Reportagem Super Bock em Stock 2008
Review Super Bock em Stock - Fotos
O Festivais de Verão esteve presente na primeira edição do Festival Super Bock em Stock que trouxe à capital duas noites de luz e agitação, contando com a presença de nomes como The Walkmen, Santogold, Ladyhawke, Lykke Li, Deolinda, Rui Reininho ou peixe:avião, para aquecer as 5 salas que abriram portas a 20 concertos e cerca de cinco mil espectadores que orbitavam pela Avenida da Liberdade, dando a certeza de um objectivo bem concretizado para esta inovadora iniciativa.
Dia 3 de Dezembro– Quarta-feira
Às 21:30 do primeiro dia deste festival de inverno, “Professional Suicide” estreia a sala principal do Cinema São Jorge, pela cativante fusão entre sintetizadores, guitarra e voz da neo-zelandesa Ladyhawke. Apesar de proporcionar uma boa base musical, no seu estilo electro-rock, a interacção banda-audiência pareceu não ser suficiente para manter a generalidade do público até ao fim do concerto, optando este por explorar as alternativas do cartaz desta experiência.
Dentro deste espaço de tempo tocavam na Sala 2, do São Jorge, os portuenses doismileoito, enquanto que José James e o seu trio terminavam a tour, presenteando um jazz estilo soul aos poucos espectadores concentrados na sala do Teatro Tivoli. Ainda, um sinal do folk/rock nacional, The Guys From the Caravan, surpreendia a impassibilidade do Teatro Variedades com uma calorosa familiaridade musical; a par de Jack Rose que, acompanhado de Norberto Lobo, se apresentava no peculiar Cabaret Maxime.
O Parque Mayer (Teatro Variedades) recebe a visita do jazz electrónico de Caravan Palace, ao mesmo tempo que a revelação d’ Os Pontos Negros, com o seu rock entusiasta, demonstra já ter fãs leais e atentos que acabaram por contagiar o resto do público curioso, que ia, aos poucos, enchendo a sala, já familiarizado com alguns dos temas (em especial o conhecido “Supersticioso” de Heróis do Mar).
Eis que chega a hora da esperada actuação de Santogold, e a corrida ao Tivoli mostra-se frenética, apesar da extensa fila retida à porta, (des)esperando por vagas dentro da sala lotada. Um prelúdio por parte do DJ antecipava a chegada de Santi White que se fez acompanhar por duas bailarinas, interpretando a famosa “You'll Find A Way”.
A cantora norte-americana conseguiu uma performance alegre e sobretudo enérgica, contando com a resposta entusiasmada da assistência, que não pareceu sentir muito a falta de uma “backup band” no envolvente daquela electrizante mistura de géneros, desde o synth pop, passando pelo electro, fundido com o folgado estilo indie, que resultou no ponto alto da noite, uma calorosa invasão de palco.
Alison Sudol, A Fine Frenzy, adoçou o Cabaret Maxime que mais tarde mostrou ser pequeno demais para os admiradores do nobre projecto indie-pop sueco, El Perro Del Mar, que deixou também uma numerosa fila de fãs frustrados à espera de entrada.
E é tempo de um consolado público receber esta célebre pronúncia do norte. Rui Reininho e a sua irreverência arrebatam a sala, com um alinhamento distinto e diversificado, apresentando as canções do seu novíssimo álbum a solo com ressaltos orientais, Companhia das Índias, e interpretando temas já nossos conhecidos, numa panóplia contagiante.
Na companhia da banda e Armando Teixeira, vocalista dos Balla, corre de Sex Pistols, versão alatinada, para Rolling Stones e uma Odisseia Espacial em Bowie, passando por um exclusivo “Riders on the Storm”; brindando a audiência com um impudico “Bem Bom” que contou com a presença de Lena Coelho, membro original das Doce, e um afervorar vindo de uma assistência regalada que se ergueu em ovação a este veterano da música portuguesa.
Dia 4 de Dezembro – Quinta-feira
A umas certeiras 9 horas da noite dá-se início à segunda rodada deste festival, com uma noite de mais treze actuações que prometem a vinda de uma sequela em 2009 com uma expansão, digamos que merecida, relativamente às salas disponíveis, abrangendo agora o Coliseu dos Recreios, Teatro D. Maria II e o Hard Rock Café.
Lykke Li dispunha de uma sala cheia para impressionar, e a verdade é que o fez sem olhar aquém. Em movimentos lascivos e danças tribais, de baqueta em punho e voz penetrante, esta pujante artista sueca fascinou o Teatro Variedades, deixando bem vincada a sua presença em Lisboa. Se os álbuns deliciavam os ouvintes com a sensibilidade deste indie-pop tão singular, o concerto veio provar a versatilidade do seu domínio musical. Com algumas versões de canções alheias, como "Cape Cod Kwassa Kwassa" dos Vampire Weekend, a presença de uma cantora extra e sem esquecer a eminente “Little Bit”, a envolvência da actuação convidou os fãs a juntarem-se ao palco de Lykke Li para um final em grande.
Enquanto isto, o ex-vocalista dos brasileiros Los Hermanos, Marcelo Camelo, munido da guitarra acústica e acompanhado de mais sete vibrantes músicos, consegue convencer o Tivoli a relaxar antes que cheguem The Walkmen. Guitarras, trompetes, percussão, vibrafone, blues, ska, palavras vagas e calmantes; foi o que bastou para “baladar” a plateia.
The Profilers tocavam no Cabaret Maxime e era a vez de Phoebe Killdeer reiniciar a demanda ao São Jorge. Expressiva e divertida, lá estava a artista australiana, em tempos voz de Nouvelle vague, preparada para entreter a Sala 1, e nós a receber de bom grado toda a leve animação e agradável música A interacção era intuitiva e o desempenho do guitarrista, Cedric Le Roux n ão deixou dúvidas à facilidade com que esta banda de rock alternativo se entrega aos palcos.
No Teatro Variedades, Lisboa recebe de forma não tão expansiva a banda do co-fundador de dEUS, Stef Kamil Carlens. Zita Swoon tocaram de forma conquistadora, durante uma hora, para o reduzido número de pessoas que permanecia na plateia.
Ao mesmo tempo, Demarco tocava no Cabaret Maxime, e havia uma essência convidativa, ao estilo do novo pop-rock português reproduzido de forma mais constrangida, que saia da Sala 2 do São Jorge. peixe:avião eram donos daquela pequena sala e foco de atenção dos poucos espectadores, dando um curto espectáculo que não por isso deixou de ser mostra de um rock bastante sensível, não saindo de um tom ameno e emotivo.
A fechar, o Cinema São Jorge entram de rendas e guitarras os novos “namoradinhos” de Portugal. Confiante e de presença forte ali estava Ana Bacalhau, toda a sua garra e o trio de cordas que compõe os enaltecidos Deolinda. Projecto que vem refrescar as concepções alusivas ao fado português e que teve todo o direito a encore e aclamação em pé. Estilo solto, animado e intenso, com a admirável voz da cantora a liderar e os acordes que davam balanço a todo um público acordado para esta espécie de fado com lufada de ar fresco.
Para realmente recordar fica a estreia de Hamilton Leithauser e a sua banda; concerto que foi considerado, a par da invasão de palco em Santogold, um dos pontos altos de festival. The Walkmen lotaram a sala do Teatro Tivoli e foram recebidos com todo o amor que os ansiosos fãs portugueses tinham para lhes dar.
Emotivos e intensos abalroam o público com temas como "In The New Year", e partem para o êxtase de “The Rat”, que levou os admiradores e recém-apaixonados a erguerem-se para melhor sentir o que esta banda tinha para lhes oferecer. Com balanços desarvorados, danças excitadas e olhares de comoção, a manifestação de regozijo não parou por aí. A natural sensação de arrepio acompanhante de músicas como “Canadian Girl” foi decorrendo até ao final da actuação, que deixou a plateia ávida por mais deste estimulante pop melodramático.
Talvez por o público ainda estar a recuperar da intensidade de Deolinda e The Walkmen, ou talvez não, o concerto, de origem nacional, encarregue de fechar este festival de inverno parece ter sabido a pouco.
X-Wife ofereceram, mais uma vez, de forma activa os seus conhecidos hits, como “Eno” e “Ping Pong”, mas a interacção para com a assistência não parece ter sido eficaz, deixando assim parte dos espectadores, sedentos de um final enérgico – como a banda poderia oferecer – desapontados.
Ana Limas