Reportagem Rock in Rio Lisboa 2014
25 de Maio de 2014
Passaram 10 anos desde que o Rock in Rio se estreou em Portugal. O sucesso foi tanto que, desde esse ano, o festival passou a realizar-se bianualmente na capital lisboeta.
Nesta sexta edição, a celebrar o décimo aniversário, o evento regressa com um cartaz a condizer. Mas já lá vamos...
A equipa do Festivais de Verão entrou no recinto pouco depois das portas abrirem (às 16h20, e cá fora andavam a vender bilhetes ao desbarato) e logo notou que este não é um festival qualquer: é para miúdos e graúdos e, acima de tudo, não é feito única e exclusivamente de música.
Aliás, isso está patente nas correrias efetuadas pelo público para as famosas barraquinhas de oferta de brindes. Seja para obter fitas ou para pegar em sofás insufláveis, o que importava era não sair do recinto sem uma recordação. Desde aí que o resto do dia ficou marcado por filas de centenas de pessoas, seja para tirar uma selfie, encarnar uma estrela de rock, abanar o corpo ou saltar de uma certa altura e cair em cima de um colchão de ar com proporções consideráveis. Os prémios eram muitos e variados. Faz de conta que era uma mega feira popular, mas com música a sério.
Porém, existiam alguns resistentes, e quiçá os mais interessados na esfera musical do festival que marcavam o ponto nas grades. Mas era interessante notar que a alegria contagiava a Bela Vista. Olá Rock in Rio, é bom ter-te de volta.
Passando para a música propriamente dita, a jornada começou com a atuação dos Cais do Sodré Funk Connection. Foi um espetáculo marcado pela constante interação com o público, que ia respondendo com algum vigor (afinal a experiência Rock in Rio ainda mal tinha começado).
Em palco, avistamos elementos de projetos como Cool Hipnoise, Orelha Negra e Afonsinhos do Condado, num grupo que mostra a sua paixão pelo funk e pelo soul e que marca uma viagem pela história da música negra. Muita da energia está em Silk, um one man show e em Tamin, capaz de seduzir o público com a sua voz encantadora.
E são estes dois elementos que conduzem todo o espetáculo num ambiente muito groove. E não faltarem covers, como por exemplo “Mãe Negra”, de Paulo de Carvalho.
Entretanto, o Palco Mundo recebia Áurea e Boss AC, que aqui dividiam atenções. Ela com uma saia em padrão xadrez, ele de camisa branca e fato cinzento, ambos davam cartas intercalando temas dos seus repertórios. E não se podem queixar de falta de apoio. Já com um considerável mar de gente à sua frente, Áurea e AC puxaram pelo público e tentaram não deixar nada ao acaso. Quase sem parar, se a portuguesa largava hits como “Ok Alright” ou “Busy For Me”, o rapper ripostava com “Hip Hop” ou “Princesa”. Mas seria o mega sucesso “Sexta Feira” a deixar o público em alvoroço, mostrando que ainda sabe a letra de cor e salteado. Temos de admitir: AC ganhou este duelo contra Áurea.
Já para eles não se trata de qualquer duelo, dados os constantes mimos que trocam em palco… sejam eles forçados ou não. Para terminar, e continuando a saga das covers, ouve-se “Happy”, de Pharrell Williams, a ser interpretado pela dupla. Uma atuação bem conseguida. E era altura de passar para o concerto do brasileiro Silva.
Há um certo problema nos concertos de Silva: a coisa demora a pegar. Quando entrou no Palco Vodafone, juntamente com o seu trio habitual no baixo, guitarra e bateria e, aqui, com a ajuda do trio de se sopros do Cais Sodré Funk Connection, eram poucos aqueles que esperavam pelo espetáculo do brasileiro. Aliás, a calma era tanta que os poucos presentes encontravam-se ali, sentados, ocupados no Facebook ou a tirar algumas selfies.
Silva, que gravou algum do material do novo álbum, Com Vista Pró Mar, em Portugal, ia desfilando temas como “Disco Novo”, “2012” ou “Falando Sério”, mostrando que as suas canções com realce na eletrónica marcam a diferença para os demais artistas brasileiros que também fazem da música a sua vida. Ainda que, a espaços, o público fosse reagido às melodias que iam saindo das colunas, foi com “A Visita” – canção em que Silva pega no violino – que os presentes ficaram colados à atuação. Este será, porventura, o tema mais conhecido da ainda curta carreira do brasileiro, mostrando que já está na ponta da língua.
O espaço ia ficando mais composto e também as pessoas aproveitavam para se divertirem (e para se aquecerem) nas mais variadas danças, estivessem elas de acordo ou não com o ritmo da música. E a pop-folk que Silva nos apresenta, evidentes em “Universo”, “12 de Maio” ou “Claridão” mostram inspirações em grupos badalados como Animal Collective, que também variam entre guitarras e sintetizadores.
Sem nunca perder a humildade, e sempre com um sorriso na cara, o brasileiro mostrou que tem qualidade para continuar a crescer. Só lhe falta ser um pouco mais comunicativo com o público.
Voltámos ao Palco Mundo para ver a britânica Paloma Faith, mas já começa a ser difícil circular pelo recinto. E quem é Faith? Ilustre desconhecida de muitos, é cantora e atriz e traz consigo um estilo muito retro e que faz lembrar uma pin up girl. A britânica, que foi jovem promessa há anos, é agora uma certeza (afinal estreou-se em 2009 e, desde então, lançou três discos). O mais recente, A Perfect Contradiction, foi apresentado em temas como “Impossible Heart”, “Mouth to Mouth”, “Other Woman” ou “Can’t Rely On You” (um tema assinado por Pharrell Williams).
Claro que, por tocar antes do cabeça de cartaz, Faith contou com uma enorme mancha de público à sua frente. Aproveitando-se disso, deslocou-se até às primeiras filas, percorreu o corredor aberto entre a multidão e tocou nas mãos de alguns felizardos, algo que fez com que a cantora e atriz ganhasse pontos entre os portugueses. Já antes, tinha-se dirigido ao público em português, afirmando estar adoentada, mas elogiando a gastronomia, caso do pastel de nata de que tanto gostou. E ainda pediu desculpa por não dominar a língua portuguesa a 100%.
Também aqui houve tempo para covers. “Million Dollar Bill” de Whitney Houston, numa versão quase banal, e “Crazy Love”, de Van Morrison. O final anunciado chegaria com “Only Love Can Hurt Like This”, o tema mais conhecido da britânica. E, para primeira vez, correu bastante bem.
Um espetáculo de pirotecnia (uma das novidades deste ano) anunciava a entrada do cabeça de cartaz, Robbie Williams, em cena. Alguém se lembra da última vez que Williams atuou em Portugal? Foi em 2003 (isto sem contarmos com a sua participação na cerimónia dos MTV Europe Music Awards, em 2005). Nesse ano, o inglês esgotava por duas noites consecutivas o Pavilhão Atlântico (agora MEO Arena) e estava no auge da carreira, muito por culpa do lançamento de Escapology, álbum de 2002. Agora estamos em 2014 e, 11 anos volvidos, Williams é quase uma sombra do que outrora foi.
Com cerca de 60 mil pessoas à sua frente, o one man show de Inglaterra deu o mote com “Let me Entertain You”, como em jeito de preparação para a seguinte hora e 20 minutos de concerto.
Como estrela global que é, Williams surgiu trajado de fraque e luvas brancos, como se um crooner do passado. É entertainer nato, nota-se. A atitude está lá, o charme e o carisma não se perderam e acaba por ser muito complicado não achar graça ao que o britânico quarentão faz em palco.
No entanto, acaba por ser um pouco confuso o facto de um artista com um repertório recheado ter optado por mudar a via da sua forma de atuar, concentrando-se na interpretação de covers, nas obras de outros músicos. Por isso, o público do Rock in Rio pôde ouvir versões de “New York, New York”, de Sinatra, “We Will Rock You”, dos Queen, “I love rock’n’roll”, de Joan Jett & The Blackhearts, ou “Walk on the Wild Side”, de Lou Reed.
Claro que, lá pelo meio, ouviram-se temas do próprio repertório, exemplos de “Come Undone” ou “Rock DJ”. Mas a jukebox estava ligada, e lá vieram “I still haven’t found what I’m looking for”, dos U2, uma versão acústica de “Wonderwall”, dos Oasis e até uma “Song 2”, original dos Blur, que teve um Williams aos saltos.
Acima de tudo, não se deve levar o britânico muito a sério. Aliás, ele próprio não se leva muito a sério. Nota-se uma auto depreciação, em algo que parece ser necessário para que o próprio consiga levar todo o aparato cénico e musical a bom porto.
Williams, sempre muito comunicativo e ativo (foram várias as idas ao público), ainda referiu que já estava “velho e gordo” e que não se lembrava o quão ajustado tinha de ser num evento deste género, já que já não participava num festival “há uns 10, 12 anos”.
Embora não apresenta a energia, a irreverência e a imagem de homem rebelde de outrora, continua a denotar aquela voz tão afinada e poderosa que sempre o caracterizou. E, depois de perguntar quem iria ganhar o Mundial (a resposta foi, claro, Portugal), lançou-se ao mega êxito “Feel”, num momento entoado por todos os presentes.
A despedida seria feita ao som de outra balada, “Angels”. “Vou ficar realmente chateado se não cantarem esta,” disse antes de se iniciar na última música do alinhamento. O seu desejo foi ordem cumprida e Williams e a sua banda saiam de palco. O público pareceu ter gostado. Quanto a nós, achamos que cumpriu os serviços mínimos.
Seguia-se a senhora que nunca falhou uma edição do Rock in Rio Lisboa. Ivete Sangalo é a mulher furacão que consome tudo à sua passagem. Com 41 anos, exibe uma forma física invejável, capaz de fazer muitas adolescentes dos dias de hoje. Naquela que foi a sua sexta presença no evento, a cantora também celebrava algo: a bonita marca dos 20 anos de carreira.
A festa começou logo ao som de “Tempo de Alegria”, num concerto que, de resto, iria demonstrar muitas músicas com travo latino. Chamou-nos “portugueses gostosos” e meteu ordem na casa com os seus ritmos quentes. O público, claro, sobejado conhecedor do repertório da artista, vai fazendo os festejos com muitos saltos e palmas.
Ivete também sabe a popularidade que tem entre o público português, aproveitando-se para mostrar o seu lado mais divertido e sensual. E também ela enveredou pelas covers/homenagens. Por exemplo, entre os seus “Na Base do Beijo”, “Arerê”, houve tempo para “Could You Be Loved”, de Bob Marley, e “Careless Whisper”, de George Michael, num tema em que dançou com um repórter de imagem. Felizardo…
Esta espécie de sambódromo improvisado que dá pelo nome do Rock in Rio viu ainda a brasileira a exibir uma camisola de Cristiano Ronaldo, enviando-lhe logo de seguida um beijo pelo feito alcançado no fim-de-semana passado.
Também não faltaram temas como “Beleza Rara”, “Festa” ou “Sorte Grande” mas, para quem queria mais Ivete, não fique desesperado: o regresso está prometido para março do próximo ano.
29 de Maio de 2014
Este era o dia mais esperado. Afinal, tocavam os míticos Rolling Stones, banda que não visitava o nosso país desde 2007, ano em que atuou no estádio de Alvalade XXI. Portanto, a ansiedade era muita, sendo algo que provocou uma correria aos bilhetes. Esperavam-se 90 mil pessoas, lotação esgotada no RiR para ver os dinossauros do rock.
E isso notou-se logo nas primeiras horas. Muito mais confusão do que no dia anterior (60 mil pessoas, números da organização) e desde cedo se notou que o aglomerado de gente perto do Palco Mundo formava-se com uma velocidade impressionante. Claro está, para guardar lugar na fila da frente.
Começámos a jornada do dia com o concerto do português Frankie Chavez no Palco Vodafone. E que concerto! Com uma série de pessoas a assistir atentamente ao seu desempenho em palco, Chavez e os seus acompanhantes (Nuno Lucas no baixo e João Correia na bateria) assinalaram uma atuação de grande nível, aquecendo os corpos daqueles que não arredavam pé daquela zona do recinto.
Heart & Spine, o segundo álbum do português que está há cerca de um mês nas lojas, foi financiado pelos seus fãs através de uma campanha de crowdfunding e deu aqui um dar de sua graça em temas como “Please Don’t Leave Tonight” (que na versão de estúdio conta com a participação de Erica Buettner) ou “Fight”.
Chavez tanto nos soa como um Ben Harper português nos temas maias acústico, como também nos faz lembrar Jack White nos seus momentos mais rockeiros. E Chavez é fã confesso de rock, já que ouve Stones “desde que me lembro de mim”.
Mas Chavez é mais que rock. É blues, é folk, a musicalidade norte-americana corre-lhe nas veias.
E o frio que se fazia sentir na Bela Vista não afastou os fãs, e curiosos, do concerto do português, que tudo fez para ser bem-sucedido. Claro que, no final do espetáculo, e já depois do tema final “Mama”, Frankie Chavez recebeu o maior aplauso quando tirou uma selfie juntamente quem o via no Palco Vodafone. Chama-se saber aproveitar a tecnologia após um espetáculo de 45 minutos. Inteligente.
Entretanto, e enquanto os Triptides não tocavam, fomos até ao Palco Mundo vislumbrar a atuação de Rui Veloso com dois convidados, Lenine e Angélique Kidjo. E foi uma fusão de estilos.
Rui Veloso entretia a mancha de público que tinha à sua frente com temas do seu repertório como “Chico Fininho” e “Lado Lunar”, Lenine adocicava a coisa com “Candeeiro Encantado” e Angélique optava por covers como “Redemption Song” de Bob Marley ou “Voodoo Child” de Jimi Hendrix. E regressámos ao Palco Vodafone.
Era altura dos Triptides entrarem em palco, mas este não foi um concerto que ficou para a memória. O frio que se fazia sentir não deixou muito espaço de manobra ao projeto norte-americano, que também não fez nada por aí além para manter o público interessado. Em palco são três e a música que produzem vai beber inspiração ao rock dos anos 60. Porém, faltou algo à atuação e nem temas como “Set You Free” ou “Summer is Over” conseguiram trazer alguma emoção. Fica para uma próxima.
Já os Xutos e Pontapés deram um espetáculo igual a tantos outros no Palco Mundo. Contudo, e embora temas novos como “Tu Também”, “Da Nação” e “Salve-se Quem Puder” mostrem uma banda que pouco inova, são temas como “Chuva Dissolvente”, “Maria” ou “Circo de Feras” que calham sempre bem nos ouvidos. Há quem lhes chame os Rolling Stones portugueses. Mas será que os veremos a tocar todos juntos quanto os elementos da banda estiverem na casa dos septuagenários?
Cerca de dez minutos depois da hora marcada, o texano Gary Clark Jr entrava com a sua banda para dar um bom concerto, mas que ficou mal enquadrado. Repara-se: a qualidade está toda lá, isso nem se coloca em causa; a questão é que os blues e os solos deste virtuoso da guitarra acabaram por “adormecer” muita gente. E Gary Clark Jr merecia melhor sorte e mais aplausos…
Este regresso (o músico atuou na anterior edição do Super Bock Super Rock) não esteve relacionado com nenhum novo trabalho, mas nem por isso Gary Clark Jr. Deixou de mostrar o que valia. Para todos aqueles que não tiravam os olhos do palco, o autor de “Don´t Owe You a Thang” (provavelmente a música mais conhecida) esforçou-se para centrar a atenção do público presente, que já não arredava pé para os senhores que se seguiam. Sem encher chouriço, o músico foi debitando temas do seu álbum de estreia Blak and Blu, de onde se destacam temas como o belíssimo “Bright Lights”. E, uma hora e 20 minutos depois, os habituais “thank you” marcavam o fim da atuação.
Chegávamos ao momento pelo qual todos esperavam, a entrada dos Rolling Stones em palco. “Ladies and gentlemen, will you please welcome the Rolling Stones!” Berraria desenfreada e “Jumping Jack Flash” dava início a uma festa que iria ficar marcada para a história do Rock in Rio.
Lembra-se do ditado “uma imagem vale mais que mil palavras”? Neste caso, mil palavras acabam por dar mais jeito que uma imagem, ou várias. Quem esteve lá sabe do que este vosso escriba vos fala. Nesta sexta visita a Portugal, os Stones não deixaram o crédito por mãos alheias, mostrando que já fazem isto há dezenas de anos, mas com a pujança de um grupo de jovens que só agora se iniciou nas lides musicais. E, no final do concerto, certamente que seriam poucas as almas que deram o dinheiro do bilhete por mal empregue (o mais barato da digressão dos Stones, diga-se).
O concerto decorrera de forma semelhante, pelo menos em termos de setlist, ao concerto anterior que estes dinossauros do rock tinham dado em Oslo, na Noruega. Mas falar de um concerto dos Stones é muito mais do que nos basearmos nas músicas envolvidas; é realçar a atitude de homens na casa dos 70 anos que fazem corar de inveja muitas bandas que por aí andam.
Desde logo começando por Mick Jagger, o feroz e andrógeno vocalista do grupo que continua igual a si próprio: provocador, irrequieto, ágil e em excelente forma física. Um símbolo sexual com quase 71 anos e que tinha o público na mão desde o início do espetáculo. Há que realçar que, à partida, e excetuando uma hecatombe, este era um concerto que estava ganho. Mas ficou ainda mais ganho quando Jagger anunciava que a banda tinha convidados especiais para subirem a palco. E, quando se falavam em nomes como Ana Moura e Bryan Adams (tinha viajado para Portugal para realizar uma sessão fotográfica), eis que toda a gente fica surpreendida quando Bruce Springsteen entra em palco. Quem diria, o “Boss” e Mick Jagger em palco, duas lendas juntas a atuarem no Rock in Rio? Se, até então (e isto aconteceu na quarta música), o público já estava agarrado, com a entrada em cena de Springsteen para interpretar “Tumbling Dice” as coisas ficaram ainda mais apoteóticas. E também outros convidados subiram a palco: Gary Clark Jr (que parecia incrédulo com o que estava a acontecer) para interpretar “Respectable”, e Mick Taylor, guitarrista que deixou a banda em 1974 e que aqui tocou em “Midnight Rambler”.
É difícil de acreditar que os Stones já têm 60 anos de existência. E isso revela-se em todos os elementos da banda, não só em Jagger. A experiência conta muito, mas o espetáculo também está delineado ao pormenor para que nada falhe.
Por exemplo, Jagger mete-se com o público e chega até a falar português. “Olá Lisboa! Olá Portugal! É bom estar de volta”, ouvimos após “It´s Only Rock and Roll (But I Like It)”. “Não sei mais português”, referiu Jagger. Mas afinal sabia. “Portugal vai ganhar a copa do mundo?” ou “Que público maravilhoso” deixaram a Bela Vista em reboliço.
E o vocalista da mítica banda é generoso quanto basta; não para em palco e chega-se ao pé do público por diversas vezes. Mas o palco não é só dele, é de todos os elementos.
Em palco estão, além dos Stones, outros elementos que ajudam à festa. E todos eles vieram à frente do palco para serem ovacionados pelo público assim que Jagger apresentou cada um.
A certa altura, Keith Richards assumiu o papel de vocalista. “It’s nice to be here. It’s nice to be anywhere” disse Richards antes de se atirar a “You Got the Silver” e “Can’t Be Seen”. O guitarrista é, de resto, uma das figuras mais adoradas dos Stones (passou por nós um cartaz que referia “Keith Richards ainda é um fora da lei”).
O concerto também passou por momentos mais calmos (e românticos, como Jagger referiu) com “Wild Horses” do álbum Sticky Fingers, de 1971, e por momentos mais explosivos como a fenomenal “Out of Control”, mas foi na reta final que mais aplausos se ouviram: “Gimme Shelter”, “Start Me Up”, “Sympathy For The Devil” e “Brown Sugar”, a encerrar o alinhamento.
Mas não era tudo. O coro nacional “Ricercare” subia a palco para ajudar a banda, regressada do encore, a interpretar “You Can’t Always Get What You Want”. E o final, como era esperado, terminava caoticamente com “Satisfaction”.
Foram duas horas de concerto para 90 mil pessoas, naquele que seria o único dia com lotação esgotada. Uma banda que, passados todos estes anos, apresenta um espetáculo deste gabarito, merece o nosso respeito. E esta foi, provavelmente, a última vez dos Stones em Lisboa. É certo que podem ter faltado alguns temas, mas temos a certeza que os fãs vão guardar na memória o dia em que se fez história no Rock in Rio.
Obrigado pela magia, Rolling Stones. Até uma próxima.
30 de Maio de 2014
O terceiro dia do Rock in Rio Lisboa tinha como novidade o facto de ter duas bandas a partilharem o estatuto de cabeças de cartaz: Queens of the Stone Age e Linkin Park. Contudo, presumia-se que os Linkin Park fosse os “verdadeiros cabeças de cartaz” do dia 30 de maio, por tocarem depois dos QOTSA. Mas já lá vamos.
Notava-se menos gente no recinto. Afinal, a lotação não estava esgotada, mas uma coisa permanecia inalterada: a caça aos brindes. Filas gigantescas para tudo e mais alguma coisa. A equipa do Festivais de Verão seguiu para o Palco Vodafone, onde iam atuar os portugueses Salto.
Acaba por ser uma tarefa ingrata para um artista ou banda tocar tão cedo, e quando ainda muita gente nem sequer saiu do trabalho. Mas os portuenses Salto fizeram os possíveis para animar a pouca malta que por ali se encontrava. Ainda que os vários incentivos para levar o público para perto do palco tenham sido inúteis, ouvir temas como “Poema de Ninguém”, “Deixar Cair” ou “O Teu Par”, que tão bem denotam a eletrónica do grupo, acabaram por ajudar a animar este início de dia.
Entre o vento frio que se fazia sentir, viajámos até ao outro palco, o Palco Mundo, onde os brasileiros Capital Inicial iam dar início à sua atuação. “Preparem-se para uma hora de rock and roll brasileiro”. Foi assim que Dinho Ouro Preto, vocalista da banda, apresentou o projeto brasileiro.
Com mais de três décadas de carreira, os Capital Inicial fazem-nos lembrar bandas tipo Blink 182, que com o seu punk acabaram por cair em desuso nos últimos anos. Mas a agradável mancha de público que já fazia lugar junto do Palco Mundo parecia estar agradada com o desempenho do grupo brasileiro. Entre palavrões e nervosismo, a banda foi mostrando repertório como “Cristo Redentor” ou “A Sua Maneira” e, no final, tirou uma foto com todos os fãs para colocar no Facebook.
Já no palco Vodafone, o projeto Blood Orange encerrava as atuações daquele palco neste dia. E foi uma atuação… pouco inspirada. A banda nova-iorquina de Devonté Hynes, mas que também conta com elementos dos Charlift, Dirty Projectores e Kindness, teve hoje a vocalista dos Friends, Samantha Urbani, em palco e até começou a atuação da melhor forma com a incrível “Chamakay”, do álbum Cupid Deluxe. Mas a atuação foi perdendo fulgor, e o (pouco) público que ali estava também não ajudou.
Como momentos positivos, destacamos “It Is What it Is”, “You’re Not Good Enough”… e pouco mais. O som estava também exageradamente alto, o que não ajudou nesta experiência, e os ritmos lentos e melódicos dos Blood Orange não estavam, de todo, certos neste dia de rock. Mais uma aposta deslocada do Rock in Rio.
Fomos a correr para o concerto dos Queens of The Stone Age no Palco Mundo e depressa nos apercebemos que este não era o seu público, ou não fosse o facto da maioria dos presentes estar ali para ver Linkin Park. E este concerto podia ter feito história pelas piores razões… mas felizmente tal não se veio a verificar.
Porquê? Passamos a explicar. Alguém se lembra de ouvir “You Think I Ain't Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire", “Go With The Flow” e “3’s & 7’s”? Pois, nós também não. É que nestas três primeiras músicas o som era quase inaudível, como se a voz de Josh Homme e o som dos instrumentos tivessem sido sugados por algo. Portanto, quase uma mão cheia de temas que não despoletaram qualquer interesse nos espetadores (diga-se que a grande maioria estava ali para ver Linkin Park).
Mas, de forma quase milagrosa, o som foi recuperado por volta da imponente “My God Is The Sun”. Palmas para o técnico de som, que ajudou (e muito) a tornar um concerto que se previa muito mau em algo em crescendo. E até o público começou a acordar.
Em palco, os elementos da banda, com mais ou menos som, são os mesmos de sempre – fortes, aguerridos, agressivos e sem papas na língua. Que o diga Homme, o frontman da banda que continua a mesma rock star badass de sempre.
Ele manda “fuck you” ao público, ameaça alguém que lhe aponta um laser verde (se me apontas o laser outra vez, parto-te o pescoço), mas também mostra o seu lado mais harmonioso ao declarar o seu amor por Portugal – ironia ou nem por isso?
Não obstante, o concerto foi melhorando gradualmente, tal como a definição sonora. A dar o litro em palco, a banda americana agradou aos maiores fãs após tocar temas como a aguerrida “Little Sister” e a sedutora “If I Had a Tail”, mas o maior momento chegaria perto do final com “No One Knows”. Aqui, até os fãs de Linkin Park e outros dançarem. Caros leitores, o rock é isto: simples, duro e sem merdas.
Com os habituais “love you”, os QOTSA lá voltaram para o backstage, mas Homme ainda deixou a guitarra a fazer feedback. Que não demorem a regressar, mas desta vez em concerto próprio, por favor.
2008, 2012 e 2014. Esta seria, portanto, a terceira vez dos Linkin Park no Rock in Rio Lisboa. E em seis anos o que mudou? Pouca coisa, já que a banda californiana parece padecer um pouco da síndrome da repetição, mas nem isso demoveu as 68 mil almas (números de organização) que tinham marcado presença neste dia.
As duas horas de concerto, divididas em três atos, mostraram quase três dezenas de músicas (entre versões integrais e encurtadas de vários temas) que passaram por grande parte da discografia do grupo. A debandada abria com “Guilty All the Same”, primeiro single do novo álbum The Hunting Party, e que mostra que a banda pretende deixar as vias eletrónicas e optar por algo mais rockeiro. Mas é interessante analisar o percurso dos Linkin Park. Até ao lançamento de Meteora, álbum lançado em 2003 e que vendeu mais de 20 milhões de cópias, a banda californiana era dos projetos que explorava o nu-metal com mais sucesso, a par com, por exemplo, os Limp Bizkit. Mas se estes últimos caíram no esquecimento, os Linkin Park tentaram optar por outra via e experimentar novas sonoridades. Minutes to Midnight, de 2007, deu início à nova fase dos LP, que se iria seguir com A Thousand Suns, de 2010 e, finalmente, Living Things, que juntava um pouco de todos os anteriores trabalhos. Contudo, o grupo criava aqui uma espécie de amor-ódio com a sua falange de fãs, o que levou a que os trabalhos mais recentes não tivessem tanto sucesso comercialmente. E pode ter sido essa a razão para a criação de The Hunting Party, álbum que promete ser o mais pesado dos LP desde então.
Mas falávamos do concerto. Do primeiro ato destacamos “Given Up”, um dos melhores temas de Minutes to Midnight; do segundo ato, o delírio com “Papercut” e “Runaway”, mas seria outro tema a destacar-se: “Wastelands”, que Mike Shinoda ofereceu aos fãs portugueses em formato CD, referindo que não iriam encontrar a faixa em nenhum lado; por último, o terceiro ato que contava com um trio vitorioso no final – “Numb”, “In The End” e “Faint”.
Já no encore, os Linkin Park chamaram Steve Aoki ao Palco Mundo para “A Light That Never Comes”, mas logo de seguida Aoki mergulhava com o público. A caminhada final dava-se com um curto “Crawling”, “New Divide”, “What I’ve Done” e, por fim “Bleed It Out”.
Um concerto sem muita interação com o público, mas com uma banda desesperada por mostrar serviço e para dizer que ainda está viva.
O DJ e produtor americano Steve Aoki, de ascendência japonesa, já esteve por diversas vezes em Portugal. Por isso, não é de todo novidade o que faz em palco – dança, para a musica, puxa pelo público, canta por cima dos temas e, o que parece ser mais importante numa atuação de Aoki: o envio de bolos à cara de alguns fãs.
Em palco, apoiado por uma tribuna de néon e 250 mil watts de potência, Aoki mostra que tem a lição bem estudada – abre champanhe, usa pistolas de fumo e ainda permite que alguns sortudos mergulhem por cima do público graças a barcos insufláveis.
Ouvimos hits da música eletrónica recente, mas também escutámos algumas oldies. Aoki contou com menos gente a vê-lo, mas nem por isso a energia foi inferior. Qual a ideia com que ficámos? Acaba por ser mais um entertainer.
30 de Maio de 2014
Muitos fãs do Rock in Rio ficaram desagradados pelo facto de esta sexta edição não ter nenhum dia dedicado ao metal. Nesta sexta realização do evento em Portugal, podemos ressalvar que um dia dedicado ao indie foi uma aposta arriscada… mas que até acabou por correr bem.
Mas também se denotava um cenário que, à partida, nos deixava preocupados: pouca gente no recinto. E era com alguma estranheza que caminhávamos tranquilamente pelo recinto da Bela Vista.
Demos início aos concertos com os Capitão Fausto a darem tudo no Palco Vodafone. Com um alinhamento focado em Pesar o Sol, o segundo (e fantástico) álbum da banda, os Capitão Fausto mostraram que temas como “Maneiras Más” ou “Nunca Faço nem Metade” já causam efusão no público, mas que também emanam a qualidade da banda portuguesa de rock contemporâneo. O público foi até recetivo ao crowdsurfing de Tomás Wallenstein, vocalista da banda, que lá ia agradecendo ao público pela generosidade.
Entretanto, o Palco Mundo recebia a “Homenagem a António Variações”, que iria contar com as atuações de Gisela João, Linda Matini, Deolinda e Rui Pregal da Cunha.
À (bela) fadista, calharam “Quero É Viver”, “Anjinho da Guarda” e “Adeus Que Me Vou Embora”, já com os amigos Linda Martini em palco.
A fadista despedia-se e o quarteto rock lançava-se a uma versão bastante interessante de “Toma o Comprimido” e “Visões Ficções”. Lá era altura de Ana Bacalhau dividir protagonismo com um tema que lhe assentava que nem uma luva: “Canção de Engate”.
Aos Deolinda ainda calharam os hits “O Corpo É Que Paga” e “É P’ra Amanhã” e, em “Estou Além”, Rui Pregal da Cunha tentava deixar a sua marca…. mas sem muito sucesso, diga-se.
E, depois de “Dar e Receber” ou “Erva Daninha”, facilmente esquecíveis, todos os convidados juntavam-se em palco, fazendo um supergrupo na recriação de “Amália na Voz”.
Fomos até ao Palco Vodafone e deparámo-nos com um cenário muito animador: um palco alternativo completamente cheio para receber os ingleses Wild Beasts.
Na bagagem traziam Present Tense, um dos mais belos álbuns lançados este ano, e foi a imponente “Mecca”, desse mesmo disco, que iniciou a atuação da banda britânica.
Nesta terceira passagem pelo nosso país, os Wild Beasts focaram a sua atuação no novo “Present Tense”, de onde retiraram o primeiro single “Wanderlust” (guardado para o fim da atuação), “Daughters”, “Sweet Spot” e “A Simple Beautiful Truth”.
Mas também houve direitos a músicas mais antigas que, talvez, fossem as mais esperadas. Embora tenham falhado ao não tocar “Albatross”, “Reach A Bit Further”, do álbum “Smother”, acabou por registar um dos momentos altos do concerto, assim como “Hooting & Howling”.
E há que realçar a interessante dualidade de vozes entre Hayden Thorpe e Tom Fleming que, quando combinadas, resultam num perfeito experimentalismo criativo. E, ao vivo, soam tal e qual como em estúdio. Impressionante.
De regresso ao Palco Mundo, o inglês Ed Sheeran mostrava que, em Portugal, tem muitos pré-adolescentes (principalmente do sexo feminino) como seguidores atentos. Isso notava-se nas filas da frente, onde a berraria era uma constante cada vez que Sheeran se dirija ao público português.
Munido apenas da sua guitarra acústica (que lá ganhava um efeito amplificado) o cantor aproveitou o seu estado de graça atual para meter muita gente a chorar com temas como “Lego House”. Esta espécie de folk que o inglês produz acabou por ter o seu expoente máximo em “I See Fire”, tema que faz parte da banda sonora do filme “O Hobbit: A Desolação de Smaug”. Entretanto o concerto acabou e o coro português, assim como os vários cartazes com amor declarado por Sheeran, desapareceu enquanto esperava pela neozelandesa Lorde.
Lorde deu um concerto que nos fez lembrar um pouco o que se passou com Queens of The Stone Age. Começou mal (felizmente não sofreu problemas de som), mas foi ganhando ritmo e confiança ao longo da atuação.
É interessante analisar a forma de expressão de Lorde em palco: faz-nos lembrar uma esquizofrénica – os seus movimentos não correspondem, em nada, aos ritmos das músicas. Quase como se a cantora estivesse a tentar encontrar o seu próprio espaço… Afinal de contas, a miúda tem apenas 17 anos, mas quer mostrar o serviço de gente grande.
Ao vivo, a neozelandesa denota uma forma impressionante: imprevisível, mostrou ter uma voz já consolidada que é muito mais do que a “cara” de Royals.
Embora Lorde tenha dito que este era a maior plateia que teve à sua frente (algo que duvidamos), não se deixou impressionar e passou em revista o seu álbum de estreia Pure Heroine, assim como os dois EPs que gravou. Ella Yelich-O’Connor, nome verdadeiro da artista, teve a maior chuva de aplausos com “Easy”, “Tennis Court” e, claro, com a sequência “Royals” e “Team”, os temas mais reconhecidos de uma lide musical que só agora está a começar.
Juntamente com um baterista e teclista de palco, Lorde despedia-se com “A World Alone”, com direito a chuva de confetti. Lorde conquistava, com uma aparente facilidade, o público do Rock in Rio.
Entretanto a confusão instalou-se – muita gente a querer ir para as filas da frente - e as 47.500 pessoas (números da organização) já faziam espera para os Arcade Fire, cabeças de cartaz deste 4º dia.
Quem diria que, em 2005, quando os Arcade Fire apresentavam o seu primeiro disco, Funeral, em Paredes de Coura, viria, nove anos depois, a consagrar uma banda que agora se tinha tornado numa máquina de fazer rock? Naquela altura, a banda canadiana dava em terras lusas um concerto para mais tarde recordar. Hoje em dia são gigantes e não querem parar de crescer.
Depois do sucesso estrondoso de The Suburbs, o novo Reflektor veio mostrar uns Arcade Fire mais viradas para a disco e para dança. Consequentemente, um novo som para agradar às massas e encher, mas nem por isso pior, muito pelo contrário.
Embora este tenha sido, até então, o dia com menos público do Rock in Rio, os presentes mostraram que quantidade não é sinónimo de qualidade, apoiando a banda canadiana ao longo de um espetáculo de duas horas.
Momentos antes de se dar início ao espetáculo, muitos eram aqueles que vislumbravam o slide do Rock in Rio, onde estava presente um homem vestido de espelhos e que viria a tornar-se em quem daria as boas vindas aos Arcade Fire, que começaram a cavalgada musical com “Reflektor”, tema-título do último.
Um palco complexo e vistoso albergava 12 (e às vezes 13!) elementos da banda canadiana, distribuídos entre secção de metais e vários instrumentos de percussão. Claro, existem elementos que se destacam: o homem forte Win Butler e a sua mulher Régine Chassagne são apenas alguns deles.
Ao todo, o disco Reflektor deu um ar de sua graça em nove temas dispostos numa belíssima setlist. Recordamos, por exemplo, a interessantíssima linha de baixo de “We Exist” que seria logo seguida com a epopeia de “Afterlife”. Mas a epicidade de “Normal Person” e a festança de “Here Comes the Night Time (já com os cabeçudos Bobbleheads em palco, em que Lorde fazia parte) acabam por se destacar ao vivo mostrando que, embora a viragem musical dos Arcade Fire esteja agora virada para grandes palcos, o feeling indie nunca se perdeu.
E, embora alguém nos tenha dito no final do concerto que sentiu falta da intimidade revelada em espetáculos anteriores, a verdade é que menos falatório acaba por dar mais tempo para a música. E era para isso que os Arcade Fire ali estavam: para a festa, para dar espetáculo, não para se tornarem nos nossos melhores amigos.
Apenas uma coisa falhou: a guitarra em “Month of May”. Butler ainda tentou novamente, mas sem sucesso, atirando-se de seguida a uma espécie de versão “a capella” de “My Body Is a Cage”. E tínhamos gente ao lado lavada em lágrimas: “Esta música é tão linda!”.
Claro que ao longo de duas horas se passa muita coisa. O tal homem de espelhos que deslizara no slide foi para a plateia em “Afterlife”, Régine afastou-se do palco para, em “It´s Never Over (Oh Orpheus)”, roubar protagonismo ao marido e ainda ouvimos uma canção “sobre a saudade”, dizia Butler, ao piano, antes da interpretação de “The Suburbs”.
Claro que os momentos mais épicos da discografia estariam guardados para temas mais populares: “Rebellion (Lies)”, aqui melhor do que nunca, e a desconcertante “No Cars Go”. E era nesta altura que já se notava a fabulosa lírica dos Arcade Fire – deixam-nos arrepiados.
Foi em estado de rebuliço que demos por nós a chegar ao último tema da noite, a deliciosa “Wake Up”, acompanhada por um coro que ecoou por toda a Bela Vista.
Os Arcade Fire podem ter denotado que andam agora por caminhos onde a eletrónica e os riffs de guitarra falam mais alto, mas uma coisa é certa: a banda não morreu, ganhou sim uma nova identidade. E nós gostamos disso.
01 de Junho de 2014
Este último dia da 6ª edição do Rock in Rio Lisboa fez-nos lembrar o dia de Rolling Stones. Porquê? Muito mais gente no recinto, pouco comparável com o dia anterior. Afinal, era o sonho de muita gente: a primeira vez de Justin Timberlake em Portugal. Mas já lá iremos.
Começámos a nossa última jornada na Bela Vista ao assistirmos ao concertos dos Linda Martini, banda que tem vindo a crescer cada vez mais. Até tiveram algum público a assistir à sua atuação, mas que teimava em ficar lá para trás, na conversa.
Contudo, não pareciam com muita vontade de estar em palco, e isso pode dever-se à dica de Hélio Morais: “Ontem estiveram cá os Capitão Fausto a dar um grande concerto. Pode ser que, no futuro, as bandas portuguesas ganhem direito a tocar depois das estrangeiras”. A opinião do baterista dos Linda Martini é legítima e recolheu alguns aplausos, mas acaba por não fazer muito sentido.
Não obstante, este foi um concerto que passou num ápice e que teve os seus momentos altos em “Juventude Sónica”, “Amor Combate” e, claro, a finalíssima de sempre “100 Metros Sereia”.
Já no Palco Mundo, João Pedro Pais atirava-se sem medos a sucessos como “Ninguém é de Ninguém” ou “Um Volto Já”, contando sempre com a ajuda do público, maioritariamente nos refrões.
A certa altura ainda convidou “um amigo”, Jorge Palma, com o qual ofereceu “Frágil” e o tão conhecido “Encosta-te a Mim”.
Fomos até ao Palco Vodafone e uma coisa era certa: estavam ali fãs dos Bombay Bicycle Club. Embora o espaço não estivesse cheio de gente como no dia anterior com Wild Beasts, os ingleses conseguiram atrair bastante público que se mostrou familiarizado com temas do novo álbum So Long, See You Tomorrow. Por exemplo, um tema bastante bem recebido foi “It’s Alright Now”, ainda mais popular que “Luna”, primeiro single do mais recente avanço discográfico do mundo. A esta altura já o vocalista Jack Steadman se mostrava feliz e sorridente com o público que assistia à festa.
Não é uma banda muito expressiva e comunicativa, mas é simpática e humilde quanto baste para aproximar o público de si. Os Bombay Bicycle Club, que estavam de volta após a estreia em 2011 no Optimus Alive, meteram gente a dançar ao longo de um alinhamento que se concentrou principalmente nos dois últimos álbuns de estúdio. Tudo certinho, tudo muito bem estudado e sem falhas. Uma máquina de produção pop que gostaríamos de ver em nome próprio numa outra oportunidade.
Já no Palco Mundo, Mac Miller, que veio em substituição de Nile Rodgers, do Chic, animava a plateia com um concerto que, quanto a nós, nos pareceu deslocado. Acompanhado pelo DJ Clockwork, o rapper deixava que se instalassem muitos momentos mortos ao longo do seu concerto, o que não ajudou, e repetia palavrões. Contudo, temas como “Watching Movies” mostram-se mais fortes ao vivo, e também reconhecidos do público, o que nos leva a crer que, talvez, este não tivesse sido uma aposta totalmente perdida do Rock in Rio.
Já o estatuto de “banda de abertura” de Justin Timberlake coube à britânica Jessie J, aqui numa excelente forma física que terá, certamente, conquistado a atenção de todos os homens da plateia.
A artista, que muito agradeceu a Timberlake por este lhe ter dito que “era das melhores cantoras do mundo”, mostrou que já se encontra numa fase em que sabe conduzir com mestria um bom espetáculo que varia entre novos e velhos temas já muito conhecidos.
Em cima de uma plataforma, juntamente com uma banda e duas meninas do coro, Jessie J foi generosa o quanto basta ao ir ter com o público algumas vezes – destacamos o momento que um jovem chorava compusivelmente na sua frente, tendo a artista limpo as suas lágrimas -, mostrando-se autêntica, sincera e verdadeira.
Pode, de forma visual, aparentar ser uma diva, mas as suas atitudes não o demonstram. As formas sensuais do seu corpo, a sua bela voz e atitude em palco é que, de facto, fazem lembrar uma diva tremendamente importante no mundo da música.
O público dançou e saltou com Jessie J, principalmente em “It´s My Party” e na popular “Price Tag”. Mas a surpresa estaria guardada para uma recriação de “Wonderwall”, dos Oasis. Lá está, a moda das covers.
Um excelente espetáculo de abertura para a estreia do senhor que se seguia. Não duvidamos que, numa próxima vez, Jessie J estará com um espetáculo ainda mais aprimorado.
80 mil pessoas, caros leitores. Nesta altura, Timberlake iria atuar para quase tanta gente como os lendários Rolling Stones tinham feito na quinta-feira passada. E dez minutos de atraso não chegaram para fazer desesperar uma multidão que se mostrou rendida ao longo de quase duas horas de um concerto magistral.
De fato e chapéu preto, camisa e sapatos desportivos brancos, Timberlake mostra que é um entertainer nato (a voz é boa, não espetacular) e um dançarino de renome. Ao início, e sem fazer nada, uma estrondosa ovação fazia com que o cantor/ator agradecesse com duas vénias. “Vieram todos para a festa, não foi?”, questiona antes de se lançar Pusher Love Girl, do mais recente The 20/20 Experience. Mas seria “Rock Your Body”, o grande hit do álbum “Justified”, a provocar a primeira explosão de berros e a meter todos a dançar.
Este homem, que pretende ser o novo Michael Jackson, estava acompanhado de uma gigantesca banda. Entre a secção de metais e backing vocals, mais de 20 artistas davam tudo em palco para oferecer uma experiência inesquecível. E também as coreografias, delineadas ao milímetro com mais uma série de dançarinos, mostravam o quão bom “Justino” (carinhoso nome dado pela imprensa) era a jogar com os pés e a mexer o corpo.
O mote desta apresentação em palco estava relacionada com The 20/20 Experience, o álbum que interrompeu a carreira cinematográfica de Timberlake e que, ao vivo, é muito melhor que em estúdio. Aliás, nem só os clássicos foram reconhecidos: temas como “Summer Love” em modo sensual, “Take Back The Night” ou a fabulosa “TKO” foram rapidamente conhecidos pelo público (maioritariamente feminino), que ainda não acreditava estar perante um dos seus ídolos de sempre.
Mas foram temas como “What Goes Around… Comes Around”, em versão camaleónica, “My Love”, “Sexy Back”, “Señorita” e “Cry Me a River” (tema que o lançou para o estrelato) que mais furor causaram nas milhares de almas presentes na Bela Vista.
E Timberlake mostrou que não é apenas cantor, ator e performer. Também sabe tocar instrumentos, provando-o de guitarra ao peito na sua versão de “Heartbreak Hotel”, de Elvis Presley. Falámos de Michael Jackson, que muitos referem ter encontrado um sucessor em Justin Timberlake e, sendo ou não, a verdade é que sente um pouco da vibe motown em JT. E as homenagens foram feitas com “Shake Your Body” e “Human Nature”.
Um espetáculo magistral coberto de groove, soul, blues e pop. O músico americano fez no Rock in Rio Lisboa uma exímia mistura de todos estes estilos, apoiado por uma grande produção visual.
Só faltava aquele tema que todos queriam ouvir: “Mirrors”, a faixa que tornou The 20/20 Experience num verdadeiro sucesso e que encerrou as atividades do Palco Mundo do Rock in Rio Lisboa.
Despedidas feitas e JT desaparece na plataforma sob a qual tinha aparecido no início do espetáculo. Dificilmente haveria melhor forma de terminar mais uma edição do Rock in Rio. Uma aposta mais que ganha, um dos melhores concertos do evento.
Em 2016 há mais. E se, Deus quiser, o Festivais de Verão estará de regresso ao Parque da Bela vista para vos trazer o rescaldo de mais um Rock in Rio Lisboa 2016.
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sábado, 20 dezembro 2014