarrar um público já cansado, mas que ainda assim dançou freneticamente, ao transformar o palco Heineken numa pista de dança gigante.
Liderados por um alucinado Vincent Neff, vocalista que nunca parava de dançar em palco e puxar pelo público, estes ingleses tornam-se, ao vivo, substancialmente diferentes ao imprimir uma vertente dançável e excitante às suas músicas. Provas disso são músicas como “Hail Bop”, “WOR” ou a conhecidíssima “Default” se transformarem por completo em palco, para algo ainda melhor.
“Firewater”, “Waveforms” ou “Skies Over Cairo” dão ainda outra chama de energia a um concerto desde logo ganho pelos Django Django, que até chegaram a pedir ao público para se abaixar, e depois em conjunto consolidarem um mega salto para a festa da música.
Se no álbum são excitantes, ao vivo são excelentes. Ouve-se tudo com a melhor definição, sintetizadores ao máximo, guitarras fortes, bateria feroz.
Termina assim mais uma edição do Optimus Alive!. Uma edição que contou com boas surpresas e algumas desilusões, mas onde, ainda assim, passaram 150 mil pessoas. O festival é um sucesso, ninguém o pode negar.
Já existem datas para 2014: 11, 12 e 13 de Julho, segundo fim-de-semana do mês, e já se fala de Atoms For Peace, a super banda liderada por Thom Yorke dos Radiohead, para a próxima edição. A confirmar ou não... lá estaremos para o ano.
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Organização:Everything is New
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quinta-feira, 18 julho 2013