Reportagem Super Bock Em Stock - 2009 - Dia 5
O desfecho da segunda edição do festival Super Bock em Stock prometia grandes concertos nas seis salas de espectáculos da Avenida da Liberdade. Beach House, Little Joy, Patrick Watson e Kap Bambino eram os nomes mais aguardados da noite por parte dos milhares de fãs (e caras conhecidas) que percorreram ontem o passeio lisboeta, apesar da ameaça da chuva e do tempo apertado. Aliado, então, a boas condições climatéricas, o Stock convenceu e desafiou consecutivamente os amantes da música leve a comprovarem a qualidade das diversas bandas actuantes, dando muitas vezes azo a surpresas.
Coube a João Só e Abandonados cortar as fitas e a uma distância de poucos metros, é Mocky, Dominic Salole e banda que embalam os (bastantes) espectadores com versões jazz e electrónicas de canções conhecidas por todos nós no Cabaret Maxime, mostrando um grande entusiasmo especialmente na escolha do guarda-roupa.
Já na sala principal do São Jorge, Os Golpes aquecem a noite que se adivinhava atribulada por tamanhas trocas de passeio da Avenida. Lançados pela Amor Fúria, a sua estética musical faz lembrar tanto os trejeitos nacionais de Heróis do Mar, como o instrumental aguçado dos The Strokes, e os artistas vão agradando a um público paciente com temas de Cruz Vermelha sobre Fundo Branco, disco de estreia. Como afirmavam numa das suas músicas, “Não sou uma ausência / sou um corpo inteiro” – os Golpes mostraram ter estilo e substância.
É pouco depois que se dá a entrada dos Beach House no palco do Tivoli. A dupla formada por Victoria Legrand e Alex Scally já tinha passado por terras lusas no ano passado e marcaram presença no festival de inverno para apresentar os novos temas de Teen Dream, que será lançado em 2010. Os americanos envolvem os expectantes espectadores num lo-fi sonhador, que resulta bem no ambiente intimista do Tivoli, porém, se a nível técnico pouco temos a apontar, a performance dos Beach House pareceu estar um pouco aquém do esperado, talvez por cansaço dos artistas que só mais para o final aqueceram e pouco comunicaram. A voz grave de Victoria e as ternas melodias dedilhadas não deixam de ser cativantes e deixaram as hostes satisfeitas, já prontas para seguir em frente.
De seguida, uma pequena pausa para decidir novas direcções. Os que deram um salto ao São Jorge para ver o rock pintado de new wave e electrónica dos The Invisible, não saíram com as expectativas defraudadas, no entanto, se a espera pelo próximo nome de algum relevo era mal suportável, as cadeiras do Tivoli ofereciam descanso aos que preferiram os Little Joy. Curiosamente, a banda constituída por Rodrigo Amarante, dos brasileiros Los Hermanos, Fabrizio Moretti, dos largamente aclamados The Strokes e a multi-instrumentista Binki Shapiro, volta ao local de origem, uma vez que os dois músicos cruzaram caminhos em Lisboa no ano de 2006, e assim, trocaram ideias que resultariam na génese dos “pequena alegria”. A simpatia dos Little Joy é contagiante e é impossível não se deixar levar pelos sons acalorados de “The Next Time Around” e “Unattainable”, onde se destaca a tímida Shapiro, que valeram várias rondas de aplausos. Nota para os gracejos com o público e os elogios a Beach House, num jeito completamente envolvente e fascinante.
“Românticos, inovadores e audaciosos”, os britânicos Piano Magic criaram uma pequena bolha post-rock/indie/electrónica na sala 2 do São Jorge, onde os fãs abanavam a cabeça e os curiosos olhavam atentamente.
“Não vos vou mentir”, comentava Patrick Watson, algo entre o espantado e o divertido, “este foi um dos concertos mais estranhos que já demos.” Não é por menos: não se registam quatro falhas de som e uma ida cómica e proclamada aos lavabos em qualquer evento musical. De facto, o concerto do Canadiano pouco teve de vulgar, pois a sua entrega e improviso despreocupado face às peripécias já mencionadas ajudaram à materialização de um concerto único e impressionante, no conforto familiar do cinema lisboeta. De início, Watson começa por encantar as massas com as melodias suaves tocadas em piano e os falsettos estrondosos que arrepiam a espinha (fazendo lembrar um Jeff Buckley e até um Andrew Bird na teatralidade carismática), apoiado pelos Wooden Arms em devaneios caóticos instrumentais que integram este indie folk de autor mais do que competente. Assim, passam por alguns dos temas do recentemente editado Wooden Arms, como “Fireweed” e “Big Bird in a Small Cage”, e é no tema homónimo que Watson, ao perder o som, toca em acústico e canta por megafone – o público esforça-se por não fazer barulho, tanto é o encanto. Fenómeno repete-se na rendição irrepreensível de “Man Under The Sea”, mergulhado no calor da multidão. Os que presenciaram a tamanha grandeza do prodigioso músico não se inibem na demonstração de afecto, obrigando-o a voltar para dois encores, num dos quais arrisca uma cómica performance soul de “Shame” em jeito de retribuição. Os convertidos e os conversores agradecem.
Preparados para motim electrónico roçando a histeria? São os Kap Bambino que lhe dão vida no Parque de Estacionamento do Marquês do Pombal, num concerto frenético e a rebentar pelas costuras, cheio de sons distorcidos com laivos de 8-bit. Embora logo de início se apresentasse bem composto, à medida que a noite prosseguiu, foi notável o caos liderado por Caroline Martial que se instalou no espaço reduzido. “Dead Lazers”, “Save”, “Hey!” e “Neutral” foram alguns dos êxitos dos franceses que foram celebrados por um público fiel e devoto em puro êxtase.
Ainda no Marquês de Pombal, Dr. Ramos e Zé Pedro DJ dão o remate ao festival de Inverno, brindando os inabaláveis com a música electrónica até as altas horas da noite.