Reportagem Vodafone Mexefest 2017
“De palco em palco, a música mexe pela cidade”. Dificilmente a Vodafone conseguiria arranjar um nome que descreve tão bem o festival que apadrinha; ocorrendo por mais de dez salas pela Avenida da Liberdade, o festival de música outonal caracteriza-se pela forma como consegue espalhar múltiplos concertos, a decorrer ao mesmo tempo, por locais que abrem as portas exclusivamente para o festival, mostrando o melhor que se anda a fazer tanto no panorama internacional como no nacional musical.
Para este ano de 2017, o Vodafone Mexefest teve o contratempo de perder dois dos seus cabeças de cartaz já previamente anunciados – Charles Bradley e Jessie Ware – mas nem assim o festival perdeu o seu fôlego, com muitos outro artistas a merecer a devida atenção: Everything Everything, Cigarettes After Sex, Destroyer, Sevdaliza ou Songhoy Blues, para enumerar apenas alguns.
Na passada noite de dia 24, que começou com alguns presságios de chuva, o roteiro da Festivais de Verão começou bem cedo e fez-se em bom português, com artistas que aqueceram o espírito dos festivaleiros numa noite de fazer bater o dente.
Os Kilimanjaro, o tripleto de rock da pesada de Barcelos, desceu à capital para distribuir as suas melhores malhas a uma elevada afluência que se reunia nos bastidores do Capitólio. Desde que a operadora WTF pegou no maior hit da banda para servir de música de fundo para múltiplas das suas campanhas promocionais que os Kilimanjaro se têm impondo como uma das bandas da atualidade no panorama musical português, e foi precisamente com “December” que a temperatura escalou para registos flamejantes e contagiantes, desencadeando um ou outro headbanging tímido, numa atuação sólida que se consumou ao som de uma versão de “Ace of Spades” de Motorhead.
Algumas dezenas de metros a pé daquele sítio, mais precisamente na Garagem da EPAL, Manuel Lourenço, o jovem que dá a cara por Primeira Dama, aquecia os presentes de uma forma mais aconchegante e cómoda comparativamente com o alvoroço de Kilimanjaro: através da sua pop melancólica, Manuel fala de romance, de paixão, do quão bonito é o amor. Destemido, lança-se sozinho em palco e salta logo à vista a sua segurança e o à vontade que foi alcançando ao longo destes últimos meses, estando a tornar-se cada vez mais confiante e a produzir músicas cada vez mais bonitas.
O derradeiro aquecimento do Vodafone Mexefest estaria, porém, a ocorrer novamente no Capitólio, desta vez no seu Cine-Teatro. IAMDBB, que na verdade se chama Diano de Brito, levou a uma enorme enchente pela aquela sala, tanto de curiosos como de acérrimos fãs, com estes últimos a manifestarem-se fortemente na linha da frente. Descrevendo o seu estilo como ‘urban jazz’ – leia-se ‘hip-hop com pinta’ – IAMDBB canta de forma paradoxal, num misto entre arrogância com ingenuidade, de alguém que sabe o seu potencial mas ainda está a apalpar o terreno. Esta ingenuidade, fez com que falasse múltiplas vezes para o público – tanto em inglês como em português – em momentos por vezes demasiado extensos e a roçar o monótono; por ser visível o contentamento da artista por finalmente estar a tocar por Lisboa, damos-lhe um ‘free pass’ por isto…
Com três EPs lançados desde o ano passado, o alinhamento pegou em temas de todos os seus trabalhos de igual peso mostrando a versatilidade de Diana, a rapper e de Diana, a cantora; “Childsplay”, “Pause”, “Troph” e a inevitável “Shade” – esta com direito a invasão de palco – não só mostraram o talento de IAMDBB, como também comprovaram que se esteve perante a estreia de uma artista que certamente se ouvirá falar muito mais num futuro não muito longínquo. O Vodafone Mexefest acabara de começar e já se tinha uma das fortes candidatas a ‘surpresa do festival’.
Para o primeiro concerto ‘internacional’ no Vodafone Mexefest, a estreia fez-se pelo palco maior do festival: o Coliseu dos Recreios. Cinco anos passados desde a sua última passagem por Portugal, Ernest Greene trouxe o seu projeto Washed Out a Lisboa para enfeitiçar o público português com o seu tropicalismo eletrónico, abrindo as portas para uma sessão terapêutica de chillwave que teve o seu quê de aula de dança.
Com o auxílio de dois músicos e de uma dose certa de sintetizadores que tão bem ajudavam a captar a vibe das imagens psicadélicas que corriam pelo fundo do palco, Ernest Greene abriu as portas para o mundo alucinogénio de Washed Out, com cada tema a corresponder a uma trip proveniente de diversas substâncias ilícitas, com estas quase a servirem de passaporte necessário para experienciar ao máximo desta viagem cósmica pela carreira do norte-americano.
Em jeito de promoção do mais recente Mister Mellow, o concerto andou muito à volta dos temas do mais recente disco, como “Burnt out Blues” ou “Get Lost”, mas houve tempo para reviver o passado através de “New Theory”, “Don’t Give Up” ou “Get Up”, com estas últimas duas a recolherem os maiores aplausos de um Coliseu a meio gás em termos de lotação.
Com as músicas de Washed Out a terminarem de forma abrupta quando estavam finalmente a ganhar o momentum para se aproveitar a melhor fase da trip que as próprias geravam, saiu-se um pouco mais cedo do Coliseu dos Recreios para tentar furar pela enorme fila que se fazia à porta da Casa do Alentejo para acolher os Songhoy Blues, a banda do Mali que funde blues com ritmos africanos, ou seja, meio caminho andado para se ter uma festa.
Festa foi aquilo que não faltou, com uma Casa do Alentejo a abarrotar de gente e com uma enorme fila a tentar entrar naquele que foi, certamente, um dos melhores concertos do festival. É impressionante como é que quatro tipos conseguem personificar, de forma tão simples e genuína, a felicidade e o sentimento de contentamento que a música consegue produzir no ser humano. Foi raro o momento em que o quarteto não sorrisse para o público, mas mais difícil seria de encontrar alguém no público que não retribuísse os sorrisos dos Songhoy Blues.
Convidando os presentes desde cedo a fazer a festa, o quarteto constituído por Nathanael Dembele e o tripleto de irmãos Aliou, Oumar e Garba Toure gerou um festim de ritmos africanos cruzados com blues para levar a cabo uma festa de proporções inesperadas, onde não houve a necessidade de se partilhar o mesmo dialeto para que a felicidade fosse contagiante por toda aquela sala.
Dando novamente de caras com o Coliseu dos Recreios, passou-se por Destroyer, promovidos ao palco maior depois do cancelamento de Jessie Ware como cabeça de cartaz do dia. O octógono chefiado por Dan Bejar trouxe ao Coliseu uma autêntica sinfonia de sons com sabores, uma riqueza instrumental capaz de saciar todos aqueles cujo cansaço de andar de sala em sala começava a despertar apetite. Para um público com um paladar tão apurado como o do Vodafone Mexefest, Destroyer trouxe beleza disfarçada de melancolia através da disparidade do seu indie rock, que se reinventa passado cada disco da banda - já vão em dez discos lançados.
Como seria expectável, foi em ken que grande parte do concerto girou em torno de, disco recentemente lançado e, como consequência, não se encontra tão entranhado como, por exemplo, Kaputt, quiçá o melhor de Destroyer e que reuniu maior manifesto por parte do público. Por mais bonita e sonoramente rica que estivesse a ser experiência de Destroyer, a verdade é que Dan Bejar e a sua trupe pouco ou nada fez para pegar o público na sua mão, com a comunicação por parte da banda perante um Coliseu bem composto, mas a desvanecer, a ser mísera. Um concerto bonito, sem dúvida, mas que não causou a mossa que se previa.
Seguindo caminho pela Avenida da Liberdade acima, o Cine-Teatro do Capitólio voltou a constar no nosso roteiro, ou não estivesse a sala a acolher o regresso de Valete ao ativo. Quando chegámos, o espaço não só estava com a lotação praticamente completa como também estava ao rubro: Valete não só marcou uma geração como se tornou um ícone do hip hop em Portugal, o que só por si fazia o seu regresso como um dos pontos altos do festival.
Dito e feito, Valete voltou com toda a garra e genica dos tempos que já lá vão, disparando rimas em todas as direções e à velocidade estonteante com que nos habituou, como as balas da Kalashnikov com que “matou” Bush em “Fim da Ditadura”. Prevenidos de coletes à prova de bala, os seus fãs mais acérrimos, que se manifestavam em grande peso, retribuíam as rimas de igual modo, comprovando novamente que este era um regresso que se aguardava faz tempo.
Infelizmente, não se vou tanto do concerto como gostaríamos. Todavia, houve tempo para se ouvir dois dos maiores hits do rapper: “Roleta Russa”, que nos ensinou a ter cuidado com moças que dão pelo nome de Vanessa, e “Rap Consciente”, tema lançado no Verão e que marcou o regresso ao ativo do rapper. Não se enganem: Valete está de volta e veio para ficar.
Finalmente demos por nós na Estação do Rossio, e que melhor maneira de o fazer do que acolher as espanholas Hinds. Em 2014, estrearam-se em Portugal quando ainda assinavam como Deers, numa tímida passagem pela Garagem EPAL, mas depois de um forte primeiro disco e de uma passagem esgotada pelo MusicBox, eis que subiram de divisão para uma das maiores salas do Vodafone Mexefest.
Na bagagem, trouxeram naturalmente o disco de estreia, Leave Me Alone, que já há muito que se entranhou nos ouvidos das comunidades juvenis que se destacaram em massa pelo estação de comboios, com muitos a não só saberem as letras de trás para a frente como também a deixarem-se levar pelas linhas de surf rock das madrilenas para saltarem e esbracejarem compulsivamente.
Entre “Bamboo”, “Chili Town”, “San Diego” e “Castigadas En El Granero”, ouviu-se de tudo um pouco para que se matasse as saudades de uma banda que quase pode dizer que tem nacionalidade portuguesa. Aliás, a relação com Portugal é tanta ao ponto da mãe de Carlotta Cosials ter recentemente comprado casa em Peniche, o que faz com que as visitas ao nosso país sejam cada vez mais frequentes, confessando, em primeira mão, que o regresso das Hinds aos palcos portugueses dar-se-á já no próximo Verão.
Houve tempo, ainda, para desvendar um pouco o véu para o segundo disco de originais da banda, com dois novos temas a serem ouvidos, em exclusivo, no festival que as acolheu quando ainda eram praticamente desconhecidas. Um bom presságio que serve também como comprovativo de como o Vodafone Mexefest dá sempre a conhecer artistas antes que o seu bang ocorra.
A noite já ia longa, mas houve ainda tempo para passar uma última vez pelo Coliseu dos Recreios, nesta ocasião por Orelha Negra. O projeto português que funde o hip hop à electrónica revelou-se uma aposta ganha para entreter todos aqueles que não queriam dar a noite como terminada. Desde um excelente jogo de luzes a captar a essência que reside na sonoridade dos Orelha Negra, a banda conseguiu reunir uma vasta multidão no Coliseu, com temas como “M.I.R.I.A.M.”, “Throwback” e “Sombra”, esta para dar a festa como terminada, a fechar com chave de ouro o primeiro dia do Vodafone Mexefest deste ano.
“Nunca voltes a onde já foste feliz”, já dizia o provérbio. Sendo um festivaleiro alguém que se caracteriza pelo seu espírito de rebeldia e aventura, este provérbio não nos faz grande sentido, e foi dentro desses moldes que o Festivais de Verão recarregou as suas pilhas para mais uma noite do Vodafone Mexefest, em que Cigarettes After Sex e Everything Everything seriam os pontos fortes do dia.
Com um calçado apto para as centenas de metros que a noite obrigaria a percorrer e uma sandes no bucho, a primeira paragem da noite, tal como a de ontem, fez-se em belo português com Luís Severo pelo Teatro Tivoli. O músico tem-se revelado como uma das mais sólidas promessas da música portuguesa, com o seu mais recente disco homónimo a ser facilmente um dos melhores do ano.
Para a noite de dia 25, Luís Severo apresentou-se em formato a solo, prevenido apenas com um piano para que pudesse recriar a beleza existente nos seus dois discos de carreira. Que Severo é um cantautor por excelência, pouco há a contra-argumentar, mas quando o encanto das suas canções ocorre pela via de um piano, estamos perante algumas das mais emotivas obras criadas na língua de Camões. Quer fosse através de “Meu Amor”, “Escola” ou “Amor e Verdade”, Luís Severo ia oferecendo momentos de uma pureza quase arrepiante, proporcionando um concerto em que o artista e a sua obra viram um só.
Se Luís Severo abriu a fechadura da porta emocional do público do Vodafone Mexefest, os Cigarettes After Sex arrombaram-na por completo, assim como a lotação do Coliseu dos Recreios que, pela primeira vez este ano, atingiu os 100%.
Ninguém quis perder pitada desta banda que voltou a colocar o shoegaze nas bocas do mundo, isto em pleno 2017. Naquela que foi a terceira passagem da banda norte-americana por Portugal - primeira na capital - os Cigarettes After Sex apresentaram finalmente o seu disco de estreia por terras lusas, depois de duas passagens onde apenas os seus dois EPs constavam na bagagem.
Os Cigarettes After Sex são aquele tipo de banda que não romantizam o amor como um íman exclusivo para momentos bonitos e fofinhos; falam sobre tristeza, solidão, angústia e desespero, isto é, mostra a dupla faceta que o amor pode deixar em nós, e é esta descrição real, nua e crua, que os torna tão únicos. A capacidade que esta banda tem em conseguir aconchegar tanto as almas cujo a paixão uniu ou separou, tornou-as numa banda sonora aconchegante, e foi em puro silêncio que o Coliseu dos Recreios se rendeu para ouvir os desabafos e as experiências de Greg Gonzalez.
Com um jogo de luzes que pintava a sala em tons de preto e branco, múltiplos foram os temas que iam dando um pouco de cor a um concerto que tudo teve de belo, com “Affection”, “Apocalypse” e “Nothing’s Gonna Hurt You Baby” a serem os pontos altos da noite. Independentemente da faixa etária reunida naquela sala, certamente que ninguém ficou indiferente à beleza que os Cigarettes After Sex impuseram no coração dos lisboetas, numa estreia que já se fazia tarde.
Por falar de estreias, mais uma se deu no Vodafone Mexefest deste ano; falamos de Childhood, o quinteto de Nottingham. Com dois discos lançados, a evolução que a banda teve entre o espaço de tempo que separa os trabalhos foi avassaladora, evoluindo de uma promissora banda de indie rock para um grupo que incorporou de forma tão natural elementos de jazz e groove na sua sonoridade, tornando-se numa das bandas mais singulares no atual panorama musical britânico.
Com o lançamento do mais recente Universal High, recheado de elogios, a vinda de Childhood é mais do que bem-vinda, com uma Estação do Rossio bem composta para ver o grupo de Nottingham a convidar a um ou outro pézinho de dança com a sua sonoridade contagiante e incendiária. De modo a incorporar os temas do primeiro disco, Lacuna, na onda mais travessa do seu sucessor, temas como “Blue Velvet” e “As I Am” receberam uma modificação mais ‘groovy’ e que lhe dá toda uma nova vida, rivalizando com “Californian Light” no que a qualidade diz respeito. Visivelmente satisfeitos por terem um público de fácil conquista e rendido às suas qualidades, os Childhood revelaram-se uma bonita surpresa que o Vodafone Mexefest tão bem nos tem habituado.
Quatro longos anos separavam Portugal dos Everything Everything, mas a espera teve finalmente um ponto final. Voltando, precisamente, ao mesmo local onde atuaram pela última vez diante do público português, a banda de Manchester preparou um concerto em jeito de best of para nos saudar, quem sabe se não em jeito de pedido de desculpas.
Com dois discos, Get To Heaven e A Fever Dream, ainda sem terem recebido o carimbo de aprovação português, o alinhamento do concerto reuniu o melhor destes últimos trabalhos ao mesmo tempo que conciliava com hits passados como “Don’t Try”, “Kemosabe” ou “Cough Cough”, com o público português a ficar completamente rendido à intensidade e entrega de Jonathan Higgs em conquistar o Coliseu dos Recreios o mais depressa possível.
“Night Of The Long Knives”, “Regret”, “Blast Doors”, “Desire”, “Can’t Do” e por aí adiante; os Everything Everything não se mostraram receosos em soltar os melhores êxitos da sua carreira, dificultando a tarefa de quem queria ver outros concertos a acontecer em simultâneo, mas o dever de uma banda do Vodafone Mexefest passa por isso: o de conseguir prender o público no seu concerto para que não sinta o arrependimento de ter perdido dois a três concertos quando viu um qua valeu por dez. E neste aspeto, os Everything Everything valeram todos os minutos alucinantes desde que subiram ao palco até o deixaram. Já não nos lembramos da última vez que o Vodafone Mexefest trouxe um cabeça de cartaz tão sólido como os Everything Everything, e só temos que agradecer ao festival por ter conseguido finalmente reunir esta banda com o público português, relação essa que se prevê reatar os laços já no próximo Verão…
Se há coisa bonita no Vodafone Mexefest é o de ver um artista português a lotar uma sala quando a concorrência a nível de artistas internacionais é da pesada – Everything Everything e Julia Holter, por exemplo. Dito isto, foi impossível não esboçar um enorme sorriso quando nos deparámos com uma Garagem da EPAL a rebentar pelas costuras para receber Benjamim e Barnaby Keen.
A parceria entre os dois músicos deu origem a um dos melhores discos deste ano, 1986, e a possibilidade de ver ambos a tocá-los na íntegra não passou despercebido a ninguém. Tal como no álbum, cada músico tem direito a ‘turnos’ para que possam tocar as faixas que correspondem a cada um, levando assim a que cada um tenha direito ao merecido estrelato. Como o nosso tempo por Everything Everything se revelou mais extenso do que seria suposto, apenas conseguimos apanhar o par composto por “Diary” (Barnaby Keen) e “Terra Firme” (Benjamim), mas verdade seja dita que só a possibilidade de ouvir esta última canção vale quase por um concerto inteiro. Benjamim conseguiu criar uma canção sentimental q.b., facilmente identificável e que qualquer um se pode identificar com, tornando-a ainda mais bonita quando é interpretada ao vivo e se vê o descontrolo com que o cantautor se desprende no refrão, deixando-se tomar pela emoção daquele que é provavelmente o melhor tema que escreveu.
Após uma chuva de aplausos mais do que merecida, saímos de coração cheio da Garagem da EPAL em rumo ao Cinema São Jorge, ou não se tivesse encontrado marcado com Sevdaliza. Surpreendentemente, esse dito encontro seria bem mais populoso do estávamos à espera que fosse, ou não começasse a fila para o Cinema São Jorge… no Capitólio. Sem dúvida alguma, a maior fila que o Vodafone Mexefest viu este ano.
O porquê da longevidade da fila ficou logo esclarecido quando “Do You Feel Real” começa a ecoar por uma sala onde poucos eram os lugares vazios. Com um estilo bastante único e peculiar, que funde trip hop com R&B, Sevda Alizadeh consegue criar canções onde a sensualidade consegue alienar-se à profundidade e às mensagens ativistas por trás das mesmas; durante o concerto, Sevdaliza apelida o São Jorge como uma casa fechada perante à intolerância, o racismo ou à homofobia, reunindo inúmeros aplausos que mais tarde se converteriam numa das primeiras ovações de pé que a artista receberia.
Acompanhada por apenas dois músicos (bateria e teclados) e um bailarino, a artista mostrou que o minimalismo pode superar grandes produções, especialmente quando se tem um público fabuloso a ajudar à coisa, com um enorme destaque para as eufóricas filas das frentes que chegaram, inclusive a distribuir um bouquet de flores ainda o concerto nem ia a meio. É incrível a legião de fãs com que Sevdaliza se deparou na sua segunda passagem por Portugal – esteve na Madeira, este Verão – especialmente tendo em conta que só tem um disco lançado e que este foi lançado de forma independente.
Talvez de forma a não dececionar os fãs que fizeram questão de ficar de pé durante quase todo o concerto, Sevdaliza deu tudo o que tinha, cantando e dançando de formas deslumbrantes sem qualquer tipo de dificuldades, com uma postura segura, solene e às vezes chegando mesmo a ser provocadora. “Human”, “Marilyn Monroe” e “That Other Girl” consolidaram a atuação de uma artista que certamente se irá tornar num dos concertos mais falados após o término de mais um Vodafone Mexefest.
Infelizmente, e como tudo na vida tem que ter um fim, a edição de 2017 do Vodafone Mexefest caminhava a passos largos para o seu final, mas não sem antes terminar no clima que todos desejavam: festivo. Para tal, Moullinex levou ao Coliseu dos Recreios o seu novíssimo Hypersex, garantindo um fechar de festival cheio de festa, sorrisos e muita, mas muita dança, onde ninguém quis arredar pé ao longo de uma das mais energéticas hora e meia de concerto que há memória ao longo de todas as edições do festival da Avenida da Liberdade.
Mais um ano, mais uma edição do Vodafone Mexefest a encher de felicidade o coração de milhares de festivaleiros reminiscentes dos dias solarengos de um festival de Verão. É difícil encontrar um evento, em pleno mês de Novembro, que consiga induzir sensações tão calorosas como este e, esperemos nós, que continue assim por muitos mais anos. Até para o ano, Mexefest, vais deixar saudades. Muitas.
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Organização:Música no Coração
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terça-feira, 02 janeiro 2018