Reportagem SBSR 2010 - 17 de Julho
Continua a música e o bom tempo no segundo dia da 16ª edição do Super Bock Super Rock, festival alojado no Meco que continua a prometer ‘sol e rock’n’roll’ aos que o frequentam. Neste segundo dia, actuaram alguns dos nomes mais esperados, como Vampire Weekend, Hot Chip ou mesmo Patrick Watson, numa edição que compensa alguns dos pontos negativos de organização com o bom cartaz.
Começamos novamente com os segundos vencedores do Super Bock Super Rock Preload, o concurso da marca para escolher as bandas portuguesas mais promissoras e levá-las ao palco do festival. Os Malcontent são do Porto e iniciaram o dia 17 com um concerto morno no palco EDP. Seguiram-se-lhes os Sweet Billy Pilgrim, músicos ingleses que misturavam sonoridades tão diferentes como o country e o rock com toques de progressivo de forma bizarra, porém, inócua. A banda de 4 membros tentou atrair as pessoas para a frente no palco secundário, no entanto, devido a uma das maiores falhas desta edição, não o conseguiram, pois o palco era destapado por trás e, logo, tocavam contra o sol que inundava a maior parte da zona da plateia, obrigando as pessoas a dispersarem pelas sombras.
Nome conhecido por terras lusas, Tiago Bettencourt, conjuntamente com Mantha, tocou o seu set num palco principal muito mais composto, como era de esperar. Este passou por algum dos temas mais conhecidos desta colaboração, que já conta com dois álbuns, como "Jardim", e até alguns temas dos Toranja, antiga banda do cantor, como "Laços". Um concerto simpático, com menos substância, que soube entreter os que esperavam pelo vocalista da banda nova-iorquina muito conhecida que se seguia.
Entretanto, Holly Miranda espantava com a força e timbre da sua voz do outro lado do recinto. Num concerto intimista e poderoso, a cantora, acompanhada pela sua contida banda, tocou alguns dos seus temas do recém-editado The Magician’s Private Library. Uma mistura de influências de Otis Redding e Nina Simone a Jeff Buckley e Radiohead que, apesar de eficaz, padeceu por ser um pouco repetitiva.
Seguiu-se a desilusão deste segundo dia, por diversas razões, algumas que escapam a nossa compreensão. Julian Casablancas, também vocalista dos nova-iorquinos The Strokes, encurtou a sua apresentação a solo em Portugal por uns bons 20 minutos, apresentando apenas uma mão cheia de temas de Phrazes for the Young e três dos esforços Strokeanos, como "Hard to Explain" e "Automatic Stop". Porém, os temas que realmente interpretou perderam a dinâmica ao vivo, talvez um pouco pela existência de problemas de som e pelo desempenho algo trapalhão de Casablancas. Não se ficou a perceber a razão da sua saída precipitada e os seus fãs ficaram a pedir mais.
Outro nome da cena alternativa portuguesa, Rita Redshoes, actuou por volta das 21:40 no palco EDP. Sem os seus sapatos vermelhos, a intérprete portuguesa ofereceu um concerto que pretendia, acima de tudo, entreter. Dançando ao longo da música, a cantora balançava o seu charme e graça natural com uma sensualidade crescente na apresentação dos novos temas de Lights & Darks, que se aproximam mais da estética de Paulo Furtado do que a de David Fonseca, o seu quase ‘mentor’ musical. A nova "Captain of My Soul" foi muito apreciada, no entanto, "Choose Love" e "Dream on Girl", temas de Golden Era, foram as mais aplaudidas do set de Rita Pereira.
A electrónica volta a marcar passo com os Hot Chip que, na opinião geral, foram uma das surpresas da noite. À primeira vista, ninguém diria que este conjunto de músicos produz pop electrónico que poderia perfeitamente ser tocado na pista de dança, no entanto, apesar da aparência séria dos artistas, estes parecem fazer bater o pé como ninguém. A banda americana apresentou no Meco vários temas do seu álbum One Life Stand e entusiasmou as hostes de tal maneira que estas se apresentavam excessivamente entusiastas, saltando, de braços no ar, aproveitando cada momento. "Over and Over", "I Feel Better" e "Ready For the Floor" foram alguns dos destaques de um concerto extremamente coeso e tecnicamente quase perfeito, que levou ao êxtase musical de muitos fãs e que até converteu quem não estaria muito impressionado, de início, com os artistas.
Os que preferiam algo mais calmo à quase histeria electrónica da banda supramencionada tinham a oportunidade de ver o intérprete canadiano Patrick Watson, na sua terceira estadia em terras lusas. Apesar de ter consideravelmente menos audiência do que Hot Chip, o artista, acompanhado pelos Wooden Arms, ofereceu um belo e único concerto aos que acompanhavam as estranhas melodias intercaladas com o moderado caos musical dos performers. De facto, é de destacar o talento e a versatilidade deste artista, que torna cada actuação numa experiência única e envolvente, deslizando pelos temas de Close to Paradise e Wooden Arms sem dificuldade e de pulmões cheios — "Fireweed" soou assombrosa e arrepiante com o fundo ardente das chamas do vídeo que passava por trás, já "Drifters" apresentou-se tocante e sentimental e "Man Like You" impressionou, enfatizada pela voz característica do artista. Watson, sempre bem-disposto, nunca deixou de agradecer aos seus fãs que o receberam sempre com tanto apreço e, em jeito de retribuição, tocou até "To Build a Home", tema que partilha com os The Cinematic Orchestra e que constitui um dos seus pedidos mais frequentes nas suas actuações.
Cabeças de cartaz algo improváveis, pode-se dizer que os Vampire Weekend excederam as expectativas gerais de uma plateia de quase 24 mil espectadores. A despreocupada banda nova-iorquina soube trazer o travo de pop afrobeat ao indie rock de marca Pitchfork, mais suavizado e maturo no seu segundo esforço, Contra, da melhor maneira, envolvendo os inúmeros espectadores com jovialidade. Os meninos bem do indie mostraram que são capazes de entusiasmar e entreter tanto com os diversos temas do primeiro lançamento homónimo, tanto com os temas do álbum que lhe seguiu. Os festivaleiros acabaram por se render a "Cape Cod Kwassa Kwassa", "A-Punk" e "Horchata", tal como a "Cousins" e a "Giving Up The Gun", esta última que conta com inúmeras celebridades no seu videoclip, como os Jonas Brothers e Jake Gyllenhaal. No entanto, o foco do set dos nova-iorquinos estava mesmo na plateia: Ezra Koenig, vocalista e líder dos artistas, demonstrou várias vezes o seu espanto pela recepção dos portugueses (“Não me quero ir embora!”), que se entretinham a mover os seus corpos aos ritmos e melodias alegres. É assim que se prova a eficácia dos Vampire Weekend, que renderam as hostes à aprimorada e simples estética musical dos artistas.
Por fim, o duo electrónico Leftfield encerrou este dia de festival, oferecendo aos resistentes um set coeso de temas dançáveis. Para os menos duros, o último dia de festival espera-os, com a actuação do lendário Prince.
Foto: Ana Limas