Reportagem Super Bock Super Rock 2009 - Lisboa
O segundo acto da 15ª edição do Super Bock Super Rock, em Lisboa, prometia um cenário bem mais animador do que o acto portuense. Não tendo nenhum infeliz cancelamento, como o de Depeche Mode, o evento prometeu e cumpriu, trazendo ao Estádio do Restelo muitos festivaleiros, com uma forte presença espanhola, que ansiavam pelos concertos de The Killers, Mando Diao ou mesmo Duffy.
Ao fim de 15 anos, o festival de Verão que é um dos grandes titãs da cena musical portuguesa, reinventou-se, dividindo-se entre os pólos nacionais e retornando o estilo a que nos habituou. Sobre o sucesso desta modificação, pouco mais podemos dizer que a noite lisboeta foi um sucesso. Na verdade, se há algo que pode ser apontado é o facto de, apesar de a noite ir progressivamente arrefecendo, o ambiente e a recepção aos artistas variaram de forma contrária.
As portas abriram e poucos se fizeram ver ao pé do palco, meramente para marcar presença nos lugares fronteiros, dando a ideia de um recinto um pouco pobre e pouco composto. Coube aos Bettershell, banda vencedora do já habitual Super Bock Super Rock Preload, fazer as honras: em apenas 15 minutos, os rockeiros de S. João da Madeira tentaram convencer um público pouco numeroso. Com influências de pop/rock americano (Coldplay, Foo Fighters, Hoobastank), estes tocaram algumas músicas do EP por sair, entitulado Don’t Give Up.
Seguiram-se os The Walkmen, nova-iorquinos de coração e de sonoridade, liderados pelo cativante Hamilton Leithauser, que, de mãos nos bolsos, confere ao indie rock nostálgico uma vertente bem mais agressiva, não fosse pelos seus bramidos constantes. Ao longo de pouco mais de quarenta minutos, os Walkmen tocaram um reportório coerente, maioritariamente composto por You & Me, editado em 2008, do qual se destacam “In The New Year” e “The Rat” de 2004. Mesmo sendo, este último, o seu hit incontornável, pouco fez para aliciar mais do que os fãs, que se juntaram à frente do palco, dispersando-se os desinteressados. Será de culpar o horário da actuação e o vertente muito intimista da banda, que melhor funcionou na passagem pelo Super Bock em Stock no ano passado, sendo inegável a qualidade do conjunto.
Se estes puxaram pelas emoções neste dia veranil, a menina bonita daquele anúncio bastante conhecido exercitou a sua voz rouca no grande palco do festival. Brandi Carlile, na sua quarta vez em terras portuguesas, ofereceu um set simpático, que passou tanto pela confissão do desejo de se mudar para o nosso pais como também pela tentativa de oferta do número telefónico de um dos membros da banda. Com o seu pop melódico e um leve travo a country, Carlile empunhou a sua guitarra acústica e conseguiu alguma recepção da audiência cada vez mais recheada, passando por algumas canções de The Story, ao qual se aponta a homónima, mais conhecida. Contudo, esta cantora não conseguiu deixar de passar por lugares demasiado familiares, trazendo pouco de novo às covers de “Creep” e “Hallelujah”, de Radiohead e Leonard Cohen, respectivamente.
Esperava-se frenético rock’n’roll de garagem com a actuação seguinte - os Mando Diao. Os suecos, formados em 1995, já têm cinco álbuns na bagagem e um culto de fãs um pouco por toda a Europa, apesar do sucesso pouco aparente. Liderados por Gustaf Norén e Björn Dixgård, cuja interacção em muito faz lembrar a dos extintos Libertines, os Mando Diao conquistaram pouco a pouco o público, com singles antigos como “Down In The Past”, “Ochrasy” e “Long Before Rock 'N' Roll”, mas também com “Dance With Somebody” e “Gloria”, do recentemente editado Give Me Fire, álbum apresentado no Restelo. Seduzem-nos, assim, com o rock e os blues num concerto coeso, marcado pela presença de duas meninas do coro e a homenagem a Michael Jackson.
A muitos fez desesperar por anteceder a ansiada actuação dos The Killers, no entanto, Duffy, parte da onda de revivalismo soul, r&b e blues britânico, no qual se insere a mediática Amy Winehouse, apresentou um espectáculo sedutor e colorido, embora pouco chamativo. A cantora dançou e percorreu o palco, dando vida aos êxitos de Rockferry, o seu álbum de estreia, com a sua voz peculiar e jeito nada tímido, tentando apelar aos festivaleiros com exclamações como “Eu gosto do Portugal!”. Encanta o Estádio do Restelo com a aclamada “Warwick Avenue”, mas a galega guarda o seu trunfo para o fim – “Mercy” fez a delícia dos fãs, marcando o concerto.
Finalmente, a espera termina. Encerrando o palco do Super Bock, os The Killers são logo, de início, muito aplaudidos, por agora, já um estádio repleto. O cenário que os acompanha é tropical e sugere a gama de influências musicais que marcam Day & Age, o mais recente esforço dos americanos, como Elton John, David Bowie e Lou Reed – o rock e a electrónica marcam o passo, portanto. O grande maestro é, sem dúvida, Brandon Flowers, frontman de pele aos ombros, que confere aos grandes hits um lado muito mais emotivo e, portanto, apelativo aos milhares de fãs que bradaram as suas letras na noite passada.
Os cabeças de cartaz iniciaram o seu percurso com a dançável “Human”, que levou a muita confusão com a parte “Are we human or are we dancer?”, nem mesmo assim deixando de mover os fãs. Seguiram-se alguns constituintes do último álbum, surpreendentemente familiar aos devotos, como “This Is Your Life” e “Joy Ride”, que ganharam algum protagonismo comparativamente a “Somebody Told Me”, que não atingiu o seu verdadeiro potencial. Mas um dos êxitos da noite foi “Spaceman”, o segundo single do mais recente material da banda, tão bem recebida que Flowers, com um sorriso de orelha a orelha, é obrigado a repeti-la, perante a euforia presenciada.
Se há algo por que não pecam, é por terem má presença em palco – os The Killers apresentaram os seus hits mais badalados de forma descontraída e natural. Se, por um lado, "All These Things That I’ve Done", "Mr. Brightside" e "Smile Like You Mean It" agitaram as hostes, por outro, singles mais subtis como "Read Your Mind" e "For Reasons Unknown", de Sam’s Town, aqueceram e encheram, fazendo-nos lembrar o porquê dos americanos serem uma das bandas americanas mais populares dos anos zero. Não esquecer a homenagem a Joy Division com a sombria e competente "Shadowplay", ecoada sobre um jogo de luzes colorido e os jeitos vocais do líder da banda.
Já no encore, à falta de “Bones”, entra “I Can’t Stay”, talvez um recomeço menos bom e um passo em falso, porém, tudo esquecido com “Jenny Was a Friend of Mine” e “When You Were Young”, atingindo outro dos altos da noite. O público pedia mais, mas ficou a promessa de voltarem novamente aos palcos nacionais - esperemos que o façam rapidamente.