Reportagem SWR Barroselas Metalfest XX
A celebrar uma data redonda de 20 anos o Barroselas Metalfest fez mais uma vez mover os melómanos mais corajosos a pacata vila. Com um cartaz entusiasmante, grandes bandas internacionais, novos nomes e vertentes musicais mais arrojadas. Não falta ambição e persistência a organização. Com o primeiro dia a arrancar de uma forma menos boa devido a alguns problemas de som. No entanto vindo a melhorar com o passar dos dias.
Ao entrarmos no recinto, os nacionais Besta já estariam a destruir a Loud! Dungeon. Com um set energético, vocalista comunicativo e grande descarga de grind, para começar as hostilidades foi uma maneira acolhedora de volta a famosa tenda. A brotar das cinzas de Agalloch, os Pillorian de John Haughm afirmaram-se como uma das surpresas do primeiro dia. Com a expectativa bem alta, este projecto “sucessor” conseguiu provar que não é apenas um clone e rearranjo de ideias antigas. Dando um concerto muito coeso embora tenra idade seja a do projecto.
E mais tarde no palco principal o prometido é devido. Depois de terem cancelado o ano passado, os Aborted finalmente regressaram. E com eles trouxeram uma das actuações mais vigorosas e com grande participação do público. Um frenesim e pit de proporções astronômicas. Focando-se no seu repertório mais recente. Já os The Ruins of Beverast embora tenham criado uma atmosfera intimista, com o seu black/doom ritualista. Nao conseguiram evitar o som embrulhado e pouco definido. Definitivamente a banda que mais sofreu em termos de som.
O regresso dos Inquisition ficou marcado com um concerto soberbo. Intenso e ritualista na sua natureza o duo fez de nós reféns durante toda a actuação. Riffs cósmicos, ritmos interestelares a ecoar das peles da bateria formaram uma devastação sonora. Dagon, a provar mais uma vez que é um guitarrista soberbo, ao focar a sua atenção para os pormenores minimalistas e dinâmicos de uma sonoridade já muito própria. Enquanto o Incubus, animal rítmico que é, fortalecia todo o conceito por detrás, reforçando o esqueleto desta máquina.
Master, ofereceram uma descarga monstruosa de death metal a antiga que há muito não assombrava o Barroselas. Enquanto os The Omnius Circle incendiaram o palco Arena fora do recinto para fechar o dia, com uma intensidade de louvar. E grande ambiente ritualista.
Dia 2
Os italianos Fides Inversa rasgaram todas as expectativas, ao apresentarem-se como grande revelação. Com novo EP na bagagem, Rite of Inverse Incarnation, com influências de os já consagrados Deathspell Omega. Induziram todos os presentes num estado de transe. E os Cobalt trouxeram consigo as manadas de búfalos, cheiro a cabedal americano e gin, para nos abalar. Donos de uma individualidade muito pouco vista neste espectro musical. Foram um dos pontos altos do dia. O Charlie Fell com a sua voz rasgada e angustiante é acompanhado pelo multi instrumentista Eric Wunder na bateria. Riffs bombásticos atrás de riffs. Muito contraste e paletes de cores. É raro ver um projecto destes a renascer e dar frutos melhores do que em álbum.
No entanto o segundo dia do festival aguardava para nós uma surpresa especial. Um concerto dos saudosos Goldenpyre. Banda que conta com os membros da organização, os criadores do festival, irmãos Veiga. Foi uma chapa de death metal a bruta, com muito gosto e orgulho. E uma boa preparação para a devastação bélica que seriam os Dead Congregation.
Darvaza sempre ritualistas, sem papas na língua afogaram todos os presentes no seu ambiente, de black metal rasgado, descendo até o abismo, com riffs sónicos que nos transportavam para os primórdios da terra. Tal era a intensidade. Já os Venom.Inc de facto fizeram muitos relembrar as suas raízes, e trouxeram consigo um misto de nostalgia. Tocando os grandes temas do álbum muito adorado “Black Metal.” Do outro lado do espectro os finlandeses Oranssi Pazuzu, outro nome há muito aguardado pelo território nacional, arrasou com a ideia pré-concebida do que deve ser a música extrema. Actuando no domínio de desconstrução da estrutura musical básica e comum. Focam-se num tremendo arrasto e destruição maciça da toda a fundação possível, criando novas linguagens sonoras. Com um peso tremendo, mas sempre presentes os contrastes tão necessários para acentuar o equilíbrio. No entanto, gostam de se perder entre os riffs e os drones que produzem entrando numa espiral sem fim. Nota negativa para a camada do público que não conseguiu apreciar esta abordagem.
Extreme Noise Terror acabaram as hostilidades do palco principal com a sua abordagem mítica ao crust/grind. Com um concerto bastante energético, sem papas na língua. Com um Dean Jones bastante comunicativo embora visivelmente cansado. Foi uma festa a altura que acabou entretanto lá fora com os nacionais Systematic Violence e Alcoholocaust a mostrar o que valem. Bela maneira de acabar um dia cheio de atuações marcantes.
Dia 3
Para iniciar o último dia nada melhor do que Nader Sadek montaram uma completa encenação no palco, ajudando a contrastar com o ambiente catastrófico que criam através da sua música. Densidade e um sentimento de sufoco. Claustrofóbicos no entanto contidos pela densidade. Já os Corpus Christii liderados pelo carismático N.H, deram uma das grandes actuações do dia. Muito honestos na sua abordagem ao black metal. Apresentando o novo trabalho intitulado “Delusion”. Foram uma devastação monumental e capitalizaram com a agressividade e crueza do seu vocalista.
Akercocke foram os reis da noite, regressando também aos palcos nacionais depois das passagens memoráveis pelo festival. Deram cem por cento desde o primeiro acorde, tocando os clássicos que marcaram uma geração. A Skin For Dancing In assombrosa, entre tantas outras músicas que meteu o público a flor da pele. Definitivamente mostraram que mesmo depois de terem parado as actividades durante alguns anos, mantiveram a qualidade e a chama de antigamente. Seguiam-se os The Arson Project. Foi de facto uma boa aposta para a descarga de energia restante, antes dos headliners da noite. Foi uma rutura de grind, de início ao fim.
E eis que tinha chegado um dos pontos mais aguardados do festival, os noruegueses Mayhem com uma celebração também muito própria. Volvidos 23 anos, tinham lançado o que viria a ser um dos álbuns mais emblemáticos e marcantes da década dos anos noventa. E que continua a ecoar pelos vários palcos no mundo, com uma forte influência. Tocando o De Mysteriis Dom Sathanas na íntegra, apostaram em criar um clima e atmosfera densa, de uma neblina fria que apoderou-se da localidade. Foi quase uma hora de clássicos e de tremendo profissionalismo. O Attila, sempre mestre como frontman, a elevar a intensidade do grupo para fora do normal. Foi a estreia mais esperada desde a criação do festival como o conhecemos hoje.
Ironia das ironias, ter uma banda de thrash que canta sobre o seu desgosto para com o black metal, logo a seguir a um concerto desse mesmo gênero musical é no mínimo interessante. Os Lich King porém atacaram a plateia com uma atuação sólida de crossover, muito stage-dive e energia até o teto. A verdadeira surpresa foram os Steel Harmonics, a banda filarmónica de Barroselas. A tomar de assalto o palco principal com as suas rendições dos clássicos de heavy metal. Desde Judas Priest, e Black Sabbath, passando por Slayer, Angel Witch e culminando num encore com a famosa Fear of the Dark, que deixou o público a cantar em uníssono, até o fechar das cortinas.
Os TEST com a sua terceira aparição surpresa a acabar o festival numa nota de altíssima qualidade e ambiente. Mesmo a entrada do recinto, um palco improvisado, só com uma bateria e guitarra o duo faz um crescendo de sons, que contrastam um com o outro. Fazendo investidas de grind agressivas mas com feeling e grande profissionalismo. Findado o assalto a The Fire March aconteceu, uma caminhada ritualística que celebra e faz juz ao nome “Guerreiros de Aço”, que representa toda a comunidade que apoiou o festival durante estes anos. Fez acender uma fogueira que certamente vai arder até a próxima edição, servindo de farol para todos aqueles que querem se deslocar até o Barroselas. E os Vai-te Foder, quase banda da casa, deu ao frio uma boa injeção de energia. Com um novo álbum Poço para ser apresentado. Foram devastadores como sempre. Com um público a altura. Culminou numa festa entre os todos aqueles que ainda estavam presentes. Sem dúvida grande maneira de acabar esta enorme celebração de 3 dias.
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Organização:SWR Inc.
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segunda-feira, 22 maio 2017