Reportagem Optimus Alive!10 - 8 de Julho
As temperaturas baixaram e o Optimus Alive!10 começou. A promessa é simples: boa música e muita festa. Este ano, os bilhetes para o último dia esgotaram, pela primeira vez na história do festival. Algés é o único destino em que se pensa. Grandes nomes da música, com muita história por trás deles, fazem parte do cartaz, juntamente com os maiores nomes da actualidade. O slogan não passa despercebido: “o melhor cartaz de 2010”. E é isso que se vai tentar comprovar. De notar também a dificuldade na entrada aos portadores dos passes de 3 dias, esperemos que a situação melhore amanhã.
A festa, como sempre, começou no palco secundário. Às 17 horas, Local Natives, banda indie rock/folk oriunda de Los Angeles, pisam um palco cujas diferenças se fazem notar. Mais amplo e elevado (um ecrã de cada lado pintava o quadro final), o resultado é ambíguo: se por um lado confere maior estatuto às bandas que nele tocam – que, por vezes, presenteiam a audiência com actuações dignas de palco principal – por outro, perde‐se a intimidade entre público e bandas tão característica do local. Por entre o público havia fãs, que cantaram e dançaram. A banda cativou o público com os seus ritmos, em Wide Eyes e Camera Talk. Airplanes, Shape Shifter e uma cover da Warning Sign dos Talking Heads mostraram variedade.
O senhor que se seguiu foi o texano Devendra Banhart, que em sete anos lançou nada mais nada menos que nove álbuns. O norte-americano trouxe para o Optimus Alive o seu Folk Psicadélico. Foi um dos artistas mais calmos do dia, mas serviu para relaxar e ouvir atentamente músicas como Baby e Sight to Behold.
The Drums, banda com origem em Brooklyn, Nova Iorque, eram um nome esperado. Apenas com um albúm editado, o número de fãs tem vindo a aumentar e muitos estiveram presentes no palco secundário. A energia, boa disposição e o humor da banda, sobretudo do vocalista Taylor Rice, animaram o recinto, que ia enchendo. A banda foi bem recebida e apresentaram temas como Submarine e It Will All End In Tears. As músicas pediam danças e tal não faltou.
Passava das 18h30 quando o palco principal finalmente abriu. A tarefa foi dada a Biffy Clyro que se fez acompanhar por Mike Vennart, dos Oceansize, na guitarra. A banda escocesa já tinha estado em Paredes de Coura em 2008 e a abrir Muse, em 2009. Não seria de estranhar se tivesse sido a banda portuguesa Moonspell a abrir o palco, como fica sempre bem, vistos estarmos em terras lusas. No entanto, o facto de Biffy Clyro serem uma das bandas mais subvalorizadas em Portugal, impede que tal aconteça. Apesar dos esforços em alçançar o público luso, os fãs permanecem poucos, ainda que leais. A tentativa de agradar a todos notou-‐se na setlist escolhida, onde constavam maioritariamente músicas do último álbum, mais comercial, e alguns sucessos de álbuns anteriores, tais como A Whole Child Ago e Glitter and Trauma. O concerto foi algo confuso e ficou no ar a vontade de ouvir mais temas antigos. Apesar disso, temas como Living is a Problem Because Everything Dies e Who’s Got a Match fizeram as delícias dos verdadeiros fãs, que saltaram e gritaram por Simon e a sua banda. O vocalista escocês agradeceu a presença dos fãs e a sua energia e alegria a tocar são, no mínimo, aprazíveis de se ver. Many of Horror foi cantada em conjunto com um público sabedor da letra e The Captain encerrou uma actuação que ficou aquém das expectativas. Destaque ainda para Mountains, um tema cuja força e beleza conquistam em qualquer concerto da banda.
No Palco Optimus, estava na hora da única banda portuguesa actuar, os Moonspell. Fernando Ribeiro e companhia só a espaços conseguiram conquistar um público que no geral era bastante diferente daquele que costumam encontrar. A qualidade do som não era a melhor, mas quem tenha visto este concerto não pode apontar falta de profissionalismo ao colectivo nacional. Opium, Luna e Alma Matter ainda conseguiram fazer ouvir as vozes do público, fazendo ver que os Moonspell mesmo a jogar fora de casa conseguem arrastar fãs, e fazer chegar a sua música a meios diferentes. Para a história ficará o nome dos Moonspell neste Alive, mas com a ideia de que podiam ter dado um melhor concerto, mais ao seu nível.Grande parte da multidão que encheu o Alive!’10 foi, claramente, para ver o segundo palco. Por isso não seria de estranhar que, por volta das 20h30, já mal se conseguisse entrar na tenda, na expectativa de ver Florence and the Machine a actuar. E foi a banda britânica quem mais gente levou ao local. Florence Welch entrou em palco para testemunhar um mar de gente que não parava de aumentar. Howl fez as honras, à semelhança do concerto na Aula Magna. Os fãs deliram, cantam e dançam ao som das músicas, gritam tão alto que é ensurdecedor, recebem a banda com palmas e uma alegria imensa de a poder ver em actuação. Qual criança divertida, Florence saltitou pelo palco, puxou pelo público, cantou e encantou com a sua voz. A artista emocionou-se defronte de tantos fãs e de uma plateia cujo fim se perdia no horizonte. Agradeceu aos fãs, muitos dos quais bastante recentes devido à sua súbita popularidade por terras lusas, e proferiu algumas palavras em português. Drumming espalhou a sua força pela audiência, mas foi Cosmic Love um dos momentos mais apreciados pelos fãs. A beleza deste que é o seu mais recente single não chega aos calcanhares do espectáculo na Aula Magna, perdida algures entre crowdsurfings deslocados e aclamações não contidas. Após You Got the Love, algumas pessoas abandonaram o recinto. Dog Days are Over e Rabbit Heart (Raise it Up) ficaram guardadas para o fim, cuja participação do público ajudou a fortalecê-las ainda mais. A banda apresentou ainda novas músicas, tais como Heavy e Strangeness and Charm.
Quatro anos depois, os Alice in Chains voltam a Lisboa, e desta vez com um novo álbum na bagagem, gravado com William DuVall. Mais de meia década após a morte de Layne Staley, o quarteto de Seattle volta verdadeiramente ao activo, e apresenta o mais recente Black Gives Way To Blue no Optimus Alive. Jerry Cantrell e companhia iniciaram o concerto de forma espectacular tocando logo Rain When I Die, Them Bones e Dam That River. Depois de Again e Ain’t Like That, estava na altura de conhecer o novo álbum dos Alice In Chains, e que tema melhor para isso do que Check My Brain? Seguiu-se Your Decision, também single do álbum, e No Excuses. Depois de mais duas músicas do último álbum, o público não mais pararia de cantar, e até ao final tudo foi nostalgia. We Die Young, Man In The Box, Would?, e finalmente a fechar, Rooster, a colocar as emoções ao rubro neste Optimus Alive. Um concerto para mais tarde recordar, juntamente com as palavras de William DuVall, de que os veremos brevemente.
Para The XX, a tenda do palco secundário permanecia insuficiente para acolher os fãs. Depois de um concerto esgotado na Aula Magna, outra coisa não seria de esperar. Mais uma vez, foi perante um mar infindável de espectadores que a banda londrina entrou em cena. O barulho era ensurdecedor e o ar irrespirável. Intro deu início ao concerto, seguida de uma das preferidas, Crystalised. As vozes de Romy Madley Croft e Oliver Sim cativaram os fãs, apesar do registo da banda ser sem dúvida mais íntimo e adequado para um recinto fechado. No entanto, a banda teve sucesso ao transportar e moldar essa característica a seu favor e para apreciação do público. Shelter e VCR foram os momentos altos de uma actuação onde constou uma Do You Mind da artista de R&B Kyla e uma brilhante Night Time, que pôs fãs a saltar.Penúltima banda a actuar no Palco Optimus, os Kasabian, entraram com o single Fast Fuse a gerar alguma dúvida nos elementos do público. Com Tom Meighan sempre muito activo, e um pouco alterado, os britânicos foram despejando singles recentes como Underdog e Shoot The Runner. Os ingleses tocaram a curtos intervalos temas do novo álbum, intercalando sempre com velhos êxitos, mas nem assim conseguiram criar um grande ambiente. Só mesmo mais perto do final Tom Meighan e companhia foram conquistando o público português, com Club Foot e Vlad The Impaler. O concerto viria a terminar com L.S.F. (Lost Souls Forever), mas sem a missão cumprida.
Chegara então a vez de La Roux. Após um adiamento que resultou no cancelamento do concerto na discoteca Lux, os fãs esperavam o momento em que Elly Jackson finalmente aparecesse perante eles. O recinto estava mais vazio que nas bandas anteriores, mas público não faltou. Elly entrou mesmo em palco, debaixo de uma capa preta e imediatamente a música começou. Tigerlily foi a escolha acertada. A cantora britânica, após cumprimentar o público, fez questão de pedir as suas desculpas por ter cancelado o concerto, ao que os fãs responderam com palmas e alguns apupos. Mas Elly tinha como missão redimir‐se e apresentou uma actuação que serviu como tal. I’m Not Your Toy foi uma das preferidas do público, à qual se seguiu uma recente cover da Under My Thumb dos Rolling Stones. Colourless Colours foi o tema mais bonito, no sentido em que a voz da cantora, de facto, encantou. In for the Kill antecedeu Bulletproof, duo que terminou o concerto. Ambas foram acolhidas com fervor e muita dança. A banda estava redimida e o público satisfeito.
Passado um ano, e a pedido dos portugueses os Faith No More estavam de volta a Portugal. Um caso de amor recíproco como poucos, é este entre Portugal e Mike Patton. Uma entrada que teve tanto de fabulosa como de peculiar com Midnight Cowboy (original de John Barry), já fazia prever que ia ser uma grande noite. De seguida, From Out Of Nowhere, do álbum The Real Thing, e Be Agressive de Angel Dust foram grandes pretextos para o público português mostrar a Mike Patton e companhia a sua devoção pela banda norte-americana. Após The Real Thing, seria Evidence a levar ao rubro o recinto. É certo que é um costume de Mike Patton cantar esta música na lingua do país onde está a actuar, mas hoje fê-lo por completo, apenas a palavra que dá o nome à música foi cantada em inglês. A única música da era pré-Patton tocada nesta noite foi As The Worm Turns, e só dá que pensar, como poderiam existir estes Faith No More sem Mike Patton, se até uma música gravada e composta sem ele lhe parece pertencer. Last Cup Of Sorrow e a louca Cuckoo For Caca iam dando brilho a uma actuação perfeita.
Easy, dos Commodores, mas também celebrizada pelos Faith No More, continuou a pôr à prova as vozes do público, o que aconteceu de forma muito mais vincada em Midlife Crisis, na qual Mike Patton manda parar a música para que pudesse ouvir bem os portugueses a cantar o refrão. The Gentle Art Of Making Enemies mostrou mais um pouco da saudável loucura que Patton mostra em palco, seguida de Ashes To Ashes. Seguir-se-ia nas palavras de Mike Patton “uma música para os amantes”, e essa música era Ben, dos Jackson 5. Música muito calma, na qual o vocalista desceu do palco para se sentar próximo do público. Em King For a Day, brindou-nos novamente com proximidade, fazendo crowd surf, que acabou por não correr muito bem. Alguém resolveu roubar um sapato a Mike Patton, mas felizmente o norte-americano tão querido dos portugueses não julgou todo o público pela atitude de alguns, e o espectáculo continuou com a mesma animação que teve desde o inicio. A épica Epic, e Just A Man, serviram para uma falsa despedida, que iria resultar no primeiro encore da noite.
A reentrada dos Faith No More em palco, dar-se-ia com uma brincadeira, que Mike Patton dedicou à tristeza dos portugueses com a selecção nacional. Brincadeira essa, que foi uma curta versão dos Vangelis, de Chariots Of Fire, seguida de imediato da psicadélica Stripsearch, e novamente de uma falsa despedida com Surprise! You’re Dead! O final seria dedicado ao “mais grande caralho português”, Cristiano Ronaldo, apelidado por Mike Patton de “palhaço”. E com esta descrição, qual poderia ser a música que iria fechar o espectáculo? Só poderia ser uma música com esse mesmo tema, com título e refrão em português, Caralho Voador. Um final espectacular, num concerto que vai deixar saudades. “Até à próxima, beijinhos.”, foi assim que Mike Patton se despediu, e esperamos realmente que haja uma próxima. Os Faith No More deram sem dúvida um dos melhores concertos do ano, muito próximo da perfeição.
Para o final da noite, Calvin Harris antecedia Burns. O artista escocês iniciou a actuação com energia perante um recinto meio cheio. O público foi aumentando e temas como Stars Come Out e The Girls entusiasmaram e puseram todos a saltar e dançar. A continuação da festa ficou a cargo do segundo e terceiro palco, que serviram de pista de dança a quem ainda tinha energia. Tiga, Burns e Proxy foram os encarregues.
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