Reportagem SonicBlast Moledo 2016
Numa altura em que os fogos se propagavam e estavam mais ativos, o SonicBlast regressava para mais uma edição recheada de boa música e disposição. Com um cartaz forte dentro do nicho de Stoner e afins psicadélicos, rivalizando com outros grandes festivais, trouxe algumas novidades e viu bandas queridas ao público regressar ao nosso pacato cantinho, em Moledo.
Ao nos instalarmos no campismo que fica mesmo a beira da praia, somos desde logo familiarizados com o ambiente, partimos então para o warm up, no Ruivo’s Bar, que durou até as tantas da noite, onde passaram bandas como Ana Paris, Milhomes, Big Red Panda e The Black Wizards a antever a sua atuação no último dia do festival.
Dia 1 | 12 de Agosto
Com o calor a apertar, o primeiro dia prometia ser para além de quente, um ponto de partida efusivo. Que se iniciou com Maize, uma boa jam que deu início aos concertos na já muito querida piscina.
Asimov, duo lisboeta, mostrou nos como é que se faz um bom rock’n’roll, sem grandes tretas, com muita energia e psicadelismo, foram recebidos com grandes aplausos pelo público. Pujança e muito fuzz, riffs pesadões e ao mesmo tempo grande entrega, não se pode pedir mais nada dos Asimov que foram viscerais.
Procediam então os Algarvios Correia, projeto do líder dos extintos Men Eater, Mike Correia. Com uma panóplia de influências em cima, foi uma boa surpresa. Baseando a atuação no álbum de estreia “Act One”, teve os seus momentos com canções como “Deliver Us”, refrões orelhudos e boa entrega apesar de terem visto muita gente a ir embora para jantar. Assim se fechavam os concertos na piscina.
Já no palco principal os Acid Mess das Astúrias, foram demolidores na sua atuação, com verdadeiro feeling a anos 70. Ainda relativamente recentes, estes jovens formam um núcleo bastante coeso no que toca grandes guitarradas. Seguiam-se os já bem conhecidos, nacionais Miss Lava que proporcionaram um bom concerto, com grandes malhas “I’m the Asteroid” e “Planet Darkness” a remeter para sítios longínquos e de um peso tremendo. Não deixaram a plateia em paz, que retribuiu o favor e mostrou-se completamente fervorosa por mais.
Subiam ao palco Sacri Monti, banda estadunidense de San Diego, com o seu psicadelismo que roça algum krautrock. Com muito reverb e energia que não escasseava o grupo fundiu-se num todo, com teclados, guitarras rasgadas e voz que ecoava cheia de ressonância pelo recinto fora.
All Them Witches em estreia absoluta em Portugal deram um dos concertos do dia, com grande profissionalismo e disposição. Hipnotizantes e crus, conseguiram criar uma atmosfera que pôs todo o público em transe e sintonia. Ao abrir com a “When God Comes Back”, as suas raízes blues sobressaiam, dando mais aura ao seu som bastante único. Mas um dos momentos mais cativantes da sua atuação foi sem dúvida a “El Centro”, uma malha gigante que retém o ouvinte e oscila com todos os sentidos por dentro.
Valient Thorr de regresso ao norte, com um novo álbum na bagagem, “Old Salt” mostraram o porque de serem uma das bandas mais energéticas nos palcos, com um frontman como o “Valient Himself”, era de esperar uma festa rija e sem fim. A abrir com a “Sleeper Awakens”, desde logo meteram a plateia a mexer, como se fossem o seu exército. Sem grandes paragens, sempre com o pé no acelerador, despejaram clássicos como “Mask Of Sanity” e “Double Crossed”. Com Valient sempre bem-disposto e pronto para dar dicas de atitude mental positiva e contar lendas sobre o rock’n’roll.
Claramente uma banda com muita estrada em cima, só não ficou a ganhar mais pelo som algo embrulhado, mas não deixou de dar um dos concertos mais energéticos do dia.
Dia 2 | 13 de Agosto
Com as cinzas a assentar nas tendas, também o calor abrasador assentou e deu tempo para respirar o ar fresco vindo do mar.
De volta a piscina, desta vez com menos calor em cima, vimos os Vianenses Vircator, a despejar o seu peso todo em cima dos presentes. Com laivos experimentais na sua abordagem, pintam paisagens desde ao post-rock mais espaçado até ao progressivo. Tudo isto sem soarem nem uma cópia exata de um ou de outro. Enquanto os Spelljammer, vindos de Estocolmo procediam em nos dar uma tareia sonora com o seu som cru que estremeceu tudo a sua volta. Baseado o reportório no Ancient Of Days, foi um despejar de camadas de riffs densos que nos ficaram na cabeça dias a fio.
A abrir as hostes no palco principal foram os The Black Wizards, bastante acarinhados pelo público, focaram a sua bombástica atuação no primeiro álbum “Lake Of Fire” e demonstraram grande maturidade em cima do palco, com um grande à vontade e versatilidade tanto vocal como instrumental.
E logo a seguir vieram os Killimanjaro, de Barcelos, uma dose dupla de rock á maneira antiga, tocada por gente jovem. Ainda como pano de fundo o “Hook” álbum de estreia do grupo, chegaram e partiram como sempre a loiça toda, sem maneirismos, apenas muito suor e grande dose de energia.
Depois de estarem no Reverence o ano passado, Stoned Jesus voltaram para mais um serão por Portugal, que já tanto gostam. Ficando admirados com o calor que recebem sempre do público português. A sua prestação, no entanto, não deixou de ter problemas novamente, que embora não tenha causado um mal maior, foi uma distração e quebra no ritmo. Porém, improvisando e brincando com o momento os ucranianos deixaram o público investido na mesma. Apoiando-se no mais famoso trabalho “Seven Thunders Roar”, os fãs deliciaram-se com a “I’m the Mountain” e “Bright like the Morning” que são dois colossos sonoros com grande dinâmica. Para acabar bem nada como a malha mais energética do trio, “Here Come the Robots” que pôs um ponto final no concerto.
Também repetentes os Uncle Acid & the Deadbeats vieram demonstrar novamente a sua abordagem única ao doom metal mais tradicional. Sempre pesados e com distorção no máximo dos máximos, misturam imagética retro com um feeling antigo, no entanto sem soar datados, detém de uma aura muito própria. Tendo já lançado quatro excelentes longa duração, apostam sempre bastante no “Blood Lust” ao vivotalvez pela “culpa” desse álbum ser aquele que os lançou para o público. A famosa “I’ll Cut You Down” ecoava e toda a plateia parecida vibrar, quer ao som da batida, ou ao som das guitarras sombrias mas cheias de distorção. E a “Over and Over Again” induzia tudo a volta num transe do qual não se queria sair.
Truckfighters foi outro ponto alto deste segundo e último dia, foi uma lufada de ar fresco. Com o seu stoner rock cheio de fuzz e uma boa dose de agressividade. Foram uma autêntica locomotiva a despejar malhas atras de malhas. Hinos como a “Desert Cruiser” que deixou todos os presentes num estado de frenesim e loucura. Este trio Sueco não parava de dar um baile, chegando a fazer um estrondoso encore tal era contagiante a energia de Dango, o guitarrista que não parou nenhum segundo durante quase uma hora e pouco da atuação estrondosa. Munido da sua guitarra desfez todas as regras de como tocar convencionalmente e proporcionou uma lição de feeling ao tocar acorde atras de acorde, a sua bela maneira. O público pedia por mais.
Os Salem’s Pot encerraram de forma perfeita esta edição com um espetáculo digno de se chamar de tal. Vestidos a rigor, com mascaras vitorianas deram um dos concertos com mais dinâmica, alternando sempre o ritmo entre o lento e lamacento para um “culto” aos primórdios dos Black Sabbath com riffs desenfreados e cheios de sensibilidade blues. Não deixando o peso do doom para trás conseguem conciliar num só várias camadas de gêneros e de uma forma muito fluida. Auxiliados por visuais únicos tanto na tela como na roupagem, deixaram a plateia com uma ebulição sonora que ainda ressoa nos nossos ouvidos.
De facto SonicBlast é um festival que demonstra clara vontade crescer a cada edição. É por isso que é um grande candidato a uma visita dos festivaleiros mais acérrimos, daqueles que se importam com a música em primeiro lugar. Espera-se algumas melhorias para a próxima edição há que referir. Mas os mais importantes que são as bandas, essas sim não temos dúvidas que virão e serão das boas.
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sexta-feira, 22 novembro 2024