Reportagem Paredes de Coura 2010
Festival Paredes de Coura 2010 - Fotos do Público
A 17ª edição do Paredes de Coura decorreu entre os dias 29 e 31 de julho, junto ao paraíso natural que é a famosa praia fluvial do Tabuão. O festival minhoto contou desta feita com a presença de bandas como The Cult, Enter Shikari, Gallows, Klaxons, White Lies, Peter Hook (dos Joy Division), The Prodigy, The Specials e The Dandy Warhols, entre outros, com uma boa dose de bandas britânicas.
Para surpresa de muitos, este ano a chuva decidiu dar tréguas, dando lugar ao calor intenso, durante os quatro dias do festival. A edição deste ano teve direito a um supermercado da AMI e para desagrado de alguns, pulseira cor‐de‐rosa.
28 de Julho de 2010 - Fotos
O tão esperado arranque do festival aconteceu no dia 28 de julho e foi dedicado à receção ao campista, como já é habitual nos primeiros dias de concertos em Paredes de Coura. Pelo palco After‐ Hours passaram três bandas e um DJ.
Cosmo Jarvis e companhia fizeram as honras do festival, sendo os primeiros a atuar. Os britânicos, pontuais como lhes seria esperado, entram em palco de uma forma discreta, tendo no entanto sido rapidamente reconhecidos e recebidos com sorrisos por parte de alguns elementos do público. Iniciam a atuação com a boa disposição de “Mel’s Song”, retirado do mais recente trabalho Humasyouhitch/Sonofabitch. Simpático e um pouco sem jeito, Harrison Cosmo Krikoryan Jarvis, vocalista e líder da banda, desculpa‐se por se não ter apresentado desde o início, fazendo‐o antes de interpretar “Blame it on Me”. Com expressões peculiares e um sorriso contagiante, Cosmo conseguiu convencer a assistência, fazendo‐a cantar os refrões dos temas que trouxe a Portugal.
Los Campesinos! trazem logo a seguir o concerto mais esperado da noite. A indie pop que nasceu na Cardiff University – apesar de nenhum dos membros da banda ser galês – fez encher tanto o palco, como o espaço destinado ao público. Os oito músicos deram um concerto que se pode descrever como cheio e intenso, com destaque para os momentos altos proporcionados pelos temas mais conhecidos, como “Death To Los Campesinos!” e “You! Me! Dancing!”. Já na reta final, depois de brindarem os presentes com uma excelente atuação, agradecem‐lhes, confidenciando que está a ser fantástico estar em Paredes de Coura.
Com a noite já a aproximar‐se do fim, surge em palco o norte‐americano Dayve Hawk com o projeto Memory Tapes, na companhia de um baterista, para o último concerto do dia. Embora pouco comunicativos e na presença de um público menos efusivo, mostraram que sabem fazer música com capacidade para satisfazer alguns, ainda que com uma demonstração de agrado não tão expansiva. Foi um concerto de curta duração que serviu para mostrar a dream pop de Seek Magic que os Memory Tapes são capazes de fazer.
O after‐hours do palco After‐Hours ficou a cargo do portuense Isidro LX, que se apresentava ao serviço já antes da hora marcada. Antecipando as bandas que estariam presentes nos próximos dias do festival, Isidro Lisboa soube como conquistar o público espalhado pelo recinto: lançou para as colunas meia dúzia de singles de alguns dos nomes fortes do cartaz do festival, tais como “Omen” e “Smack My Bitch Up” dos The Prodigy – que espalharam a histeria coletiva dos fãs mais acérrimos –, “Golden Skans” de Klaxons ou “To Lose My Life” de White Lies. Revelou‐se um DJ perspicaz que soube exatamente como contagiar os festivaleiros.
O segundo dia de festival em Paredes de Coura começou no palco Jazz na Relva. Perante um início de tarde de calor intenso, grande parte dos campistas aproveitou para descansar à sombra das margens do Tabuão, onde José Valente e Experiences of Today deram uma lição de jazz aos que assistiram à sua atuação. Para aqueles que não estão a par, José Valente estudou na aclamada New School for Jazz and Contemporary Music, de Nova Iorque. Entre inúmeros prémios e distinções, Valente tem uma bagagem cheia de boas referências na escola do Jazz.
O Iberosounds, palco patrocinado pelo Turismo da Corunha que, durante três dias, bandas portuguesas e galegas partilharam, é inaugurado pelos Nouvelle Cuisine. Poucos foram aqueles que resistiram ao calor e se juntaram para assistir a esta atuação de uma pop tranquila que progressivamente se tornou mais festiva e dançável. De entre os temas interpretados, destacam‐se “Cada Vez”, “Pinturera” e “Sim Embargo”, disponíveis no MySpace da banda para stream.
Aos galegos, seguiram‐se os portugueses Lost Park. Apresentaram um rock alternativo que, aos poucos, atraiu espetadores até ao espaço em frente do palco secundário. O concerto, por umas vezes enérgico, por outras mais calmo, foi acompanhado de deixas por parte do público, como “olha a 14!”, pedindo músicas, talvez como tentativa de puxar conversa com os membros da banda.
As nova‐iorquinas Vivian Girls são as primeiras a pisar o palco principal nesta edição do Paredes de Coura. Descontraídas, as meninas bonitas e tatuadas do lo‐fi e do noise pop – sonoridades em força este ano, juntamente com a presença de Best Coast e das Dum Dum Girls – , aparecem de chinelos e carteira ao ombro. “Hello Portugal! This is our first time here and it’s beautiful!” – diz Cassie Ramone, a vocalista, encantada com o publico que se concentra em frente ao palco para as ver. Os momentos mais fortes acontecem com a interpretação de temas como “Can’t Get Over You” – de Everything Goes Wrong, disco mais recente do trio – e "Dance If You Wanna", que deliciam os fãs com a postura bem‐disposta presença sólida em palco.
The True Loves invadem o palco de boxers, preparados para aquecer ainda mais o ambiente em Paredes de Coura, apresentando o seu líder, Eli ‘Paperboy’ Reed. Para alguns ainda um desconhecido, Eli é um senhor de Massachusetts com modos de galã que, durante a atuação, não se cansou de solicitar a colaboração do público, tanto para o acompanhar nos refrões, como para dançar, abanar a cabeça ou bater o pezinho. Numa mistura feliz de soul, blues, funk e r&b, fez‐se ouvir uma parafernália de instrumentos, desde guitarra, baixo e bateria, até órgão, piano, saxofone ou trompete, ficando registado um bom desempenho dos músicos que tocaram temas como “Help Me”, “Tell Me What I Wanna Hear ou “If You Want the Love of a Man”.
No final, foram tecidos elogios aos compatriotas Enter Shikari, que atuaram logo a seguir e aos Klaxons, que atuariam no dia seguinte.
Depois da primeira parte dos The Prodigy no Pavilhão Atlântico em Lisboa, os Enter Shikari voltam a Portugal, desta feita ao norte do país. Estes quatro britânicos misturam na sua receita a sonoridade post‐hardcore, temperada de apontamentos eletrónicos com recurso a sintetizadores ou, como alguém disse em tom de brincadeira, “Enter Shikari é parecido com Gallows, mas com raios laser”. Com muitas strobe lights e um jogo de luz visualmente apelativo, iniciam o espetáculo com “Solidarity” e “No Sssweat”. Roughton Reynolds mostrou os seus dotes de português: “nós somos Enter Shikari, nós somos de Londres”. Músicas como “Zzzonked” – gravada para o website da banda – e “She Doesn’t Care” são dois dos pontos altos do concerto, onde se volta a formar um novo circle pit, acompanhado do inevitável mosh. Já quase no final, Reynolds felicita‐nos: “You guys are fucking lucky to have a festival like this”, despedindo‐se com “Sorry, You’re Not A Winner”.
Acalmando os ânimos, depois de dois concertos frenéticos, eis que sobem ao palco os "dinossauros" do dia: os britânicos The Cult. A banda mais aguardada do dia, arrecadando o título de cabeças‐decartaz, juntou "rockers, ravers, lovers and sinners" de todas as idades. Desde os adolescentes aos mais velhos, todos queriam assistir ao espetáculo da banda de hard rock da velha guarda liderada por Ian Astbury, que conta já com quase três décadas de carreira e um álbum anunciado ainda para este ano. Tal como o público soube receber Ian, Billy e companhia, também este último soube retribuir, com um "Obri‐fuckin‐gado" e uma hora e meia de concerto, com direito a êxitos como "Fire Woman", "Love Removal Machine" ou "Rain", mas o ponto alto da atuação foi a "She Sells Sancuary", com os seus primeiros acordes inconfundíveis e intemporais. Apesar da boa prestação que comprovou a competência dos músicos, estes pecaram pela falta de energia em palco.
O canadiano Daniel Victor Snaith, mais conhecido por Caribou, marca em 2010, a segunda passagem por estas paragens. Em 2008 trouxe na bagagem os álbuns The Milk Of Human Kindness e Andorra, apresentando‐se num palco secundário com um ambiente muito íntimo e intenso, arrastando muitos fãs para o espetáculo desta edição. Agora, com o novo disco Swim, lançado em abril de 2010, Caribou veio picar o ponto no palco principal com uma ambiência visual muito forte, repleta de projeções já habituais nos seus espetáculos. À espera de mais ficaram todos aqueles que, depois de uma noite alucinante, esperavam por uma atuação equivalente ou superior à de há dois anos. Começaram a meio gás, com temas mais calmos e menos apelativos mas o concerto foi, aos poucos, ganhando um outro fôlego, dando origem a momentos intensos com “Odessa” – single de estreia do novo álbum – e “Sun”. O lado mais intimista que cai bem em Caribou acabou por perdeu‐se num palco com esta dimensão. Embora Daniel tenha agradecido o regresso, o espetáculo foi uma desilusão para alguns.
Já de madrugada, o trio londrino We Have Band agitava tudo e todos os que perto do palco After‐ Hours circulavam. Com influências que vão desde Talking Heads e Hot Chip a Animal Collective ou The Rapture, tocam “Divisive”, que serve como mote de abertura do concerto. Incansáveis e presentes, com particular destaque para a vocalista Dede W.P, dançam e fazem dançar Paredes de Coura ao som da sua eletrónica. Já perto do final, ouve‐se “Honeytrap” – single de apresentação do novo álbum WHB. Com ritmos a estimular o bichinho da dança, We Have Band revelaram‐se uma boa surpresa em palco.
Os californianos Best Coast chegaram depois. Com letras sobre amor cantadas pela voz doce e encantadora de Bethany Cosentino, exemplificaram que nem tudo o que é sobre amor é aborrecido ou piroso. Com o álbum novo Crazy For You – merecedor da distinção best new music pela Pitchfork – acabadinho de sair, Bethany e companhia aproveitaram para nos mostrar temas alguns dos seus temas: “Crazy For You”, “Boyfriend”, “When the Sun don’t Shine” – inspirada nas Hole – e “I Want To”. Ficamos todos a saber que na melhor costa, paixão rima com verão. O resto da noite, para quem por lá ficou, foi incumbido à responsabilidade do catalão DJ Coco, que garantiu a animação dos presentes.
O Jazz na Relva do dia contou com Zelig, quinteto formado em 2006 composto por Peixe (ex‐Ornatos Violeta), Eduardo Silva, Nico Tricot, António Serginho e José Marrucho, que se dedicam à apresentação do álbum de estreia Joyce Alive!.
Já mais acima, no Iberosounds, atuavam Boat Beam, banda que nos mostrou as suas músicas calmas, influenciadas por The Cinematic Orchestra, Fiona Apple e Tori Amos. Sorridente e simpática, Josephine, líder da banda, tenta comunicar com o público: “No fala Português, but I speak English!”. Trouxeram para nos apresentar temas do Paper Birds EP e, para finalizar, decidiram interpretar uma versão da “Glory Box”, dos Portishead. Foi uma atuação tímida que contou com pouca afluência.
Os Madame Godard, contam já onze anos desde a primeira atuação no Paredes de Coura de 1999. Com “nome de senhora mas postura de mademoiselle", a banda portuguesa expôs sonoridades graciosas, burlescas e tropicais que fizeram suar um pouco mais o público presente. Da setlist que trouxeram, fazem parte temas como “Love is Poker”, “Madame Fatale”, “Ladies and Gentleman” e “Au Revoir Tristesse”.
A revelação do dia apareceu com a folk de The Tallest Man on Earth. Kristian Matsson intitula‐se o homem mais alto da Terra, mas nós pudemos comprovar que afinal é mentira. Embora não seja assim tão grande em altura, foi grande o suficiente para o palco principal de Paredes de Coura. “The Wild Hunt”, single de estreia que dá nome ao seu primeiro disco de originais, inaugura a atuação e reaviva a memória daqueles que já ouviram esta canção algures mas não se lembravam do nome do cantor. Espalhadas pelo recinto, as pessoas escutam atentas às melodias do sueco e aplaudem‐no pelo encanto que as suas músicas neles provocam. A meio, Kristian ri‐se, ao ler um cartaz que surge no público, onde se podia ler “You really are the tallest”. Admite ser estranho estar num palco tão grande, sendo ele tão pequeno. Interpretando outras canções, como a pedida “King of Spain” e ainda “Pistol Dreams” – dedicada a Portugal – soube conquistar um público que, cativado, se levanta e aplaude a boa prestação.
Os PAUS vieram substituir Plan B, cuja atuação fora cancelada. Com um limitado repertório que conta com apenas o EP É uma Água, os lisboetas contam já com vários concertos pelo país e uma boa legião de fãs, comprovada pelas t‐shirts que alguns orgulhosamente ostentavam. Munidos de uma bateria siamesa (os dois bateristas – Joaquim Albergaria e Hélio Morais – partilham o mesmo bombo), um baixo (Makoto Yagyu) “maior que a tua mãe” e teclados (João “Shela”) “que te fazem sentir coisas”, e uns balões coloridos para tornar tudo mais bonito, começam com “Pelo Pulso”, passando por “Lupiter Deacon” com os gritos de guerra e o “nanana” para que todos pudessem cantar e o single “Mudo e Surdo”, disponível no MySpace da banda e no YouTube. Hélio perguntou quem no público gosta de PAUS e, logo de seguida, quem os tinha visto em Barcelos (no Festival Milhões de Festa) na semana anterior e, surpresa das surpresas, ainda éramos alguns! Prometeram tocar melhor do que em Barcelos, e assim foi.
The Courteeners, gritado por alguns no Paredes de Coura como “os cortinas”, é uma banda de indie rock proveniente de Manchester. Com a imagem de um falcão como pano de fundo do palco – associada ao seu novo álbum, Falcon – tentaram incitar a festa com um público ainda pouco recetivo. Estreando‐se em terras lusas, os The Courteeners presentearam o público português com músicas como “Fallowfield Hillbilly” e “Bide Your Time”, ambas do álbum St. Jude e a mais conhecida do momento “You Over Did It Doll”.
Compensando os fãs de Joy Division pela desilusão coletiva sentida após a prestação da banda de tributo que há dois anos passou por Paredes de Coura, eis que Peter Hook, baixista da mítica banda de Manchester, aproveita o sucesso de Unknown Pleasures para reavivar a memória e nostalgia dos fiéis seguidores da banda que marcou o pós‐punk. Embora tenha soado estranho ouvir o baixista substituir Ian Curtis na voz, em músicas como “Disorder”, “She Lost Control”, “Glass” ou “Love Will Tear Us Apart” – que finalizou o concerto – muitos fãs quiseram assistir a um concerto de Joy Division com pelo menos um membro oficial da banda original. Hook, com um segundo baixista a apoiá‐lo, para que pudesse fazer de Curtis, conseguiu fazer esquecer a estranheza sentida pelo do público, fazendo alguns explodir de emoção e lágrimas.
Também com uma boa dose de influência do pós‐punk, quem de seguida subiu ao palco foram os igualmente ingleses White Lies. Oriundos de West London e já bem conhecidos pelo seu primeiro disco To Lose My Life, mostraram imponência em palco e empregaram as músicas mais conhecidas como "Farewell to the Fairground" e “To Lose My Life” como trunfo para agarrar o público que se deixou levar pelo rock alternativo à voz de Harry McVeigh. No decorrer do concerto, puderam‐se escutar outros temas do álbum de estreia, como “E.S.T.”, “Price of Love” e “Death”, com alguns problemas técnicos nas teclas à mistura.
Os aclamados pais do new rave Klaxons, já bem habituados ao público português, continuam a ser uma banda‐fenómeno por estes lados, arrastando multidões de fãs para onde quer que vão. Encetam a atuação com “Flashover”, single do segundo álbum Surfing the Void, mas rapidamente mudam de rumo, tocando faixas do primeiro disco, Myths of the Near Future, como “As Above So Below” e as conhecidíssimas “Gravity's Rainbow”, “Golden Skans” – que mereceu já uma cover por parte dos portuenses Clã – e “Magick”, que aqueceram o ambiente e fomentaram um contínuo crowdsurf por entre os fervorosos fãs. Mesmo sabendo que as músicas do primeiro álbum foram o sucesso da noite, decidiram apresentar “Echoes”, o novo single. O concerto terminou com “It’s Not Over Yet”, um momento forte e intenso que, pelo título, fazia antever um encore que surgiu ao som de “Atlantis to Interzone”.
Num after‐hours bem mais pesado do que o habitual, apareceram os portuenses Plus Ultra que, ainda sem um disco cá fora, trazem já muitos fãs atrás, atraídos pelas atuações frenéticas e caóticas. Composta por Gon na voz (membro dos The Bombazines e ex‐Zen), Kino na bateria (ex‐Ornatos Violeta) e Azevedo no baixo (membro dos Mosh) apresentam‐se com uma tenda vandalizada em palco, deixando os seguranças completamente desorientados. Tomando o palco Alter‐Hours de assalto, Gon não tardaria em demonstrar uma atuação completamente arrebatadora e efusiva. Berrando temas que constam no MySpace, “Random #1”, “Scanner”, o vocalista, em jeito de provocação do público, pergunta “We are in a gay festival, aren’t we? MOVE! MOVE!”, antecipando “Like It”. Sempre com uma postura agressiva e direta, o líder da banda surpreende tudo e todos com uma escalada por uma das estruturas metálicas existentes ao lado do palco. Uma atitude animalesca já regular nos espetáculos arrasadores do trio.
A noite prosseguiu com a música eletrónica oferecida pelo coletivo de DJs Mega Bass (Sérgio Gomes e Twin Turbo: Nuno e Pedro Pinto).
Coube ao coletivo nova‐iorquino Barbez a tarefa de encerrar o palco Jazz na Relva na edição de 2010 de Paredes de Coura. Uma tarde solarenga e uma brisa fresca acompanham o jazz fundido com música clássica e rock.
Samuel Úria, membro do movimento FlorCaveira, marcou presença no palco Iberosounds no último dia do festival, trazendo consigo muitos fãs que surpreenderam a própria banda, uma vez que as tardes deste palco tiveram sempre, em dias anteriores, uma assistência em menor número. Samuel trouxe consigo o folk‐rock cristão e o novo álbum Nem Lhe Tocava. Acompanhado de Jónatas Pires e Filipe Sousa (d’Os Pontos Negros), começaram com “Não Arrastes o Meu Caixão”, passando por “R. Fonte Nova 141” e “Teimoso” – o conhecido single que toca nas rádios. Com as letras na ponta da língua, alguns membros do público e os artistas uniram‐se num só, criando uma espécie de conversa musical entre si.
Com os Triángulo de Amor Bizarro da Corunha, vieram também muitos fãs galegos. Embora com alguns problemas no som, a banda que foi buscar o nome a uma música de New Order (“Bizarre Love Triangle”), tem afinal mais que ver com o shoegaze de uns My Bloody Valentine ou The Jesus and Mary Chain. Mantiveram entusiasmados os fãs, que tiveram muito por onde dançar e cantar.
Os Dias de Raiva, compostos por Carlos Nobre (ou ‘Pacman’), Paulo Franco, João Guincho, Fred Ferreira e Nuno Espírito Santo, começaram a trabalhar neste projeto em finais do ano de 2009 e apresentam‐nos agora um EP homónimo disponível para download gratuito no site da Optimus Discos. “Elogio da Raiva” é, tal como admite Carlos Nobre, uma música mais comercial, que serve de apresentação. “Camarada Comunista” é a música que se segue e, tal como Pacman disse, “esta música foi feita com o propósito de irmos ao Avante (...) às vezes vale a pena ser um vendido!”. A verdade é que resultou e a banda vai estar mesmo presente na edição de 2010 da Festa do Avante, com atuação marcada para o dia 5 de setembro. Com algumas pessoas a cantar as músicas do EP, dando já conta do seu conhecimento, o concerto contínua com outros temas, como “Herança”, “Amores de Liceu”, “Dança dos Parvos” e “Gotas”.
Jamie T, de nome verdadeiro Jamie Treays, considerado enquanto ‘next big thing’ pela conceituada NME, chega a Paredes de Coura acompanhado dos Pacemakers, banda que o assiste nas atuações ao vivo, tentando ganhar alguma afetuosidade com o público. Embora se percebesse que os poucos e verdadeiros fãs estavam na fila da frente, os presentes no resto do recinto assistiam sentados à mistura de punk‐rock e hip‐hop trazida pelo britânico. Da sua atuação destacam‐se músicas como “368” – tema de abertura do álbum Kings & Queens – e “Back in the Game” – de Panic Prevention” – onde Jamie toca sozinho em palco enquanto os Pacemakers se dirigem até junto do público para o aplaudir e tirar algumas fotografias com os fãs. Feliz por pisar o mesmo palco que os The Specials, Jamie despede‐se com “Sticks & Stones”.
Os muito esperados The Dandy Warhols apresentam‐se a Paredes de Coura ao som de “We Used To Be Friends” – do mais recente disco The Dandy Warhols are Sound – com pouco espírito e uma voz apagada, conferindo uma certa leveza ao espetáculo, o que não causou a mesma impressão nos incondicionais fãs, que tanto aguardaram por este momento. Esperava‐se um pouco mais da banda norte‐americana liderada por Courtney Taylor‐Taylor, que apenas conseguiu arrecadar um grande momento com a música “Bohemian Like You”, famosa pela publicidade da Vodafone. Como se fez ouvir pelo meio do público, “eles fazem boa música, mas ninguém conhece”.
Os bracarenses Mão Morta, presença habitual em Paredes de Coura, são os próximos a subir ao palco principal. Fundada nos anos 80 por Adolfo Luxúria Canibal – carismático líder da banda, músico e poeta – a banda associa ao rock, poemas excêntricos que chegam a acusar, não raras vezes, um certo gosto por um mundo obscuro. Cobertos de luzes vermelhas e de formas inorgânicas de cor branca, contam‐nos a história de “Tiago Capitão”, ressuscitam com “Teoria da Conspiração” e acentuam os momentos altos da noite com, “Tu Disseste”, “Budapeste (sempre a rock’n’rollar)”, e “Novelos de Paixão” – single de estreia do novo álbum Pesadelo em Peluche. Com um público magnético onde até se ouviam espanhóis cantar, a atuação de Mão Morta mostrou‐se, mais uma vez, como uma referência em todo o festival.
Os The Specials, banda inglesa formada no final dos anos 70, vieram a Paredes de Coura trazer o que há muito não se fazia sentir por estes lados: o espírito ska‐punk que em tempos passou por cá. Os britânicos fizeram a verdadeira festa, com muita animação e boa‐disposição em palco. Pais do two tone e lendas incontornáveis do ska, fizeram o público levantar os pés do chão, provocando uma dança generalizada. De todo o concerto, destacam‐se pontos altos com a interpretação de clássicos como “Monkey Man” e “A Message to You Rudy”, já na reta final.
Para muitos, o grande nome da edição de 2010 do Festival Paredes de Coura é The Prodigy. Cromo repetidíssimo, já se sabe, contam já com um avultado número de atuações em Portugal, mas quem gosta, gosta sempre, e os The Prodigy sabem sempre ofertar os seus fãs com atuações explosivas. Comemorando já vinte anos de carreira e considerada uma das maiores referências na música eletrónica a nível mundial, a banda apresenta‐se com uma super‐produção visual rica em luzes e efeitos e com o som alto. Muito alto! A potência de The Prodigy fez explodir a réstia de energia que até então os festivaleiros tinham guardado para o fim. O novo Invaders Must Die e os clássicos The Fat of the Land e Music for the Jilted Generation são álbuns que dominaram a setlist de um concerto em que "World's on Fire" marcou o início, seguida de "Breathe" que antecipou o delírio da assistência em"Omen", assinalando o primeiro grande momento. Pela primeira vez, consegue vislumbrar‐se um recinto completamente cheio onde, ninguém consegue estar sentado. Não podendo escolher melhor forma de dar início a um concerto estrondoso, segue‐se “Poison”, “Warrior’s Dance” e “Firestarter”, marcando outro momento alto da noite. É impossível a ocorrência de palavras que sirvam para descrever o estado de loucura presente na imensidão de pessoas contagiadas pela música dos The Prodidgy.
O espetáculo continua com “Voodoo People” e “Invaders Must Die” e, mesmo com a pouca voz do líder Keith Flint, Maxim Reality faz explodir o recinto com “Smack My Bitch Up” levando o público ao rubro. Depois de abandonarem o palco, voltaram para o esperado encore, com “Take Me to the Hospital”e “Out of Space”. Sem sombra de dúvidas o concerto de Prodigy ficou marcado na lembrança de todos aqueles que assistiram ao espetáculo, fãs, menos fãs, algo ficou e três dessas coisas foram, a super‐produção de luzes, o volume incrivelmente alto e a constante confusão de Maxim em aclamar o Porto ao invés de Paredes de Coura.
Nota: Não nos foi permitida a captação de imagens durante a atuação dos The Prodigy.
De saia curta e collants, surgem as Dum Dum Girls no palco After‐Hours. Ríspidas e pouco sorridentes, dão‐nos uma música lenta que quebra a dose infernal de adrenalina injetada no concerto anterior. Serão mais facilmente recordadas pelo seu outfit provocador do que propriamente pela atuação.
Responsáveis pela animação noite adentro para a despedida do Paredes de Coura 2010 ficaram Os Yeah!, dupla de DJs composta por Hugo Alfredo Gomes e Emanuel Botelho, que revelou ser uma excelente companhia para todos aqueles que quiseram aproveitar o último dia até ao sol nascer.