Rock in Rio 2018 - 29 e 30 Junho
Para aqueles que acreditam em superstições, parece que os grandes festivais de Portugal estão ‘assombrados’ neste ano de 2018: a chuva e o frio continuam a fazer questão de serem convidados indesejados para estes dias, em que sol e bom tempo era aquilo que se pretendia.
O dia 29, terceiro dia do Rock in Rio Lisboa e o primeiro do segundo fim-de-semana do evento, contou com a incomodativa presença destes dois, pintando de cinza o céu do Parque da Bela Vista. Mesmo com uma chuva que teimava em não abrandar, o que tornou com que os impermeáveis se tornassem na indumentária de serviço, os concertos a ter-se em atenção neste dia começavam cedo, mais especificamente às cinco da tarde no Music Valley, ao som de Manel Cruz.
Era de prever que a afluência ao concerto do ex-Ornatos Violeta não fosse a maior que aquele palco viria em todo o evento; pondo de parte as questões meteorológicas, era dia de semana e o trabalho privava alguns de estarem a tempo e horas pela Bela Vista. Todavia, os cerca de cinquenta gatos-pingados que mostraram todo o seu apoio a Manel Cruz nas filas da frente, aos que se juntavam outros cinquenta que se tentavam abrigar por baixo de árvores e afins, valeram por bem mais do que mil, emancipando uma calorosa receção para um artista tão consagrado como Manel Cruz.
Dias antes, Manel deu a conhecer que o seu primeiro disco em nome próprio teria o nome de Cães e Ossos, mostrando também a faixa título para o mesmo. Para a etapa inaugural do concerto, Manel Cruz levantou um pouco o véu para o seu antecipado álbum, como “Beija-Flor” e o “Ainda Não Acabei”, com esta a terminar num loop com o seu quê de convite para se dançar à chuva. Este leque de canções, que alineia os pontos fortes dos projetos de Manel Cruz às raízes da música tradicional portuguesa, aumentou exponencialmente as nossas expectativas para Cães e Ossos, que deverá ser lançado já no próximo mês de Setembro.
Com a simpatia e o à vontade de sempre, demonstradas através das múltiplas intervenções que teve para com o público, Manel Cruz parecia estar bem mais divertido do que o público que o acompanhava, embora a situação tenha ficado equiparada quando o músico foi resgatar material pertencente às suas bandas, que o tornaram como um dos artistas mais acarinhados pelo público de música alternativa portuguesa; desde Foge Foge Bandido, através de “Canção da Canção Triste” ou “Estou Pronto”, Pluto com “Sexo Mono” e até mesmo Ornatos Violeta – “esta é um docinho por terem aguentado a chuva, vá”, diria em jeito de troça – ao som de “Capitão Romance” que levou a uma cantoria geral pelo público, foram argumentos mais do que suficientes para defender o porquê de um concerto de Manel Cruz valer a pena de todas as formas e feitios, seja ao sol ou à chuva.
No mesmo palco e uns minutos depois, quando a chuva já acusava um sinal de tréguas, foi a vez de se ouvir outro tipo ‘Capitão’ a navegar pela maré, também este transportado nas boas graças do público. Presença assídua nos palcos secundários do Rock in Rio Lisboa, os Capitão Fausto regressaram para mais um fogoso concerto pela Bela Vista, daqueles que desperta a questão sobre como é que a banda ainda não viu o upgrade para o Palco Mundo.
Apesar de enfrentarem a ferrosa concorrência de James pelo palco principal, os Capitão Fausto não mostraram intenções de vacilarem, aliás, nem se tinham que preocupar com isso; para além de contarem com uma das legiões de fãs mais fiéis no público português, os Capitão Fausto auferem também de um repertório chorudo e sonante, com temas que tanto ficam no ouvido, com as letras dos mesmos a serem entoadas de forma irrepreensível pela enchente considerável que se registou no Music Valley. Fosse em “Santa Ana”, “Célebre Batalha de Formariz” ou “Morro na Praia”, a festa em Capitão Fausto foi uma constante e nunca abrandou.
Para a ocasião, os Capitão Fausto contaram com a presença de Luís Severo, um dos mais promissores músicos portugueses da atualidade, como convidado de honra, juntando-se à trupe de Tomás Wallenstein e companhia para interpretar três dos seus temas, “Planície”, “Boa Companhia” e “Amor e Verdade”, com a sonoridade das mesmas a soar algo mais de dançável quando em comparação com aquilo que Severo nos habituou; haveria tempo ainda para que esta parceria desse a ouvir material de Capitão Fausto, com tanto Tomás e Luís a partilharem a voz em “Alvalade Chama Por Mim”.
Culminando ao som de “Amanhã Tou Melhor” e do recente single “Sempre Bem”, os Capitão Fausto meteram o público a sorrir, cantar, dançar e a saltar, naquele que foi indiscutivelmente um dos melhores momentos neste terceiro dia de Rock in Rio, demonstrando mais uma vez que a presença do quinteto pelo Parque da Bela Vista será sempre uma aposta ganha.
Num dia de forte aposta na música portuguesa feita ao som de guitarras, não há banda que melhor represente o rock português como os Xutos e Pontapés, possivelmente, a mais bem-sucedida banda em Portugal. Repetente em todas as edições do Rock in Rio Lisboa, o concerto dos Xutos para esta ocasião tinha um toque especial, aquando da morte de Zé Pedro, inconfundível guitarrista da banda, no ano passado.
Os Xutos e Pontapés são uma banda intergeracional, com fãs dos oito aos oitenta anos, ou não andassem eles por estas andanças já faz décadas. Em qualquer concerto da banda, há sempre uma sensação de alegria e contentamento em todo o público, que sabe todas as letras da banda como se de orações numa missa se tratassem; os Xutos são daquelas bandas que nos marcam para a vida, são uma banda que, acima de músicos, é o ‘nosso’ grupo de amigos.
Dado o elevado teor emocional da ocasião – o primeiro concerto dos Xutos e Pontapés no Rock in Rio sem a presença de Zé Pedro – é inegável que um ambiente negrume paira pelo ar, tão bem captado pelo céu pintado de cinza que se lamuriou durante todo o concerto; ironicamente, “Chuva Dissolvente” foi uma das primeiras músicas que se ouviu.
Tim, Kalú, João Cabeleira e Gui poderiam ter jogado pelo seguro e terem apresentado um alinhamento somente de êxitos incontornáveis da banda, mas não, a ocasião era de homenagem a Zé Pedro, a noite seria de emoção: nunca antes o “quero-te tanto” de “Circo de Feras” tinha sido entoado de forma tão emotiva, com esta linha sentimentalista a prolongar-se em “Mar de Outono”, com fotos dos primórdios da banda a serem ilustradas nos ecrãs, “Remar Remar” ou através da inevitável e tão sentida “Homem do Leme”, momento alto onde se sentiu o pesar na voz nos 55 mil visitantes do dia 29.
Foi perto do fim que as grandes surpresas reservadas pelos Xutos e Pontapés surgiram, com a primeira a ser a ‘presença’ de Zé Pedro; “vamos voltar a tocar com Zé Pedro neste palco”, anunciou Tim, antes de os ecrãs exibirem registos do falecido guitarrista no mítico concerto da banda no Estádio do Restelo, para que pudesse acompanhar os seus amigos por uma última vez ao som de “Maria”, sempre com a sua postura brincalhona e amável que tanto deixou saudades. Para terminar em grande, a banda contou com um ilustre leque de oitenta convidados para que todos juntos cantassem “A Minha Casinha”, com o óbvio destaque indo para as principais figuras do Estado português: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-ministro, António Costa.
É incerto qual será o futuro dos Xutos e Pontapés daqui para a frente, mas depois de uma noite de homenagem, de emoção, de celebração, algo nos leva a crer que esta foi a derradeira atuação da banda no Rock in Rio Lisboa e, se assim tiver sido, foi o melhor final que se poderia desejar.
Com a chuva em ateimar não dar sinais de tréguas, a frente do Palco Mundo pintava-se de coloridos impermeáveis que aguardavam ansiosamente o regresso dos The Killers a Portugal.
O grupo liderado por Brandon Flowers sempre gostou de se proclamar como sendo otimista e talvez por isso, o início da festa deu-se logo com uma explosão de confettis pelo Parque da Bela Vista, provando que tudo o que cai do céu não tem que ser necessariamente mau. Para o arranque, “The Man”, “Somebody Told Me” e “Spaceman” deixam bem claro que os The Killers estão ali para implementarem um ambiente festivo capaz chutar as condições climatéricas para canto, e não foi preciso muito para que a chuva ficasse em segundo plano.
Apesar deste concerto de The Killers ser alusivo a Wonderful Wonderful, muito pouco foi aquilo que se ouviu do quinto disco dos norte-americanos, com as exceções sendo a já mencionada de “The Man” e uma celebrada “Run For Cover”. Esta escolha no alinhamento levou a que a banda se apresentasse em jeito de best-of, escolha que certamente agradou aos muitos fãs de The Killers, que tiveram a oportunidade de ouvir os melhores êxitos de uma carreira que já ultrapassou os quinze de existência, como foram os casos de “Shot At Night”, “A Dustland Fairytale”, “Smile Like You Mean It” ou “Runaways”.
Simpático e charmoso como sempre, Brandon Flowers canta e encanta o público da Bela Vista, usando e abusando da plataforma no centro do palco que permite ao vocalista aproximar-se junto da plateia, distribuindo sorrisos e acenos no processo. Mesmo contando apenas com Flowers e Ronnie Vannucci Jr da formação dos The Killers em palco – tanto o baixista e o guitarrista não embarcaram nesta tournée – a verdade é que os novos músicos de serviço fizeram um trabalho sublime face à tarefa de catapultar o trabalho disco dos The Killers para palco, com algumas canções a ganharem toda uma nova dimensão, como sucedeu com “All These Things That I’ve Done”, com o público a cantar o verso “I got soul, but I’m not a soldier” em loop sonante, surpreendendo até o próprio Brandon Flowers perante a entrega do nosso público.
Com o clima do concerto a ser de efervescência, “When We Were Young”, que antecederia o encore, foi recebida de braços abertos, mas as verdadeiras ‘estrelas’ da noite tinham sido sabiamente reservadas para o fim, com a flamejante “Human” e a grandiosa “Mr. Brightside” a serem celebradas de forma efusiva, levando a que os The Killers levantassem então o troféu de campeões do terceiro dia do Rock in Rio Lisboa.
Depois de um concerto tão majestoso como o dos The Killers, a tarefa de o superar, ou até mesmo rivalizar, seria de relativa dificuldade. Caberia então aos The Chemical Brothers, banda seguinte a subir ao Palco Mundo, tal função. Porém, a dupla britânica de música electrónica optou antes por tornar as imediações do palco numa discoteca gigante ao ar livre, onde todos os resistentes do dia não conseguiam não arredar pé.
Com um espetacular jogo de luzes e de vídeo a guiá-los durante toda a atuação, com projeções quase a roçar o alucinogénio e robots gigantes em palco, os The Chemical Brothers revisitaram grande parte dos seus maior êxitos, como “Go”, “Block Rockin Beats”, “Hey Boy, Hey Girl” ou “Galvanize”, esta já para o fim, e até fizeram versões temas popularizados por outras bandas, como foi o caso de “Temptation” dos New Order.
Cativante de se ver e estimulante de se ouvir, os The Chemical Brothers deram o terceiro dia do Rock in Rio Lisboa como terminado em grande festim, enquadrando na perfeição perante o mote do festival.
O último dia da edição de 2018 do Rock in Rio Lisboa foi dos assuntos mais falados na semana que o antecedera: face ao empate conseguido com o Irão na fase de grupos do Mundial de Futebol da Rússia, Portugal jogaria com Uruguai no dia 30 de Junho, pelas 19h45. Face o apego que o povo português nutre para com a bola, a organização do Rock in Rio decidiu o jogo em directo em todos os palcos do recinto, ajustando então a ordem dos concertos.
Se no dia anterior, impermeáveis e galochas eram a indumentária de serviço, o caso são só mudou de figura face ao reencontro com o sol e o calor, mas também por ser dia de jogo, com camisolas, bandeiras e cachecóis alusivos à seleção espalhados por todo o recinto.
Em ocasião inédita, a música do Palco Mundo arrancou às 16h30 para acolher Hailee Steinfield, atriz que se tornou cantora e que tem corrido um pouco pelas rádios de todo o mundo com o seu hit “Capital Letters”.
Sejamos francos: a pop de Hailee Steinfield é genérica e há alturas em que chega mesmo a ser aborrecida. Todavia, ao ver o seu ar de contentamento perante uma plateia que até tinha a lição bem estudada a nível das suas canções, quase que podemos esquecer esse ponto e aproveitar o quão bonito é de se ver o lado mais humano de um artista ao comover-se perante o afecto dos fãs.
Acompanhada por uma banda e uma trupe de bailarinos, Hailee Steinfield nunca se mostrou nervosa ou insegura, embora as suas canções nunca arrisquem muito. Jogando sempre pelo seguro, com os múltiplos elogios a Portugal a caírem de bom grado pelo público, Hailee só conseguiria mesmo causar mossa com “Capital Letters” e com uma versão acústica de “Flashlight”, versão emprestada a Jessie J que, julgando pela cantoria que a acompanhou ao longo do tema, foi sem dúvida o ponto alto do breve concerto de Hailee Steinfield. Para os fãs, certamente que o concerto encheu as medidas, mas para os restantes, ficará retido na memória durante pouco tempo.
É a artista que mais vezes tocou no Rock in Rio Lisboa – já vai em nove presenças – e o público parece nunca se cansar de a ouvir e de dançar na sua companhia: tal como sempre nos habituou, Ivete Sangalo assinou um dos concertos mais celebrados desta edição do Rock in Rio Lisboa, onde a comunhão entre a artista e o público foi uma constante do início ao fim.
Num horário bem mais diurno do que lhe é costume, factor que até caiu de bom grado a Ivete Sangalo, visto que assim podia ver a cara de todos os fãs que compunham a enorme massa que se reunião nas imediações do Palco Mundo, o ‘Furacão da Baía’ começa desde cedo a impor um ambiente de festa, com “Sorte Grande”, também conhecida por “Poeira”, a ouvir-se praticamente no início, deixando logo o público na sua mão.
Poderia ter sido uma jogada bem arriscada, a de arrancar um concerto com o seu maior tema, mas Ivete Sangalo já anda há demasiado tempo por estas andanças para ter um leque de argumentos capazes se prender até os mais céticos ao seu concerto: apoiada por uma grande banda, com coros, sopros e percussões e acompanhada por uma talentosa trupe de bailarinos, Ivete canta, dança e encanta, partilhando histórias entre músicas e incentivando o público a que cante consigo em “O Doce” ou “No Groove”.
Por mais edições que passem, Ivete Sangalo consegue surpreender o Rock in Rio, e no passado sábado, a grande surpresa do concerto seria a convidada Daniela Mercury, artista que sempre inspirou Ivete Sangalo e que se junto a si em palco para que juntas cantassem “Canto da Cidade”, tema de Mercury, num momento de ternura, cumplicidade e respeito mútuo por duas das mais bem-sucedidas artistas brasileiras em Portugal.
Mesmo com pouco tempo de atuação, Ivete Sangalo veio, chegou e triunfou, num concerto eletrizante onde todas as suas músicas conseguiram suscitar a frase preferida da artista: “tirar o pé do chão”. Poucos foram aqueles que não obedeceram a esta ordem de Ivete, mas quando se tem uma artista em palco a divertir-se tanto ou mais do que o próprio público, torna-se difícil em não fazê-lo.
Após o desaire da seleção portuguesa frente ao Uruguai, o clima de desilusão era notório, mas Jessie J rapidamente levou a que o resultado menos conseguido por Portugal fossem águas passadas. Apesar de trazer às costas a bandeira do nosso país, é mais do que óbvio que esta não tem qualquer tipo de conotação para com o futebol, mas sim pelo sincero afeto que Jessie J nutre por Portugal, ou não fôssemos nós um público que sempre a receber de braços bem abertos.
Com um enorme coração a tomar posição central no palco, Jessie J até poderia ter vindo à Bela Vista com o objetivo único de espalhar amor e carinho. Julgando pela sinceridade, sorriso franco, discursos motivacionais e palavras de inspiração, através dos quais Jessie mostrava que por de trás da sua persona de ‘diva da pop’ esconde-se um belíssimo ser humano que deseja, do fundo do seu coração honesto, o melhor para os seus fãs, estes não se importariam nada em contar apenas com a presença de Jessie J para enriquecer as suas vidas.
Mas não. Jessie J veio para dar um concerto, e nesse sentido, arrasou por completo: de “Do It Like a Dude”, “Domino” e “Nobody’s Perfect” meteu o Parque da Bela Vista a cantar consigo, chegando quase a haver momentos em que a cantoria afinada do público ameaçasse sobrepor-se pela voz da ex-jurada do The Voice britânico. Esta tarefa não seria fácil, realce-se, ou não tivesse Jessie J um dos melhores vozeirões no atual panorama da música pop, tão bem demonstrado no mini set acústico que contaria com “Flashlight”, “Thunder”, “Stand Up” e “Who We Are”, com o público não só a apoiá-la, tudo de forma bem bonita e em coro, mas também a guiá-la através de milhares de telemóveis sobre o efeito de lanternas.
Com o fim a aproximar-se a passos largos, o tom emotivo alterna para celebrativo ao som de “Mama Knows Best”, “Bang Bang” e “Price Tag”, single que a catapultou para as luzes da ribalta e que daria como terminando mais uma celebrada passagem de Jessie J por Portugal que, julgando pela calorosa receção portuguesa, estará longe de ser a última.
Nos dias que se passaram depois do Rock in Rio Lisboa, foi difícil encontrar um consenso perante o concerto de Katy Perry: muitos odiaram, outros ficaram indiferentes e houve quem o adorasse. Caímos para este último grupo, não só pelo facto de se ter em Katy Perry um assumido ‘guilty pleasure’ mas por ter feito um espetáculo de proporções nunca antes vistas pelo Parque da Bela Vista.
Mas vamos por partes. Katy Perry é um ícone da pop, detentora de uma carreira mediática e com um repertório repleto de êxitos que torna difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido um tema da cantora. As canções de Perry ficam no ouvido durante muito mais tempo do que se previa – apesar do material ser simples e paupérrimo, é sempre sonante e cativante – sendo trocadas pelo próximo hit passageiro que a música pop produz. Ao fim ao cabo, Katy Perry acaba por ser um ‘produto’ de uma empresa com o propósito único de entreter a clientela. E foi isso que Katy Perry fez de forma exemplar no Rock in Rio Lisboa: um espetáculo de entretenimento constante.
Sete foram os anos que distanciaram Katy Perry do público português, e com esta nova tournée em prol de Witness, o mais recente disco da cantora, foi o melhor cartão-de-visita que os fãs poderiam ter pedido, com praticamente todos os seus êxitos a subirem a palco. Separado através de cinco ‘atos’, cada um acompanhado por diferentes mudas de roupa e de cenário, Katy Perry começa cedo a disparar o seu arsenal de hits, com “Dark Horse” e “Chained To The Rhythm” a serem os primeiros.
Momentos depois viriam os clássicos, reminiscentes dos primeiros passos na carreira de Perry: a identificável “Teenage Dream”, um mashup de “Last Friday Night (T.G.I.F.)” e “Hot N Cold” que contou com um top onde brilhavam as palavras ‘hot’ e ‘cold’ e que levou Katy a perguntar ao público como se diziam as palavras que figuram a inconfundível canção em português, “California Gurls” e a muito celebrada “I Kissed A Girl”, com Katy Perry a carregar nos ombros a bandeira gay, gentilmente cedida por alguém do público.
Os fãs da linha da frente, para além de se encontrarem num estado de efusivo delírio, tinham sempre algo de novo a acontecer em palco com que se entreter: flamingos ou robôs gigantes, o famoso Left Shark, bailarinas decoradas consoante o tema de cada ato, projeções hipnotizantes nos ecrãs e, claro, uma Katy Perry que muito se esmerou para oferecer aos fãs o concerto de uma vida. É isto que se exige a uma estrela da pop: a capacidade de entreter todos os espectadores com todos os adereços que passam pelo palco, mas sem nunca deixar a própria de ser o centro das atenções.
Porém, e aqui julgamos que se agravou a fatiga de uma extensa tournée europeia, houve momentos em que a voz de Katy Perry acabariam de pecar, como numa versão acústica de “Wide Awake” cuja intenção de criar uma faceta emotiva foi completamente ao lado. Todavia, canções como “E.T.”, esta com direito à figuração de um alien gigante em palco que mais se assemelhava ao Pokémon Beedrill se este fosse preto e branco, “Bon Appétit” ou “Part of Me” eram aquelas onde a faísca de divertimento rapidamente se tornava em explosões de alegria e celebração, como se pode ver perto do fim com “Swish Swish” e “Roar”; durante o concerto, Katy Perry diria que estava ali para tocar todas as canções que os seus fãs ansiavam há muito por ouvir, e é inquestionável que o alinhamento não tenha sido certeiro.
Já para o encore, a inevitável “Firework” daria noite como terminada, com pequenos foguetes a serem soltos em cima do palco e a fecharem o concerto de Katy Perry com chave de ouro. Ao contrário do que se registou ao longo de todos os dias do Rock in Rio Lisboa, onde um espetáculo de fogo-de-artifício antecedia o quarto concerto do Palco Mundo, o mesmo não aconteceu neste dia 30. Se há algum motivo concreto para tal escolha, não sabemos, mas vamos crer acreditar que tal se tratou porque o verdadeiro da noite foi indiscutivelmente o de Katy Perry.
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segunda-feira, 09 julho 2018