Reportagem Santa Maria Blues 2017
Daqui a um ano celebra-se 15 anos de Blues na ilha de Santa Maria! Mas não é de 2018 que vamos falar. Antes disso coube à organização do Santa Maria Blues, os Escravos da Cadeinha e à produtora Trovas Soltas manter com vida e energia a marca registada deste festival como “Capital do Blues em Portugal” no ano que antecede ao grande aniversário deste evento no meio do Atlântico.
Manter a qualidade num género que bebe de muitas influências do mundo do Blues, trazendo do mais puro Blues das suas raízes norte americanas, ao melhor Blues da Europa e do país está dentro dos objetivos deste festival que traz cada vez mais fãs oriundos até de outros países europeus.
Localizado na baía dos Anjos, na ilha de Santa Maria, Açores, a primeira noite da 14ª edição do Santa Maria Blues contou com duas presenças nacionais, nas quais a primeira e por aposta regional da organização veio da ilha vizinha de São Miguel. Liderada por João Alves, vocalista, os Triki & Franco Blues Band surgiram de dois amigos que se juntaram em 2015 para um tributo ao Blues. Do Barreiro, “a barco de remos” [brincava o vocalista] veio o baterista para a ocasião do concerto, mas não foi por isso que a química de todos estes músicos não resultou. Com um toque de funk pelo meio, os rapazes açorianos mostraram que o Blues está vivo!
Também portugueses, e representantes de Portugal na última edição do European Blues Challenge, na Dinamarca, os Messias & The Hot Tones encerraram a primeira noite do festival mostrando a merecida representação que fizeram na última edição do concurso de Blues europeu e mostrando uma fusão entre o clássico Blues tradicional com um toque mais “contemporâneo” e pessoal desta banda lisboeta. Nem numa quinta feira de algum frio o público deixou de comparecer no recinto dos Anjos.
Sexta feira e com espírito de fim de semana a chegar, ao início do primeiro concerto percebeu-se o porquê da hotelaria estar praticamente esgotada na ilha, o recinto ficou composto para receber mais uma representação do Blues Europeu: Detonics. Os vencedores do Dutch Blues Challenge 2016 e com uma brilhante conquista até às semi finais do International Blues Challenge em Memphis, EUA, os holandeses prometeram festa e fizeram-na, com ritmos energéticos e ritmados bem ao estilo de um Blues mais dançante e com um toque daquilo que pareceu ser mesmo um cheirinho de Rock N Roll dos anos 50.
A fechar a segunda noite do festival, e com uma poderosa presença em palco: Markey Blue. A vocalista norte americana trouxe o Blues mais puro e de raízes bem fortes do sul da América do Norte. Acompanhada por Ric Latina, um guitarrista que mostrou o porquê de ter tido um percurso tão rico na sua história musical pelos Estados Unidos, tendo mesmo vindo a trabalhar com grandes nomes da música como Neil Young. Poderosos solos que não fizeram com que o público sedento de Blues ficasse indiferente e dançasse até, inclusive, ao momento que os holandeses Detonics juntaram-se aos americanos em palco num momento de jam session singular.
De Espanha e na última noite do festival chega-nos uma das grandes surpresas desta edição. A expectativas eram altas, consoante aquilo que a organização do festival transmitia ao público ao anunciar esta edição do festival: “uma espécie de big band em palco que promete festa!”. Foi isso mesmo que Mr Groovy & The Blue Heads fizeram. Formados em 2005, oriundos de vários locais e projetos, transformaram o recinto do Blues numa autêntica festa. O conjunto de sopros deu um toque especial à banda que nos trouxe um Blues mais festivo e influenciado por vários géneros musicais. O guitarrista Philip Pearson deu o mote de descanso ao vocalista espanhol em alguns momentos e trouxe-nos alguns temas cantados pelo próprio. Baseados nos Rythm & Blues, a festa foi garantida. Ainda houve tempo para cantar os parabéns ao membro mais novo da banda no seu primeiro concerto com o grupo, muitos solos do equilibrado conjunto de sopros que até no meio do público tocaram – transformando o espectáculo num concerto que sem o público do Santa Maria Blues não teria a mesma dinâmica.
Largos elogios vão sendo lançados do palco da última presença do Santa Maria Blues 2017 com Samantha Fish. A jovem guitarrista norte americana traz ao festival um Blues Rock poderoso e uma voz característica. Diria que com uma energia que fala por si, sendo o Blues Rock poderoso pelas características musicais que nos traz, acima de tudo esta jovem com 28 anos trouxe as expectativas de vir a ser um dos grandes nomes femininos do Blues internacional. De grande destaque e sendo aquilo que parece ser uma aposta da organização relembro 2015 com Joanne Shaw Taylor (Reino Unido), com a prova de que o Blues não é só dos “cowboys americanos”. Além da forte presença europeia neste género musical, a poderosa energia que as mulheres têm trazido ao Blues é algo de que a Associação Escravos da Cadeinha faz questão de remarcar.
Nas 3 noites do festival houve ainda lugar para dj sets que trouxeram mais Blues e outros ritmos, com o principal objetivo de marcar o pé de dança até o sol nascer: Dj WiseGuy na quinta feira, Dj Hélder F na sexta-feira e os Blues Bastards Dj’s no sábado.
A Associação Escravos da Cadeinha vai receber a edição de 2019 do European Blues Challenge, a 4, 5 e 6 de Abril de 2019 em Ponta Delgada, São Miguel. Algo que trará muitas oportunidades à organização do Santa Maria Blues e transformará os Açores num polo de contactos, oportunidades e grandes artistas europeus do Blues. Mas ainda antes deste evento há que pôr os olhos nas datas do próximo festival, em 2018, marcando com certeza uma comemoração única dos 15 anos do maior festival de Blues em Portugal.
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terça-feira, 25 julho 2017