Reportagem Optimus Alive!10 - 10 de Julho
Dia 10 de Julho, último dia do Optimus Alive!10. O calor permanece e desta feita traz consigo um vento desagradável que espalha poeira pelo ar. A quantidade de pessoas que acorrem a Algés é inimaginável; só quem testemunha acredita no que vê. Ainda há quem se dirija de propósito ao local na esperança de adquirir um bilhete de última hora.
Pouco passava das seis da tarde quando Sean Riley "e os seus" Slowriders subiram ao Palco Super Bock. Com muito muito ritmo Sean Riley liderou com distinção os músicos que o acompanham, surpreendendo pela positiva aqueles que ainda não estavam familiarizados com o rock desta banda portuguesa. Durante o simpático concerto da banda de Coimbra foi possível apreciar as vastas influências na sua música. Buffalo Turnpike foi um dos momentos altos do concerto, com a interpretação irrepreensível do single retirado de Only Time Will Tell. Sean Riley aproveitou também para mostrar no Optimus Alive o seu mais recente single com os Slowriders, Talk Tonight. Um concerto muito agradável, onde a actuação ao vivo faz jus ao bom trabalho de estúdio da banda.
Em dia de lotação esgotada, coube aos ingleses Gomez abrir o Palco Optimus, com o álbum A New Tide para apresentar. Já lá vão mais de dez anos desde que Bring It On e Liquid Skin catapultaram a banda de Ian Ball para um outro patamar, mas desde então têm sido iguais a si mesmos. Músicas muito bem conseguidas e com uma excelente construção, e acima de tudo bem executadas ao vivo. Do inicio ao fim, os Gomez entreteram o público presente no Passeio Marítimo de Algés, que aproveitou os tons suaves dos britânicos para relaxar e aproveitar as últimas horas de sol.
O recinto do palco alternativo continuava abastado, apesar de cada vez mais pessoas se dirigirem ao palco Optimus a fim de marcar lugar para Pearl Jam. No entanto, ainda havia muito tempo para as outras bandas. Era agora a vez de Miike Snow, banda sueca que se encontra em ascensão. Na mala vinha o álbum homónimo, que foi apresentado perante um público repleto de fãs estrangeiros.
De máscaras brancas, a banda pisou o palco, enquanto mais gente se reunia no recinto e muitos se levantavam a fim de dançar ao som electropop da banda. Burial fez sucesso, antes de Black and Blue, tocada com potência que resultou num dos momentos altos da actuação. As máscaras caíram e a festa começara oficialmente. Com muitas partes instrumentais, temas como A Horse Is Not a Home e Silvia mostraram variedade e proporcionaram momentos mais calmos. A primeira parte teve mais força que a segunda, mas o single Animal, reservado para o final, trouxe de novo muita dança e saltos.
Era chegada a hora para a festa, no verdadeiro sentido da palavra. Os americanos Dropkick Murphys com o seu punk céltico, entraram para arrasar no Palco Optimus com The State Of Massachussetts. É incrível como nesta banda há toda uma sintonia na qual nem parece haver um verdadeiro líder tal é a harmonia que parece existir dentro da banda apesar das mudanças de formação. A mistura que estes norte-americanos fazem de acordes e batidas punk com gaita de foles, flauta e banjo é um autêntico grito de revolta contra o tédio. Músicas como Johnny, I Hardly Knew Ya levam-nos à era dos piratas e da cerveja caseira em canecas de madeira, numa autêntica comunhão de eras. Forever foi aproveitada para puxar pelas vozes do público, que cantou em uníssono com Ken Casey. Só ficou mesmo a faltar o clássico Boys On The Docks num concerto que terminou com a conhecidíssima Shipping Up To Boston, resultando numa enorme explosão de alegria e saltos.
Seguiu-se então The Big Pink, duo electro-rock de Inglaterra, no Palco Super Bock. Apesar de o recinto estar mais vazio, aqui e ali viam-se fãs da banda, que cantaram as letras a plenos pulmões. Guitarradas potentes e incentivos de ambos os membros da banda contribuíram para tornar o concerto mais intenso, enquanto temas como Velvet, Tonight e Dominos puseram a audiência ao rubro.Desde o concerto dos Gogol Bordello em Paredes de Coura em 2007, a banda de New York foi angariando fãs no nosso país exponencialmente, e isso nota-se na recepção que o público dá ao colectivo de Eugene Hütz. Depois dos Dropkick Murphys era garantido que a festa iria continuar com os Gogol Bordello, e não podia ter continuado de melhor forma com este concerto que teve inicio com Not A Crime. Parece que foi ontem que os norte-americanos vieram a Portugal como meros desconhecidos, e hoje é notório que os portugueses reconhecem a maioria dos temas dos Gogol Bordello. Nem mesmo os temas do recém-lançado álbum Trans-Continental Hustle, como My Companjera passaram despercebidos, e quem os ouvisse neste concerto diria que são as suas músicas de sempre. A festa continuou e os Gogol Bordello não deixaram para trás êxitos como Start Wearing Purple. Foi a segunda vez da banda no Optimus Alive, e pelo que têm deixado no festival espera-se que não seja a última.
Eram 22h05 e o palco Super Bock estava cheio até metade. Mas aos primeiros sons da intro de Peaches, mais gente se juntou aos já presentes em frente ao palco. Poucos mas bons descreveu bem o público que passou por aquele palco neste dia. Original, como sempre, a cantora de origem canadiana vestia um fato enorme composto por fitas que a tapava por completo. Mud começou e a temperatura no recinto ia subindo. A encenação feita por duas personagens – uma masculina e uma feminina – cujos cabelos exagerados lhes tapava o rosto complementava Talk to Me. No entanto, o auge estaria reservado para Billionaire e Take You On. Durante a primeira, a cantora passeou em pé pelas grades, atirando-se de seguida para o público, que a fez navegar entre cabeças. Agarrou num copo de um fã e, bem servida, voltou à grade. Pediu então ao público que guardasse todos os telemóveis e câmaras, porque estariam prestes a fazer parte de algo cujas dimensões seriam mais que um «momento Twitter». «Jesus andou na água, mas Peaches anda em vocês», exclamou, antes de dar início à música. Enquanto cantava, equilibrava-se de pé em mãos de membros do público. Um momento arrepiante, onde vimos a cantora de braços no ar, apenas com as pernas seguras por fãs. Por entre espargatas, roupas despidas e vestidas, efeitos de luz e projecções na própria roupa, Peaches proporcionou mais de uma hora de fascínios, boa-disposição e muito atrevimento. Shake Yer Dix e Boys Wanna Be Her arrancaram danças e saltos enérgicos e Fuck the Pain Away estaria reservada para o final de mais uma actuação, no mínimo, excitante.
Depois da festa dos Dropkick Murphys e Gogol Bordello, estava na hora da banda mais esperada da noite, e provavelmente a banda que levou este último dia do Optimus Alive a esgotar, os Pearl Jam. Desde logo uma declaração bombástica de Eddie Vedder, que confessou ao público que este será um dos últimos concertos dos próximos tempos, fazendo saber que a banda vai fazer um hiato por tempo indefinido. Mas o que interessava era que a mítica banda do movimento grunge estava a tocar para o seu público, e começou a actuação com a última faixa do álbum de estreia Ten, Release. Um início suave que teve continuidade com Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town. Mas as coisas mudaram de figura com Animal e Given To Fly, passando para uma fase mais mexida do concerto, onde ficou demonstrada a fidelidade do público português para com os Pearl Jam. Unthought Known foi a primeira faixa de Backspacer que o grupo de Seattle tocou, e até foi bem recebida. Seguiram-se Nothingman, Daughter e Even Flow enquanto o tempo ia voando. Depois de Black e Why Go, os Pearl Jam abandonam o palco pela primeira vez, para que depois regressassem para encore. Para este encore Eddie Vedder acompanhado da sua garrafa de vinho e da habitual boa disposição reservou The End, The Fixer e uma versão dos Public Image Ltd. de Public Image. Pelo meio uma música inteiramente dedicada a Portugal, enquanto um elemento da banda ia segurando a letra para que Eddie Vedder não cometesse erro algum. Após a belíssima Better Man, acompanhada de um coro vindo do público, novo recolher dos norte-americanos aos backstage. Recolher esse que não duraria muito, pois os Pearl Jam regressariam uma última vez para tocar Smile com Jeff Ament na guitarra e Stone Gossard no baixo. Ainda antes do final, tempo para um final de luxo com Once, Alive e Yellow Ledbetter, e uma nota também para Boom Gaspar que arrancou muitos aplausos por trazer vestida uma camisola da selecção portuguesa. Ficará para sempre na memória este dia em que Eddie Vedder anuncia a paragem de uma das bandas de culto em Portugal, com um concerto cheio de empenho e algum virtuosismo a espaços do guitarrista Mike McCready. Até um dia destes, o público português ficará à espera.
O projecto house Simian Mobile Disco, muito popular em Portugal, foi recebido no palco Super Bock por um público escasso mas com muito vigor. A festa de final da noite começava com o grupo britânico e temas como It’s the Beat incitaram à dança.
Crookers, o duo italiano, eram quem se lhes seguia. Enquanto o recinto enchia aos poucos, o som subia e os corpos perdiam o controlo para as batidas possantes que enchiam o espaço.
Enquanto a imensa e infindável multidão que viera para ver Pearl Jam se dispersou o suficiente para deixar passar pessoas na direcção oposta, havia quem se dirigisse para ver LCD Soundsystem a fechar o palco Optimus de mais um Optimus Alive!’10. A banda entrou em palco e o recinto voltava a encher, depois de energias repostas e estômagos saciados. James Murphy entrou para cantar Us v Them, antes de Drunk Girls, o mais recente single do que é último álbum da banda, This Is Happening. Os temas estimulavam a dança e Pow Pow antecedeu a esperada Daft Punk Is Playing at My House. All My Friends adequa-se sempre a um festival de Verão e a emoção que os instrumentos, os ritmos e as batidas do single espalham apalpava-se no ar. Um convite de James Murphy para tomar um copo a seguir ao concerto ficou no ar, antes da emotiva I Can Change.
Tribulations e Yeah exaltaram os ânimos de novo, numa explosão de dança, saltos e palmas. Uma autêntica festa para o encerrar do palco principal. Contudo, quando todos queriam mais, James despede-se com um súbito e inesperado «vemo-nos mais tarde este ano», que valeu à banda um coro de assobios e apupos, enquanto saía de palco. Uma actuação que careceu de mais vigor que, quando começava a dar de si, foi interrompido pelo final que ninguém previa.
Sem tenções de dar por finalizada a noite, grande parte do público dirigiu-se ao palco Super Bock, onde Boys Noize – nome artístico do alemão Alexander Ridha – já tocava. A festa ficou assegurada pelo projecto electrónico, que passou tanto temas mais antigos, como mais recentes. A multidão delirava e a festa alongou-se noite adentro.
Foi o fim de mais um Optimus Alive!’10. Esgotadíssimo no último dia, o evento presenciou a passagem de milhares de pessoas, actuações de cortar a respiração, momentos de surpresa e até mesmo algumas decepções nos três dias que durou. Para o ano, realizar-se-á nos dias 7, 8 e 9 de Julho. Esperamos ver mais recuperado o lado artístico do festival para a próxima edição, já que em relação às bandas, a qualidade dos nomes que constam no cartaz ano após ano é irrefutável.
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