Reportagem Sudoeste TMN 2010
Festival Sudoeste TMN 2010 - Fotos
Deu-se início, esta semana, a mais um Festival Sudoeste TMN. Considerado por alguns o grande festival de verão português oferece, mais um vez, um vasto e eclético cartaz, com nomes que vão desde Friendly Fires a Jamiroquai.
À entrada no recinto, nota-se um esforço por parte da organização em melhorar gradualmente, ao longo dos seus 14 anos de vida, as condições do evento e isso transpira para o espírito do festival. Desde o dia de recepção ao campista, que culminou ao som dos belgas 2ManyDJs, que se percebe a sede por festa e música nos rostos dos presentes.
5 de Agosto de 2010
Era então chegado o primeiro dia das festividades. Coube a Maria Gadu estrear o palco TMN, bem pela hora do jantar, e foi ao ritmo da sua música popular brasileira e bossa nova que o sol se pôs e começou a descer a temperatura.
A noite tornou-se bastante fria e húmida, mas os colombianos Bomba Estereo trataram de aquecer os ânimos. A sua música electrónica de raízes latinas foi o prato ideal para servir como entrada na primeira noite do festival. Sonoridades infecciosas, pela voz de Liliana Saumet, que serviram de acendalha para o escasso mas animado público que começava a cercar o palco principal.
Chegava então a altura dos grandes nomes. Flaming Lips traziam na bagagem “Embryonic”, o álbum lançado em 2009 desta banda que se estreou em Portugal em Paredes de Coura, no ano 2000. Ao inicio do espectáculo, a cor proeminente era o laranja. Amplificadores laranja, instrumentos laranja, tudo era laranja. A entrada (ou talvez saída) da banda fez lembrar uma sala de partos, onde Steven Drozd (guitarra), Michael Ivins (baixo) e Klip Scurlock (bateria) desceram ao palco, literal mas virtualmente, do meio das pernas de uma senhora projectada no painel de LEDs que enfeitava o palco. Wayne Coyne, por sua vez, teve direito a um casulo (leia-se bolha de plástico) no qual ainda caminhou uns largos metros, por cima do público. Público este que, relutantemente, foi compondo a plateia e conhecendo o trabalho dos Flaming Lips.
Balões, foguetes, um figurante vestido de urso e o seu megafone, ajudaram Coyne a dar outras cores ao show e torná-lo numa tripe alucinógenea multicolor. Um grande momento de rock psicadélico, mas ligeiramente fora do seu tempo.
Kruder and Dorfmeister fizeram a transformação do palco Planeta Sudoeste, dando início à primeira noite de música electrónica no Groovebox com o seu dub austríaco. Acompanhados de dois cantores e muitos efeitos visuais fizeram as delícias de uma tenda a abarrotar.
Mesmo ao jeito de Mathangi Arulpragasam, nome do meio Maya, que dá nome ao seu último álbum, M.I.A. pregou uma pequena partida aos festivaleiros que aguardavam, incessantemente, pelo seu espectáculo. Começaram já com um pequeno atraso e fizeram o warm-up com um singelo dj set, mas rapidamente o poder destrutivo da música se fez soar na Herdade da Casa Branca, correspondendo a algumas das expectativas dos presentes. Algumas porque, apesar de serem bem recebidos pelo público deixaram um pouco a desejar com a sua actuação muito ruidosa (talvez até demais) mas pouco concisa. Acompanhada de um DJ, uma MC, três coristas e bailarinos, Maya obteve ovações com temas como “Bucky Done Gun” ou “Galang”, mas muitas outras presentes no novo álbum, “M/\Y/\”, ficaram desaproveitadas. No entanto, proporcionaram a primeira enchente do festival, que contou já no primeiro dia com 30 mil pessoas, segundo os números oficiais da organização.
Groove Armada fecharam as hostes, com a sua pop electrónica acompanhada a instrumentos. Andrew Cocup e Tom Findlay, os britânicos por trás do projecto fizeram-se acompanhar de uma banda e vocalistas a preceito. Na sombra do que tinham feito no mesmo palco em 2007, deixaram um pouco a desejar e muito por tocar.
Um arranque pouco surpreendente mas muito promissor, para esta décima quarta edição do Festival Sudoeste TMN.
Segundo dia e mantinha-se a expectativa. Na prévia noite a festa tinha sido boa mas, surpreendentemente, longe da arromba. Em palco, M.I.A. e Flaming Lips fizeram tudo ao seu alcance mas, talvez devido à temperatura, não aqueceram os ânimos por aí além.
A noite apresentava-se mais amena que a anterior. E a música tudo tinha para condizer. James Morrison teve o auge do seu concerto com “You Give Me Something”, já praticamente no fim do mesmo, agradecendo ao público português. “Broken Strings” realizado em dueto com uma das vozes da banda e pelo público foi também um momento aprazível.
Colbie Caillat foi bem recebida. Após vários concertos em Portugal foi a vez da Herdade da Casa Branca receber a americana. “Falling For You” e “Lucky” conseguiram um óptimo feedback do público que enchia o palco principal.
Por sua vez, o palco secundário começava a dar os seus frutos. A sueca Lykke Li, que actuou em simultâneo com Colbie, contou com uma banda de 5 elementos e conseguiu encher por completo a tenda do palco Planeta Sudoeste, pondo toda a gente a mexer ao som do seu trabalho de 2008, “Youth Novels”. Um show bastante sensual onde ainda houve tempo para explorar algumas pistas inéditas e uma versão de “Ready Or Not” dos Fugees, terminando com “Tonight”.
Mas a maior enchente da noite, que contou com 40 mil pessoas, deveu-se aos Jamiroquai. E se houve um artista mais acarinhado pelo público de todo o line-up do dia – e talvez de todo o festival - esse foi, definitivamente, Jay Kay. Com o seu estilo inconfundível e a sua cabeça decorada com penas, tal índio iroquoi, abriu o concerto com “Revolution” e “High Times”. E foi ao ritmo da sua actual banda - Rob Harris (guitarra), Paul Turner (baixo), Derrick McKenzie (bateria), Sola Akingbola (percussão), Matt Johnson (teclados) e alguns músicos convidados para secção de metais (saxofone, trombone e trompete), trazendo mais alguma textura ao espectáculo – que percorreu toda a panóplia de “greatest hits” que é a carreira dos Jamiroquai, finalizando com a imponente “Deeper Underground”.
Mas para quem já os viu ao vivo, facilmente notou que a sua frescura de outrora já se foi. Pelo meio houve alguns problemas técnicos, impossibilitando a projecção do concerto nas telas adjacentes ao palco, o que não deve ter agradado às filas mais distantes. Ainda assim, fizeram o que lhes competia, levando os festivaleiros ao rubro com o melhor do seu funk e acid jazz, no concerto mais aclamado da noite.
Ao cair do pano em mais um dia, coube ao colectivo Orelha Negra entreter os resistentes. Um concerto em formato medley, percorrendo grandes êxitos do hip-hop internacional dos anos 90. Sam The Kid e Cruzfader, aliados a membros dos Cool Hipnoise e Buraka Som Sistema mantiveram a ainda acesa multidão a sacudir o pó pela madrugada dentro.
Anunciado no início da semana o cancelamento do concerto de Tim & Companheiros de Aventura, todos os espectáculos do cartaz foram ligeiramente adiantados. Brett Dennen ficou responsável por abrir o palco principal neste quente e penúltimo dia do Sudoeste TMN 2010, com o line-up mais pop de todos. O cantor californiano muniu-se do seu folk para apresentar, aos poucos fãs que assistiam, o seu último álbum, “Hope for the Hopeless”.
Uns momentos depois, pouco antes da entrada de Sugababes no Palco TMN, era a altura da banda de Ed Macfarlane, Jack Savidge e Edd Gibson se estrear no nosso país, no palco secundário, e fazer jus à sua reputação como um dos projectos mais inovadores do ano passado. Se o seu único álbum de estúdio, o homónimo “Friendly Fires“, soa a fresco, deviam - e recomendamos vivamente - ver a actuação ao vivo destes jovens britânicos. Acompanhados também por um saxofonista e um trompetista, consagraram-se como a melhor actuação da tenda Planeta Sudoeste (e possivelmente de todo o festival), até este dia.
O show começou logo a abrir, com Ed a passear sobre o público, escasso (decorria simultaneamente a final da Supertaça Cândido de Oliveira) mas atento, alinhando em todas as brincadeiras do irrequieto frontman. Não faltaram os êxitos “Paris”, “Skeleton Boy” e “Kiss Of Life”, bem conseguidos através da electrónica e percussão que tanto os caracteriza. O final com “Ex Lover” teve um sabor amargo, quando a plateia pedia ainda mais, em grande ovação. Finalmente uma óptima surpresa!
No Palco TMN decorre a primeira grande actuação: Sugababes. “Freak Like Me”, “Round Round”, “Too Lost in You”, “Ugly”, “Wear My Kiss” e “Stronger “ foram algumas das músicas ouvidas mas que proporcionaram um concerto morno. Realizaram ainda uma versão de "Rabbit Heart (Raise it Up)" de Florence and the Machine que deixou muito a desejar.
Com um concerto tão estético que mais parecia retirado de um espectáculo da Broadway, Mika deixou a sua segunda marca em festivais portugueses. Após a sua presença no Super Bock Super Rock em 2008, pisava agora o solo alentejano, para a actuação mais esperada pelos cerca de 38 mil festivaleiros presentes nesta noite.
Claro está que, por trás de Michael Penniman, a extraordinária banda (com baterista feminina, o que é raro ver-se) e cantores de apoio foram mais que essenciais ao sucesso deste projecto na sua apresentação. Dono de um carisma inigualável, percorreu quilómetros no palco, aproveitando ao máximo toda a sua decoração e saltando do piano para o microfone com um enormíssimo à vontade.
A entrada a matar com “Relax, take it easy” dava o mote para um concerto muito animado, explorando extensa e intensivamente todo o reportório do cantor e autor britânico. O fecho com “We Are Golden”, “Grace Kelly” e ainda “Lollypop” deixou toda a gente em grande alvoroço.
E esse alvoroço pouca calmaria obteve. Com poucos minutos de intervalo, entravam em cena os sete elementos que compõem Bajofondo, um colectivo formado por artistas argentinos e uruguaios, que praticou o seu tango electrónico em grande performance artística. Sonoridades à la Gotan Project, mantiveram acordados por mais uma hora e pouco os que ainda teimavam em dançar. Pelas 3 da matina dezenas de festivaleiros invadiram o palco, e assim terminou mais um dia de festival.
Neste terceiro dia Mika foi, sem dúvida, o concerto com mais apoio dos festivaleiros, cerca de 38 mil.
Era chegado o quarto e último dia de festival. A chuva fez uma pequena ameaça durante a noite, mas a mudança de temperatura que causou foi no sentido oposto, sendo que o dia esteve quase sempre enublado, tornando a noite na mais quente de todo o festival.
A noite começava cedo e com o calor que ainda se fazia sentir, sabia bem a sombra da tenda Planeta Sudoeste enquanto estava em palco Martina Topley-Bird e o seu ninja amestrado. Quem abdicou de mais umas horas de praia, não ficou arrependido.
Dona de uma figura e voz inconfundíveis, Martina saltou constantemente do sintetizador para o microfone, acompanhada de percussão a condizer, num concerto onde reinou o minimalismo e a simplicidade. Notou-se que todas as texturas das canções interpretadas eram criadas dando um grande foco na sua voz, claro está, o seu maior talento. O duo interpretou os álbuns “Quixotic” e “The Blue God”, terminando em grande com “Too Tough To Die”, apesar de alguns problemas técnicos.
Quem abriu o palco principal foram os Peixe:Avião. A banda de Braga goza do sucesso que teve o seu primeiro álbum “40.02” e trazia para apresentar “Madrugada”, o novo álbum, ainda por lançar. No entanto, num alinhamento de apenas 9 canções, não conseguiram encantar o escasso público que já se apresentava em frente ao Palco TMN. Muito hype e pouco valor? Esperemos que não.
Com o escuro da noite já instalado, o público recebia calorosamente o projecto Mondo Cane. O segundo projecto de Mike Patton (a par com Faith No More) apresentou-se em palco como já é costume. Uma orquestra vestida de preto, a cercar Patton no seu fato branco.
Como um exercício musical que transcende géneros e estereótipos, os Mondo Cane tomaram o Sudoeste de assalto. Uma voz avassaladora (e às vezes até projectada por um megafone) e música a remontar a uma Bolonha dos anos 50, entreteram uma vasta plateia, na mais surpreendente actuação do palco principal (talvez em paralelo com os Bajofondo).
E já que falamos de surpresas, o palco Planeta Sudoeste já tinha tido a sua dose, mas a maior ainda estava por vir. Saíam dos bastidores Beirut, o projecto do americano Zach Condon. Com mais cinco companheiros – piano, contrabaixo, acordeão, bateria e trompete – proporcionou a maior afluência de público do segundo palco, cuja tenda se encontrava a rebentar pelas costuras.
E as razões eram óbvias. Ninguém fica imune ao contágio que eles criam com a sua fusão de folk e música dos Balcãs. Tudo dança e tudo canta. Do principio ao fim!
Talvez devido ao que se passava no palco secundário, ou por terem estado em Portugal (Porto e Lisboa) muito recentemente, os Air começaram com meia “casa” e em slow-motion. A sua música poderá não ser a mais empolgante ao vivo, mas os franceses Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel têm uma reputação séria para manter e facilmente se nota porquê. Tecnicamente perfeitos, o duo, aliado a um terceiro elemento responsável pela percussão, executaram infalivelmente “Love 2”, o mais recente álbum do projecto, terminando com os clássicos “Kelly Watch the Stars” e “Sexy Boy”. No entanto, ficou em falta mais empatia com o público e, quando esta começou a aparecer, já o espectáculo tinha chegado ao fim. Curto e um pouco aquém das expectativas.
Mas empatia não faltou quando chegou a vez de Massive Attack. Os bristolianos mostraram-se em palco com a sua formação habitual, fazendo-se acompanhar dos ilustres (e algo habituais) convidados Horace Andy, Deborah Miller e Martina Topley-Bird, que tinha prometido voltar, após o seu concerto no início da noite.
Em frente deles, gente até perder de vista, num ambiente harmonioso mas tenso q.b. – ou não falássemos do trip-hop de Robert Del Naja e Grant Marshall. Por trás deles um enorme painel de LED, que mostrava animações de ficarem gravadas na mente, do tão reais e conscientes que eram, claro está, sempre dentro da crítica político-social.
Pelo meio dos imponentes e muito bem recebidos clássicos como “Safe From Harm” (cantada por Miller), “Teardrop” (por Topley-Bird) ou “Angel” (Horace Andy) houve ainda tempo para um arranjo inédito e algum improviso. O bem-vindo encore contou ainda com a dançante “Unfinished Sympathy” e a derradeira “Atlas Air”.
No entanto, ficou um aroma agridoce em todos os que já viram Massive Attack ao vivo. Faltaram “Karmacoma”, “Man Next Door” ou “Paradise Circus”, mas não se pode ter tudo. Uma performance imaculada - como já é habitual - agradando os mais de 40 mil festivaleiros presentes, na noite mais concorrida de todo o Festival Sudoeste TMN 2010.
Mas a noite ainda não tinha acabado e para aproveitar ao máximo os últimos momentos que o festival oferecia, foram poucas as pessoas que deixaram o recinto. O francês David Guetta tomou conta do palco principal e por lá ficou noite adentro.
A sua música de dança de fácil audição, muitas luzes, animações de vídeo a preceito e também dois “robôs” lançando fumo e foguetes para o ar levaram ao êxtase a imensa multidão que, no meio de uma nuvem de poeira, se abanou durante horas ao som de êxitos como “Memories”, “Sexy Chick” e “One Love”.
Celebrava-se assim mais um Festival Sudoeste TMN. Para o ano há mais com datas já definidas, entre 3 e 7 de Agosto de 2011. Até já !