Entrevista Caspian - Amplifest 2016
Os norte-americanos Caspian já há muito que são uma das mais populares e entusiasmantes bandas do movimento post-rock. Aproveitando a mais recente passagem do grupo pelo nosso país, no âmbito do Amplifest, falamos com o guitarrista Erin Burke-Moran sobre o último álbum, a actual digressão ou até obstáculos ultrapassados.
Em primeiro lugar, deixem-me dar os parabéns pelo vosso concerto, foi fantástico!
Erin: Muito obrigado!
Noto que as vossas actuações são muito emotivas, é esse o objectivo? Fazer de cada concerto uma intensa experiência catártica?
Erin: Sabes, acho que é exactamente isso. Sentimos profundamente as coisas. Essa intensidade ajuda-nos a livrar de sentimentos mais negativos, por isso é que fazemos isto.
O vosso concerto teve igualmente uma forte presença de percussão, no final. Trata-se de uma tentativa de diversificar o vosso som e, de certa forma, fugirem à etiqueta do post-rock?
Erin: Questão interessante. Efectivamente, estamos sempre à procura da diversidade, algo que nos ajude a destacar e que nos torne diferentes. No entanto, não forçamos nada, tudo sai naturalmente. Fechamos sempre o concerto com essa jam de percussão e é muito divertido, do género: conseguimos chegar até ao fim, agora podemos ter este momento mais descontraído. É algo que soa bem.
Se resulta, porquê parar, certo? Não há razão que justifique limitar a vossa criatividade só para se enquadrarem num determinado estilo.
Erin: Exactamente. Isso é importante para nós. Faz parte da vida encontrares a tua cena, algo que te motive e que se torne num processo natural para ti.
Têm dado muitos concertos de promoção ao vosso álbum mais recente, o “Dust and Disquiet”. Como tem corrido a digressão, até agora?
Erin: Tem sido uma experiência muito positiva. Como disseste, desde que o álbum foi editado, temos tocado muito ao vivo e sinto que estamos a criar uma ligação com as pessoas, o que é muito bom. Tem sido gratificante para nós, não haja dúvida.
“Nunca consideramos abandonar o que tínhamos construído, isso não foi uma opção”.
Falando do álbum em si, foi o primeiro que gravaram sem o Chris (baixista, falecido em 2013) …
Erin: É verdade… foi muito duro.
Era precisamente nesse tema que gostaria de me focar: é inegável que o processo de criação teve um lado bastante negro, mas dirias que funcionou igualmente como uma espécie de terapia?
Erin: sim, foi precisamente por isso que decidimos gravá-lo, tínhamos de nos recompor e enfrentar os nossos demónios, pegar na miséria e transformá-la em algo positivo para podermos seguir com as nossas vidas.
Com um evento tão traumático que é a morte de um elemento da banda e, acima de tudo, um amigo próximo, chegaram a pensar, antes de decidirem continuar activos, colocar um ponto final na vossa carreira? Sentiram, em determinado momento, que esta viagem tinha possivelmente chegado ao fim?
Erin: Não, todos sentíamos que tínhamos mais para conquistar. Mesmo depois de tudo aquilo pelo qual passamos, sabíamos que a decisão correcta era continuar. Eu não consigo simplesmente pousar a guitarra – nenhum de nós consegue arrumar o nosso instrumento, é o que nos faz levantar todas as manhãs, o que nos motiva. Nunca consideramos abandonar o que tínhamos construído, isso não foi uma opção.
Para encerrar o assunto - que sei que é particularmente delicado – estás confiante, portanto, que o Chris estaria orgulhoso daquilo que alcançaram com este disco?
Erin: Acredito que sim, que estaria orgulhoso. Pessoalmente sempre me relacionei bem com o Chris, era um grande amigo. Este é um assunto que por vezes discutimos, outras vezes não, mas é como disse há pouco, escrevemos o disco para conseguirmos ultrapassar essa enorme perda.
Falando agora um pouco do Amplifest: o que achas do festival? Há alguma banda que gostavas particularmente de ver?
Erin: Ora bem, quando descobri que os Kayo Dot faziam parte do cartaz, fiquei logo com vontade de os ver, mas tocaram ontem, por isso não os apanhei. Estou muito entusiasmado para ver os Neurosis, no entanto…
Sabias que é a primeira vez deles em Portugal?
Erin: A sério? É mesmo a primeira vez deles em Portugal? Uau, não acredito!!
È verdade. Primeiro, tivemos o Scott Kelly a actuar a solo por duas vezes, mas só este ano, depois de muito trabalho árduo, é que foi possível ter cá os Neurosis.
Erin: Meu, não sabia disso, é muito fixe. Mas, sim, quero imenso ver os Neurosis. Estamos a falar de uma banda lendária e que influenciou muita gente, por isso é uma honra poder partilhar o mesmo palco que eles, vai ser altamente.
Pode-se afirmar, nesse caso, que estar presente no Amplifest é algo muito especial para vocês…
Erin: Completamente, acredita. Sabes, tudo isto é muito caótico, pois viajamos imenso, incluindo hoje, onde só chegamos duas horas antes de subirmos ao palco, e esse ritmo é desgastante. No entanto, poder fazer parte desta experiência e tocar no mesmo palco que os Neurosis é fantástico e faz com que tudo valha a pena.
É verdade, e ainda por cima sinto que se dão muito bem com o público português…
Erin: Sem dúvida. Já estivemos aqui algumas vezes e é sempre excelente. Recordo-me da nossa estreia e de ficarmos mesmo contentes com a reacção do público. Na verdade, aqui em Portugal, isso nunca muda, sentimo-nos sempre muito acarinhados, as pessoas aparecem e curtem a nossa cena. É mesmo uma lufada de ar fresco comparativamente à América.
Quanto a planos para o futuro, o que nos podes dizer sobre isso?
Erin: bom, temos uma digressão em breve pelos Estados Unidos, onde vamos tocar ao lado dos The Appleseed Cast, que são uma grande influência para nós. Depois disso, acho que vamos parar um pouco, até porque sentimos que o ciclo de promoção a este disco está mesmo a chegar ao fim. Agora vamos descansar e preparar-nos para a próxima etapa.
> Podes ver aqui a reportagem completa ao Amplifest 2016!
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sexta-feira, 22 novembro 2024