Reportagem SWR Barroselas Metalfest XIV
Na sua 14ª edição, o festival SWR Metalfest realizou-se novamente na pequena vila de Barroselas. A cada ano que passa, aquele que é considerado o melhor festival português dedicado ao som mais pesado, supreende sempre pela positiva todos os que por lá passam durante os três dias, seja pela melhoria de condições, som, luzes e, sobretudo, o cartaz alinhado. Cartaz esse que, nesta 14ª edição, muito provalmente, terá atingido o topo em termos de nomes conhecidos.
No primeiro dia, a nível nacional, os We Are The Damned tomaram o segundo palco com uma raiva impiedosa, apresentando temas do seu último álbum “Holy Beast” e brindando ainda os presentes com uma cover de “Into The Crypt of Rays” dos Celtic Frost, com participação especial de Noturnus Horrendus dos Corpus Christii. Ainda no campo nacional, de referir umas horas antes, a prestação dos “Três Joões”, AKA os Alchemist, com o seu Black Metal muito rock n’ rollesco. Mas já falaremos destes três rapazes mais À frente. No palco principal, os Voivod, pela primeira vez em Portugal, deram um concerto brilhante, com o seu metal espacial/progressivo muito característico, onde não faltaram clássicos como “Ripping Headaches”, “Voivod”, “Tornado”, “Tribal Convictions” e como sempre, “Astronomy Domine”, cover dos Pink Floyd, dedicada ao falecido guitarrista Piggy D’Amour.
Na primeira fila, ao meu lado, João Gordo dos Ratos de Porão, não tirava os olhos do palco durante a actuação de Voivod, sabendo que logo a seguir, seria ele que estaria nesse mesmo palco com os seus “Ratos”. Igualmente, estes viriam a dar um excelente concerto, com o seu crossover energético carregado de pérolas.Não faltaram temas como “Crucificados pelo sistema”,”Sofrer”,”Morrer”, “Beber até morrer”, “Crise Geral”, “Work for Never” dos Extreme Noise Terror, dedicada a Phil Vane,”Mad Society”,”Máquina Militar”, “Aids, Pop, Repressão” entre muitos outros. Era evidente algum cansaço em João Gordo, mas Jão, Juninho e Boka ajudavam a manter a energia em cima.
Segundo dia:
Ao segundo dia, a chuva veio trazer algum incómodo aos presentes, mas zero de desmotivação, sendo talvez o dia em que se registou maior número de público. Os veteranos Dead Meat, no palco secundário, estrearam o dia em termos de brutalidade com o seu Death Metal, que mesmo desprovido de baixo, continua a não perder um grama de peso. No campo de futebol, localizado ao lado da tenda principal, enquanto decorria uma partida, os Jesus Cröst, como fãs devotos do desporto, montaram o seu material na parte de cima das bancadas e executaram um pequeno mas furioso showcase do seu som grindcore/powerviolence, deixando praticamente toda a gente que se juntava à volta de boca aberta, ora pelo som ou simplesmente pela humildade e atitude dos checos. Já no palco principal, os nossos Raw Decimating Brutal mostravam o seu grindcore que, apesar da veia lírica, meio humorística e descomprometida, nada deve em termos musicais.
Devido a alguns cancelamentos, nomeadamente Purgatory e Sourvein (estes já a segunda vez que teriam cancelado a sua vinda ao festival!), algumas alterações tiveram de ser consideradas em termos de horários e de bandas. Já ao anoitecer, os Jesus Cröst tomavam o segundo palco. Mudou apenas o espaço onde tocavam, porque a atitude e humildade dos dois membros de JC permanecia, assim como a raiva e agressividade do seu som, um grind/powerviolence a cem à hora, que não deixava ninguem indiferente.
No palco principal, os Malevolent Creation continuavam a representação de death metal no festival mas, apesar de tocado competentemente e com garra, o som dos americados tende a ser algo sem sal. Dando uma espreitadela na tenda alternativa, os Sektor 304, surpreendem com o seu som industrial, com base em bandas como Godflesh (sobretudo a nível vocal) mas com trejeitos e experimentalismos à la "Einsturzende Neubauten", em termos de percussão e uso de instrumentos extra, no seu som. À meia noite em ponto, os pais do black metal viriam a ocupar o palco principal, e aqui o festival registaria a maior enchente de pessoas na tenda, atingindo o topo referido no início da review.
Trazer uma banda como Venom a este festival terá sido considerado um marco para toda a organização do festival. Em conversa, mais tarde, com Ricardo Veiga, o próprio viria a confirmar este facto. Os ingleses abriram o seu set com o clássico “Black Metal”, deixando todos os presentes rendidos, e assim continuaram. O som, no geral, não estaria perfeito, sobretudo a nível da guitarra, criando alguma desilusão para alguns mas, para outros, sendo a primeira vez que a banda pisava solo português, isso simplesmente não interessava. Fã devoto, por vezes, é assim.
Para finalizar a noite, no palco secundário, os Magrudergrind deram um concerto demolidor, obtendo uma das melhores reacções de todo o festival por parte do público. Um baterista extremamente rápido, um guitarrista a debitar riffs dilacerantes e um vocalista completamente endiabrado a praticar um grindcore furioso, com algumas passagens pela sua fase mais powerviolence dos álbuns anteriores, deixaram o público completamente louco, terminando assim o segundo dia do festival. Claro que a festa prosseguia, lá fora...
Terceiro dia:
No último dia e após o combo nacional de bandas como Cryptor Morbius Family, Wako,Seven Stitches e Ava Inferi, chegava a hora da actuação dos Soilent Green, uma das bandas mais aguardadas. Ben Falgoust e os seus comparsas, oriundos de Nova Orleães, viriam a deixar toda a gente surpreendida com o seu grindcore alternado com passagens arrastadas, provando que apesar de rápidos, também eles sabem fazer sludge bem feito, ou não seria o seu guitarrista, Brian Patton, um dos membros de Eyehategod. Ben revelou-se um vocalista excepcional e um autêntico animal de palco, sempre a puxar pelo público. Talvez fossem indiferentes para alguns, mas para grande maioria, os Soilent Green representaram um autêntico banho musical, tal era o talento do colectivo americano.
Mantendo a qualidade musical, seguiu-se outra grande banda aguardada por muitos, os Today is the Day, que acompanhavam os Soilent Green em tour. Basicamente, uma banda que não estaria deslocada no segundo palco, mas que no principal protagonizou uma das melhores prestações de todo o festival. O grande Steve Austin, bem mais energético e simpático, auxiliado pela secção ritmica dos Wet Nurse, arrasou com o seu noisecore metalizado e distinto. Logo a abrir, quatro temas desse clássico que é “In the Eyes of God”, passando por temas de Axis of Eden, um tema novo do álbum a sair em Julho e “Temple of the Morning Star” do álbum homónimo, com participação especial nas vozes de Ricardo “Long John Silva” Loureiro. Encostados às grades, concentravam-se os poucos mas bons fãs incondicionais da banda, completamente rendidos a uma prestação excelente, superando a actuação de há dois anos, aquando da primeira passagem da banda por Portugal.
Logo a seguir, no palco secundário, o death/grind dos Grog, foi bem-vindo, como sempre, sendo a banda já bem conhecida nos palcos, tanto dos do festival como de outros. Já a noite ia longa e após a prestação dos Alcest, os techies Atheist tomaram o palco para surpreenderem (ou talvez não!) todos com a sua destreza musical. Apesar de o som, sobretudo das guitarras, continuar um pouco alto, ao longo do set foi melhorando. Kelly Schafer lá puxava pelo público, enquanto o resto da banda debitava temas do seu último álbum, “Jupiter”, assim como clássicos antigos. Que os Atheist iam presentear todos com uma elevada técnica e qualidade musical, isso já toda a gente esperava. No final, foi anunciada a banda vencedora do Metal Battle, que irá participar na edição deste ano do festival Wacken. Parabéns aos Seven Stiches!
Após o brutal death metal dos Wormed e do Black Metal dos Satanic Warmaster, os já referidos “Três Joões” finalizaram a noite em festa. Apesar de não terem vencido o Metal Battle, João Galrito, João Seixas e João Duarte, foram definitivamente os vencedores deste festival, actuando nos três dias, em três versões distintas. Representaram com Alchemist o black n’ roll já mencionado, no primeiro dia, preencheram o cancelamento dos Purgatory, com Pestilência, mostrando o lado mais avant garde do black metal, no segundo dia e fecharam no último dia do festival com Göatfukk, desta vez, um black metal ainda mais apunkalhado e carregado de D-beat. Auxiliados por ...um quarto João(!!!), João Vasconcelos, os rapazes colmataram com um som verdadeiramente contagiante, que deixou o público, dentro e fora do palco, complemente extasiado. Invasão de palco, na última banda do festival, como manda a “tradição” e muita “festarola”, segundo Pedro Grave.
Terminados os concertos, a festa prosseguia fora do recinto com o desenrolar da noite e ainda com direito a fogo de artifício.
Mais um ano bem sucedido para os Irmãos Veiga e a sua equipa.
Estão de parabéns e cá os esperamos para o ano. Já se ouvem rumores de cinco dias de festival...
Texto: Tiago Luís
"Quem ficou por "cá", agradece à organização, por ter permitido a visualização dos concertos do festival online."