Reportagem Santa Maria Blues 2014
Foi há 11 anos atrás que tudo começou. Na antiga fábrica de conservas de atum na baía mais amarela de Santa Maria era onde se desenrolava o que, a início tinha um formato mais pequeno e mesmo como uma espécie de caffé onde se ouvia o ecoar das guitarras ao estar sentado numa cadeira saboreando um bom vinho e onde mesmo ao lado se petiscava e jantava comida tradicional da ilha.
As faixas etárias iam desde os mais novos até aos adultos que sempre tiveram um enquadramento de verdadeiros amantes de Blues.
Felizmente, ainda hoje o público varia desta forma e cada vez mais vêm nomeadamente da Europa pessoas que são verdadeiros apreciadores deste género e que marcam presença todos os anos, trazendo ao recinto um festival de culturas, também.
É assim que vai crescendo o festival. Hoje em dia o recinto já é outro, mantendo a mesma energia e contando também, este ano pela primeira vez, com uma espaço totalmente renovado, a cerca de 20 metros do Oceano Atlântico e onde o palco virado para os rochedos da encosta da baía dos Anjos faz com que o ecoar das vozes, as guitarradas do Texas ou a harmónica soem incrivelmente bem. Os petiscos e jantares tradicionais estão ainda presentes.
Organizado pela Associação Escravos da Cadeinha e produzido por Trovas Soltas, este ano, e pela segunda vez consecutiva passou por 3 dias e duas bandas por noite. Este ano, um dj por noite animou o público que bateu pé até ao sol nascer.
Quinta feira, 17 julho:
Este foi o dia dedicado às bandas nacionais. Pisando o palco pela segunda vez em todas as edições, os Rocklassicz, banda originária da ilha com membros de várias experiências e projetos musicais ao longo das suas carreiras, trouxeram-nos um reportório de vários covers, como é habitual no trabalho do grupo, mas desta vez enquadrando mais o Blues Rock que se pôde ouvir acompanhado por dois convidados musicais no teclado (Joaquim Silva) e na harmónica (Roberto Moura). Para uma quinta feira, onde há sempre receio quanto à lotação do recinto, tendo em conta que é o segundo ano em que o festival toma o formato de bandas a tocar neste dia da semana, o recinto quase que se completou e muito bem, e o público já habituado aos bons trabalhos musicais dos Rocklassicz, não ficou indiferente à energia positiva da banda que abriu as portas da capital do Blues em Portugal da melhor forma possível.
Seguiu-se para a segunda banda da noite. De Lisboa, são eles os The Ramblers e já tocaram para abrir o concerto do grande mestre BB King, aquando da sua presença em Portugal, bem como numa larga diversidade de concertos em vários formatos e pelo país inteiro.
Mostraram-se felizes por tocar em Santa Maria, admitindo que estavam ansiosos e já tinham ouvido falar muito sobre o festival. O Blues baseado em várias influências musicais, manteve um público razoável até ao final da noite, e a banda saiu feliz agradecendo à organização o convite que o “festival continue e continue a crescer” foram as palavras mais marcantes que refletiram o contentamento dos portugueses a encerrar a primeira noite e as atuações de bandas nesta 11ª edição do Santa Maria Blues.
Sexta feira, 18 de julho:
Oriundos de South-Holland, na Holanda, os Sugarboy and the Sinners, influenciados por grandes nomes como Jimmie Vaughan ou The Paladins abriram a segunda noite com um eletrizante espetáculo de Blues definido pelas linhas do contrabaixo e um Blues bem “groovy” e poderoso. Boy Vielvoij na voz e harmónica ou Frankie Duindam na bateria são dois exemplos da qualidade musical que levou estes músicos a serem nomeados a prémios como melhor harmónica e melhor bateria, respetivamente.
A apresentar o seu mais recente EP ”All you can eat!”, a energia destes europeus, que sabem bem como sentir o Blues, contagiou uma casa bem cheia já.
A fechar a noite e ainda na Europa mas desta vez mais a Sul, o francês Rod Barthet.
Também de influências Pop e Rock, este artista fechou a noite num Blues que foi de certa forma “evoluindo” na sua intensidade ao longo da performance, misturando alguns covers com temas próprios e não muito habituais aos ouvintes de Blues, que nesta noite de sexta feira ouviram as adaptações de Rod Barthet do Blues cantado em francês.
Foi um espetáculo diferente mas que ganhou intensidade de forma proporcional à confiança dos artistas em palco, contemplando sorrisos e um público que se acabou por mostrar bastante satisfeito no final desta segunda noite de Blues.
Sábado, 19 de julho:
Como não podia faltar, claro, esta foi a noite das vozes da terra onde tudo começou – o Blues, claro, e os Estados Unidos.
Mz Dee, oriunda de Oakland, EUA – tem na sua voz as raízes do Soul e R&B que trazem o poder do Blues americano e das letras cantadas pela cantora acopladas ao impressionante guitarrista italiano Maurizio Pugno que nos trouxe a sua large band com instrumentos de sopro e teclado que no momento dos solos maravilhavam qualquer um. É bastante comum vocalistas americanas com bandas europeias que cada vez mais têm mostrado uma qualidade fenomenal a par das grandes bandas e tocadores do sul americano do país no geral onde o Blues começou e onde ainda grandes nomes perduram pelos palcos nacionais em estridentes guitarras ou outros instrumentos.
A fechar a grande e última noite onde o calor e a humidade permaneceram, Vasti Jackson. Um guitarrista de renome internacional trouxe ao recinto, juntamente com a sua poderosa banda composta pela linha habitual do Blues (baixo, bateria e teclado) um magnífico poder de execução na guitarra, maravilhando todos também pela sua voz contagiante.
Vasti trouxe covers como Hey Joe e conseguiu dar ao público uma experiência incrível, seja quando saiu do palco e tocou e maravilhou desde crianças aos mais graúdos ou quando chamou ao palco Mz Dee para um fantástico dueto repleto de sensualidade, calor e ritmos estridentes da guitarra e das poderosas vozes norte americanas.
Para alguns, foi “como ver Jimmy Hendrix reencarnado”. Ouvia-se pelo público: “Isto foi das atuações mais fantásticas que vi em toda a minha vida.”
E foi com certeza a melhor forma de fechar esta edição do Santa Maria Blues que continuou com dj pela noite fora como foi referido.
Portanto, já está no calendário para o próximo ano. Normalmente no segundo ou terceiro fim de semana de julho o ponto de encontro é em Santa Maria e as expetativas têm vindo a aumentar todos os anos, bem como o conjunto de fãs característicos de um estilo musical que, no fundo, deu origem a muita música que ouvimos hoje em dia.
Desde sempre e com certeza que por muitos mais anos, Santa Maria nesta altura do ano é a capital do Blues Portuguesa.
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sábado, 20 dezembro 2014